domingo, abril 30, 2006

Marluquices


Foto:Isah

Hoje eu enlouqueci
era a minha última chance.
Então escrevi entrelinhas
e virei uma licença poética.
Quem quiser saber sobre mim
que abra uma garrafa de vinho
ou um livro da Clarice.
Quem quiser me encontrar
que aceite o DEVANEIO,
A INSENSATEZ e A LUXÚRIA.
Quem quiser saber por quê...

Já me perdeu de vista!

sábado, abril 29, 2006

Mundo Interior


Foto: Kristinna

Mundo interior?
Eu não.
Tenho um planetinha que ainda
nem foi descoberto pelo meu mapa astral...


(E se às vezes eu sinto falta até das tardes entulhadas de som das cigarras de Brasília, ontem eu agradeci imensamente por morar aqui e ter amigas como a Jú Varga, que abarrotam minha vida de gargalhadas daquelas bem satisfeitas que fazem a gente se agachar de tanto rir...E, segundo ela, a fórmula mágica é: 10 latinhas de cerveja, 3 de coca-cola e algumas doses roubadas(!) de Bayleis...Esqueceu, é claro, dos 3 pães na chapa e a bola de queijo com maionese. Ainda teve o picolé na Praça Mauá (abafa o caso).Resultado: Chegar em casa às 9:30h da manhã, DOIS QUILOS E MEIO mais gordinha, todas as endorfinas e serotoninas em atividade e o mundo inteiro acordar e a gente dormir...Pro dia nascer feliz).

quinta-feira, abril 27, 2006

Olá Candanguim!


(Esta carta foi escrita aos amigos de Brasília em Setembro de 2003. Hoje eu acordei de madrugada com tanta saudade de todos que resolvi publicá-la aqui.)

Hoje eu acordei bem cedinho pra escrever pra vocês. Saudade também interrompe o sono da gente. O pior é que nem vai dar praia hoje_ a meteorologia tem acertado na mosca, ultimamente. Aqui a gente tá sempre ligado na meteorologia. E eu aprendi a identificar os ventos. Sei que quando é o "sudoeste" é porque vem chuva. E fico na praia toda descabelada com os primeiros sopros do sudoeste dizendo cheia de propriedade: " É... o tempo vai virar!". Mas "sudoeste" eu digo assim mesmo, não digo "sudoexxxte". E aqui pensam que eu sou baiana...Eu reclamo: "Eu disse Brasília, não Bahia!" .

E eu que tenho estado tão seduzível...E dia desses, sentada num degrau enquanto conversava com um poeta, perguntei a ele: " Você gosta de mim?" e ele todo comovido sentou ao meu lado e me abraçou forte só pra responder que sim. Não que eu esteja carente, mas ser gostável é uma das coisas que mesmo quando se sabe é bom ouvir a frase toda dita em LETRAS MAÍSUCULAS. E ele disse assim: "CLARO QUE EU GOSTO DE VOCÊ!!!" com exclamação e letra maiúscula... E agora eu tenho uma certa simpatia por ele e tenho sido digna de alguns de seus poemas. E olho pra ele sempre orgulhosa de tanta "dignidade poética" que ele me deu. Isso me deixa tão bonita! E porque eu tenho uma amiga que se chama Lua, tenho sido íntima da Lua e deixado muita gente cheia de inveja com essa coisa de ter uma Lua particular. "Puxa, ela é amiga da Lua!", eles dizem. Isso me dá um certo romantismo que complementa a minha dignidade poética. E faz tempo que eu não choro chôro sentido... Nem tanto tempo assim, mas parece que faz tempo. É que vivo tudo tão depressa...

E ontem eu amanheci numa casa cercada de árvores que falam e fiquei observando os macaquinhos cheia de livros de poemas no colo. E um dos livros eu abracei quando terminei de ler porque fiquei toda comovida com ele: era do Manoel de Barros que tem o dom de me fazer ficar agarrada com o livro dele sem entender como é que uma rã com a barriguinha colada na pedra pode ser tão silenciosamente comovente... Dá até inveja de quem escreve assim.

E eu lembro dos amigos de Brasília. E de algumas ruas retamente desertas que Brasília tem aos domingos... Fiquei achando bom estar morando aqui. Ruim mesmo é o deserto fazendo curvas dentro de mim que os amigos de Brasília_ estando em Brasília e eu estando aqui_ me provocam. São poucos os que escrevem longamente, mas quando escrevem, me dão mais dignidade poética do que já tenho. E quando algum amigo novo me visita, aponto o dedo para cada foto do meu mural e ponho a outra mão no peito enquanto digo: " Estes são os meus amigos de lá..." E quase não consigo terminar a frase sem dar uma engasgada na saudade... E fico com uma cara reticente que eu não explicar como é. Imaginem uma cara reticente: :-.... Manoel de Barros saberia explicá-la...

E eu sempre tomo umas cervejas depois da aula com os meus amigos e tenho me divertido e estado leve, leve. Me deixo gargalhar das coisas mais pueris. E aprendi a gostar tanto de "Itaipava" ( uma cerveja daqui ) que quando tomo Skol nem acho tão bom!!! E a tal da "nova Schin", convenhamos, continua a mesma merda! Quem ainda não experimentou, nem precisa se dar ao trabalho: já fiz isso por vocês e garanto que não vale a pena. E o meu novo "Arleudo" (garçon predileto) se chama "Carlinhos"... (Alguém tem notícias do Arleudo?! Que saudade dele!!!) E o meu novo " Beirute" se chama "Baixo Gávea" e "Farani".E o "Feijão da Ed" daqui, não mata minha fome com tanta "honestidade" como o "Feijão de Bandido" daí. E os meus antigos amigos de Brasília se chamam "insubstituíveis", porque os daqui eu chamo de "novos amigos".

Se soubessem como sinto a falta de vocês, se envergonhariam de não terem se mudado pra cá comigo. Coisa chata é essa de que a escolha de uma alternativa implica no abandono de outra. E eu posso fazer aqui tudo que vocês ficam esperando pra fazer nas férias, mas com a "sem-graceza" de não tê-los por perto desfrutando disso tudo comigo...

Vou indo antes que eu assuma um tom lamentoso. Hoje eu nem acordei triste! E tem café ficando pronto. Hoje não vai dar praia. Itaipava é boa e barata; a nova Schin continua a mesma merda. Feijão da Ed não é tão bom porque não é "Feijão de Bandido". Saudade interrompe o sono. Brasília não é Bahia. Cheia de dignidade poética. Amiga íntima da Lua. Apenas novos amigos. Saudades eu tenho sempre... SIM, EU GOSTO MUUUUUUITO DE VOCÊS........ INSUBSTITUÍVEIS...

quarta-feira, abril 26, 2006

Música



Mais Simples
(José Miguel Wisnik)

É sobre-humano amar
Cê sabe muito bem
É sobre-humano amar, sentir,
Doer, gozar
Ser feliz

Vê que sou eu quem te diz
Não fique triste assim
É soberano e está em ti querer até
Muito mais

A vida leva e traz
A vida faz e refaz
Será que quer achar
Sua expressão mais simples?

Mas deixa tudo e me chama
Eu gosto de te ter
Como se já não fosse a coisa mais humana
Esquecer

É sobre-humano viver
E como não seria
Sinto que fiz essa canção em parceria
Com você

A vida leva e traz
A vida faz e refaz
Será que quer achar
Sua expressão mais simples?

*************************************************************************************

Seu violão, a minha bateria fraca, nossos órgãos...

"Sem música, a vida seria um erro."
(Nietzsche)

terça-feira, abril 25, 2006

A pedidos...


EU NÃO SEI
FAZER POESIA
MAS
EU SEI
CABER (NESTE) VERSO...
(Na foto: Mel, Eu e minha Jujuzinha: enloucrescidas de marluquices...)

Deixando ir...


Foto:Joana Muge

PARA MINHA KAKÁ.........


De repente é noite e você está tão só...O meu dia foi lindo, mas eu sei que o seu te doeu até agora e eu não posso amenizar nada com palavras que pretendam ser abraços porque elas te falariam obviedades sobre tempo, paciência e espera_ quase uma crueldade quando o que a gente quer é uma premonição, uma certeza, alguma frase cheia de sabedoria que norteie nossa vida...
De repente a semana está começando de novo, mas só se passaram alguns dias e todos foram tão abarrotados de ausência e medo e confusão interna, de uma busca quase estéril de se sentir melhor ,de fazer coisas por si mesma....E o buraco insistindo no meio de dentro do corpo, o abismo gelado, o choro engrossado de escuridão e descrença...
E eu te vejo encolhida num canto, o desespero nos olhos, o peito abafado, a vontade do grito e a falta de fôlego...E eu não sei a coisa mais bonita que eu poderia te escrever....Sei que já vi borboletas voarem faltando um pedaço da asa e rosas incríveis desabrocharem num copo com água: e é disso que me nutro pra acreditar que a meteorologia nem sempre está certa e que dias tão cinzentos podem ser prefácios de noites com sol...Sei que se eu estivesse aí,certamente estaríamos juntas no cantinho mais confortável de qualquer lugar escolhido por você e eu te daria um abraço com tanto encaixe e amor que você, por pelo menos alguns minutos, encontraria
“ um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”...
E mesmo que o seu corpo todo doa numa súplica e que “ele” seja toda sua ferida... Meu amor, eu espero ,sinceramente, que o pedacinho que falta na tua asa, não te impeça o vôo...

( Minha Neguinha,minha flor, o que eu tenho pra te dar é colo, não conselho...E todo amor que transborda em mim, vai ser seu até que nada mais te doa...)

segunda-feira, abril 24, 2006

"E quando da vida se leva só a história, não viveu..."

Foto:Elizete Nascimento

_ Eu vou morar em você...
_ Em mim? Mas essa casa precisa de tantas reformas!
_ Mas enquanto você dormia eu fiz um “puxadinho” aí dentro!
_ E a gente vai viver de quê?
_ De arredondar palavras...

( Mais tarde, deitada em cima das costas dele):

_ O que você está fazendo aí em cima, Marlarida???
_ Estou tomando sol na laje!


(Eu vou morar em você com toda a minha intensidade até essa casa se expandir e virar um país, uma cidade).

sexta-feira, abril 21, 2006

" Carta para alguém bem perto"


Foto:Isah

Ainda estou absorvendo seu último texto pra mim, ainda estou tecendo mentalmente o seu; digo mentalmente no sentido de refletir sobre cada palavra que você me deu... Porque quero te escrever algo despretensioso e doce como são as coisas vindas do fundo do coração.Quero cometer delicadezas como bordar a palavra AMOR nos travesseiros com os fios mais dourados do meu cabelo...

Estou com saudades de algumas coisas. Saudades de você, de escrever pra você no meio daquela furiosa inspiração,saudades das palavras que nunca usei por não conhecê-las ainda. Sei que tenho lido e lido e lido, mas nada de novo tem se revelado a mim, por enquanto.Sinto saudades da insônia produtiva, do domingo enclausurada com uma garrafa de vinho e mil coisas pra passar pro papel. Saudades das frases de efeito, do efeito do vazio que fica quando se esvai em palavras intermináveis e borbulhantes que se envia imediatamente como que para se livrar daquilo tudo que foi violentamente sentido de uma só vez. Uma coisa de cada vez não funciona comigo: tudo ao mesmo tempo é que faz vibrar. Eu só consigo sussurrar depois do grito. E pra me sentir viva, eu tenho pequenas mortes diárias.

O que tenho pra te escrever já está pronto, o que falta são asas impermeáveis que possam suportar o sal do mar_ é que é na praia que me vêem as frases que compõe meus mais nobres sentimentos. E o que sinto, quando for até você, chegará banhado de sol, brotado do solo do peito.

Hoje é feriado aqui e o dia está lindo: em dia de praia o sol escorrega pelas paredes da página em branco manchando tudo de azul...

Te escrevo porque nesses últimos dias meu peito latejou de amor por você. E fiquei contemplando seus passarinhos_ paradoxalmente livres dentro dos seus poemas.

O que eu tenho pra contar é pouco: nos feriados as coisas correm distraidamente e falta motivo pra refletir sobre elas. E a gente fica querendo lamber o sol e pular onda e beber cerveja, enfim, viver tudo com um vestido florido bem levinho que é pra ser bem leve mesmo e poder dançar com o vento com aquela cara boa bem corada e os cabelos desgrenhados denunciando a descontração. Quando chove, bem, quando chove a gente aproveita pra fertilizar alguma área da nossa vida. E muitas vezes quase me apaixonei, mas como não desenrolou, o sentimento ainda está à espera... Às vezes fico triste e, logo depois, feliz. Nessa oscilação, no meio desses extremos, ás vezes só um vácuo, outras um grande fio embaraçado. Clarice eu releio sempre e bem devagar que é pra não terminar o livro. Música eu ouço as do rádio que é pra ter a surpresa da próxima. Continuo sensível, sensível e chorando nas despedidas. Têm dias que tudo que eu mais queria era estar em Brasília. Têm dias que tudo que eu mais queria é ter o que já tenho_ aí fica bem mais fácil. Têm também aqueles dias que são só dias e que não há qualquer opinião pra se formar sobre eles... têm vidas que se parecem muito com esses dias.

No mais, hoje eu acordei tão bonita que me vesti de branco. No mais, eu sinto você presente numa doce lembrança de abraço, afago, amor, poesia.
No mais... não há mais.
E você, como está?

quinta-feira, abril 20, 2006

E por falar em saudade...


Foto: Kristinna

Então ele veio me falar em saudade...E usou os superlativos que eu usava. Veio falar em saudade para mim que o esperei tanto enquanto ele se fechava em círculo como uma serpente que engoliu o próprio rabo; enquanto tecia em torno de si uma teia com fios de aço.
Para esquecê-lo tive que parar de falar em víceras, em hormônios safados, em faíscas nos olhos, em estrelas no céu da boca....
Tive que silenciar até o oco do sentimento, da expectativa.E ele veio, depois de tanto tempo, me falar em saudade...
Não que tivesse sido fria a nossa história: ardia como bola de fogo, mas devastava nossas florestas internas, enquanto eu sonhava com águas litorâneas e uterinas.

(Por diversos dias eu quis tê-lo e não o tive...Hoje eu quero da vida exatamente o que ela tem me dado:
mesmo que isso inclua saudade...e ausência).



Clareza 2

Porque,
às vezes,
o que chamamos de AMOR
não passa de um amontoado
de coisas velhas
que não
conseguimos
jogar fora...

Foto: Nelson Faria

quarta-feira, abril 19, 2006

Celebração


Foto:Graça

E é exatamente essa atmosfera úmida e fria que me dá vontade de falar alguma coisa. Mas o quê???Chove gordamente lá fora, e no entanto, Meu Deus, a vida é tão boa. E foi essa sensação que me fez um dia escrever uma carta basicamente assim:

(...)Que diariamente eu chego a simples conclusão de que a vida é tão maravilhosa porque também é feita de colos, de feridas que cicatrizam,de amigos que celebram ou choram junto,de café coado com coador de pano, de gente que pega ônibus ou faz caminhada pela manhã, de quem planta o que se pode comer, de "Seus Saluns" que presenteiam seus vizinhos com laranjas que ele mesmo colheu e que alimenta seus gatos com comida de gente. Que a vida é feita de algumas pessoas que direcionam todo o seu potencial criativo para melhorar a qualidade de vida de gente que eles nem conhecem. Que é feita de e-mails que chegam recheados de saudade e de cartas extraviadas solitárias numa gaveta de um correio qualquer.De muros e pontes e cais. De aviões que suprimem distâncias e de barcos que chegam. De bicicletas que atravessam cidades. De redes que balançam gente. De rostos que recebem beijos. De bocas que beijam. De mãos que se dão. Que existem pessoas altamente gostáveis, altamente rabugentas,altamente generosas, pessoas distraídas que perdem as coisas, mal-educadas que buzinam sem necessidade, pessoas conectadas que se preocupam com o lixo, pessoas apaixonadas e apaixonantes, possíveis e impossíveis, pessoas que se entregam, pessoas que se privam, pessoas que machucam, pessoas que chegam pra curar; desencadeadores de poemas, de sorrisos,de lições de vida que ficarão guardadas para sempre...

A vida é tão maravilhosa porque ela nos compensa com ela mesma.

(Bons ventos sopram por aqui. Nada de espetacular, nem específico, mas ando em boa onda de otimismo, cheia de uma alegria sincera por dentro,toda acolhedora,com uma vontade imensa de tomar conta do mundo...É claro que me torno mais piegas nessas fases, mas se os meus melhores textos precisarem doer, espero ser medíocre por um bom e longo tempo até retomar o fôlego necessário pra mergulhar de novo nas minhas questões mais existenciais_pois a leveza não é bem uma característica da minha personalidade, mas um presente que me é dado vezenquando...Aceito e agradeço.)

E viva a caipirinha! (Hehehehehe........brincadeirinha!!!)

terça-feira, abril 18, 2006

Continuação


Foto: Vitor Shalom

Desconfortável quando você se espreme toda pra tentar escrever, fica cheia de vontade de vestir a página nua,tem cenas e diálogos inéditos pra contar e não consegue passar pro papel nem com todo o seu contorcionismo. Aí você escolhe uma foto linda dessas, fica achando que ela merece o seu melhor texto e quando pensa em alguma coisa de impacto pra casar com a foto vem a seguinte frase:

HOJE É TERÇA-FEIRA E APENAS CHOVE...


P.S.:
Meus leitores,minhas DIVAS,
Obrigada pelos comentáros, pelos elogios, pelas sugestões, pela divulgação dos meus textos, enfim, obrigada por participarem tão intensamente desse blog,vocês são o que há de mais essencial aqui.
Elenita, Su, Bela, Jordana, Thaís, Elisa,Henrique,Samanta,Felipe, Simone, Jujú, Jan,Camilla,Mariana,Pablo, Mário César,Nell, Dé,Bruno, Alex...etc, etc,etc...

Vcs são meu combustível!Ainda não aprendi a linkar outros blogs aqui, talvez eu tenha que mudar o modelo, mas em breve eu resolvo isto.

Só pra descontrair...


Foto: Marleninha

_Quando você me olha, o que vê?
_Vejo uma mulher linda, intensa, cheia de vida, inteligente, culta, sensual...
_Hum...
_E você, quando olha pra mim,vê o quê?
_O inimigo número UM do futuro pai dos meus dois filhos!
(Brincadeirinha...)
;-)

segunda-feira, abril 17, 2006

sábado, abril 15, 2006

Sábado de Aleluia


Foto: Carlos Neto

Escuta, Judas.
Antes que você parta pro teu baile.
A morte nos absorve inteiramente.
Tudo é aconchego árido.
Cheiro eterno de Proderm.
Mesa posta, e as garras da vontade.
A gana de procurar um por um
e pronunciar o escândalo.
Falar sem ser ouvida.
Desfraldar pendengas: te desejo.
Indiferença fanática ao ainda não.


(Ana Cristina César_” A Teus Pés” )


Novamente em paz...
Sem os resquícios dos ecos do teu cheiro, sem a cor da tua voz tatuada na partitura dos meus desejos.
Tudo que ouço de ti é oco e nada mais recende em mim naquela cor avermelhada que me arrepiava inteira e me deixava insone.
Novamente em paz, sem saudade alguma do sorriso que você plantava no meu rosto ou daquela cara de choro que ficava quando dizia que não viria inaugurar comigo aquele dia.
Estou em paz, sem querer você, numa relação intensa de compromisso com a alegria,tomando banhos demorados pra apagar do meu corpo, sem ternura, o restinho das suas digitais.
Nada me afaga mais do que o cuidado que tenho tido comigo, nada me alegra mais do que o tempo todo que me sobra e que antes eu guardava pra esperar por você... em vão.
Sem ansiedades.
Retirei do pronome a posse e a mania de ser proprietária.
Nada que vem de você me comove, excita ou machuca.
Estou em paz...novamente.

sexta-feira, abril 14, 2006

Eu espero...



Foto: Miguel

Eu espero pelo dia em que a tecnologia transforme pensamentos em coisas imediatamente viáveis e que numa espécie de mágica as distâncias se encurtem e que simplesmente a gente possa fechar os olhos e, num átimo de segundo, estar abraçado a quem se deseja ou dançando de olhos fechados naquele lugar tão nosso onde foram tecidas nossas histórias mais reais.
Espero pelo dia em que a palavra me faça companhia como uma pessoa que conversa e ouve e retruca e silencia e diz ao contrário desdizendo o próprio eco do que proferi.
Espero que a gente transforme a própria vida mudando as vírgulas do texto, acrescentando advérbios, encontrando sinônimos mais adequados e adjetivos tão positivos que nos façam acreditar que somos essa explosão luminosa de cores e brilho. Espero que a nossa boca cuspa gliter! E que os olhos cintilem e espelhem cristalinamente de tal forma, que a nossa imagem refletida no outro seja clara e melhorada e a gente saiba a hora exata de consertar o sorriso.
Espero que as mudanças sejam aceitas e que, por serem inevitáveis, sejam conscientes e eficazes, e que movimentos sejam feitos pra se melhorar ao redor além de dentro, que o outro seja não só uma parte, mas uma extensão e que possamos cuidar nele da mesma ferida que curamos em nós quando dói.
Espero pelo bom ouvinte, pelo meu bom ouvido, pela expressão de confiança que desata o nó do medo e acalma e acalenta.
Espero que meus olhos sejam, inclusive, colo prum desconhecido qualquer que olhei de relance por aí se for disto que ele estiver precisando. E que a minha vida seja um exemplo de fluidez e totalidade e de uma vitória sobre a batalha contra qualquer espécie de preconceito que, secretamente, talvez, eu ainda esteja cultivando contra mim, contra o outro.
Espero que a falta de assunto não me cale e que a vontade de me comunicar seja o próprio motivo pra vir aqui e escrever: numa esperança de tocar, numa despretensão de tocar, numa transparência de dizer pelo simples fato de tentar e, às vezes, conseguir fazê-lo. Porque quem vive uma história de amor irremediável com a literatura e aprendeu a relatar dias, dores, orgasmos, saudades e angústias, não tem espaço suficiente dentro de si para trancafiar isto e nem deve_ se alguém além de mim ainda vem aqui para ler o que eu tenho a dizer...é porque faz sentido.

Espero ainda que Chico Buarque, Mia Couto e Manoel de Barros nunca morram.E que todos vcs tenham, brevemente, as maiores alegrias que jamais imaginaram ter.E que se já foram machucados, que tenham ainda muito conforto emocional, que sejam muito amados por várias pessoas, que possam confiar plenamente na vida, que não manchem seus corações com rancores passados. E que não procurem artifícios pra embotar as próprias emoções quando tudo doer agudamente porque isso também faz parte do processo, e é tão precioso quanto o que nos alegra.Eu espero que vcs sejam ótimas companhias pra vcs mesmos, que se sintam à vontade dentro do próprio corpo, esse espaço sagrado, e que cuidem bem dele...Espero que a vida seja boa com vcs e que quando tudo estiver muito difícil, que vcs encontrem as forças necessárias pra prosseguir sem hesitação e que nenhuma angústia seja vivida em vão. Espero que vcs tenham vários momentos de entusiasmos (que em grego significa: ter um deus dentro)...

Eu espero......mas se preciso for, vou ao encontro.

quinta-feira, abril 13, 2006

Felicidade



"Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior que doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos querem consolar, aceitar pêsames por uma porção da alma que nem chegou a falecer."

(Mia Couto_"Caminho", 2000)

_ De onde vem esse sorrisão, moça?
_De um jeito meio rebelde que eu arranjei de desobedecer a tristeza...
_E funciona?
_A minha segunda resposta está na sua primeira pergunta.

quarta-feira, abril 12, 2006

Dia Neutro

Foto: Yuri F. Messas


Sempre achei as quartas-feiras librianas_dia neutro em que a preguiça da segunda já se dissipou e em que temos a impressão de que a terça-feira foi engolida.
Elas ficam bem no meio dos dias úteis, não são o prefácio do final-de-semana como as quintas nem vestem a euforia das sextas, mas são alegres de futebol e gente passional nas ruas.
São elas que geralmente guardam as chegadas das frentes frias ou do estio: pelo clima da quarta a gente calcula se no sábado estará na praia ou verá um filme debaixo do edredom.
Não se chora nas manhãs de quarta, não se abandona ninguém, não se é abandonado.
Elas são feitas de espera e rotina.
São dias sem data.
São como uma ponte em que se atravessa a semana de um início para o outro...

terça-feira, abril 11, 2006

Vida Real

Foto: Felipe Pierre

A vida real, muitas vezes, nos é apresentada pulsante,
sem maquiagem, com as veias todas à mostra:
o que pode ser desagradável de se ver
ou emocionante como um parto.

segunda-feira, abril 10, 2006

Problemas Técnicos


Foto Ana Alexandrino

"Formiga é um ser tão pequeno que não aguenta nem
neblina. Bernardo me ensinou: Para infantilizar formi-
gas é só pingar um pouquinho de água no coração delas.
Achei fácil".
(Manoel de Barros_ "Livro Sobre Nada")

Meu computador pifou e, como a maioria dos meus textos são escritos em casa e aos finais-de-semana (madrugadas à fora) , estou impossibilitada de atualizar com frequência este blog...

Bem, aceito a doação de um monitor!
Espero poder resolver logo este problema.
Boa semana a todos!

quinta-feira, abril 06, 2006

Futuros Amantes, quiçá...

Foto: LGomes

Pras horas tristes ou incertas
Pra quando você quiser vestir a página nua com simplicidade e não ser formal, apenas doce.
Pra quando você quiser ser o meu poeta e eu puder ser a poesia úmida e desorientada na sua cama com seu tato firme de amante.
Porque quando você some eu também não apareço e podemos nos encontrar e nos entregar nesse lugar algum que é sempre perto.
Porque você me faz conhecer uma cidade que eu nunca apontei com dedo no mapa, só por saber que a história linda que você tem pra contar é a mesma que eu tenho pra viver...

(Texto republicado)

quarta-feira, abril 05, 2006

Mia Couto

Foto: Carlos Martins

“Aurorava. O sol dava às cinco. As sombras neblinubladas, iam espertando na ensonação geral.No topo das árvores, frutificavam os pássaros. Toda madrugada confirma: nada, neste mundo, acontece num súbito. A claridade já muito espontava como lagarta luzinhenta roendo o miolo da escuridão. As criaturas se vão recortando sob o fundo da inexistência. Neste tempo uterino o mundo é interino. O céu se vai azulando,permeolhável. Abril: sim, deve ser demasiado abril. Agora, que a aurora já entrou neste escrito, entremos no assunto.”

(Mia Couto_ “Estórias Abensonhadas”)

Dia lindamente azul, estou zonza de sono, ontem foi maravilhoso, algumas coisas estão dando errado e outras muito certo. O que posso contar por enquanto é que “foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não...”
No mais,vamos vivendo um dia de cada vez: é mais fácil eles já vêm na ordem.
Uma quarta-feira luxuosa pra vcs.

P.S.: Vale a pena conhecer Mia Couto,é absurdamente linda a forma como ele escreve.

terça-feira, abril 04, 2006

Cor-respondência


Cor - respondência

( Elisa Lucinda)

Remeta-me os dedos

em vez de cartas de amor

que nunca escreves

que nunca recebo.

Passeiam em mim estas tardes

que parecem repetir

o amor bem feito

que você tinha mania de fazer comigo.

Não sei amigo

se era o seu jeito

ou de propósito

mas era bom, sempre bom

e assanhava as tardes.

Refaça o verso

que mantinha sempre tesa

a minha rima

firme

confirme

o ardor dessas jorradas

de versos que nos bolinaram os dois

a dois.

Pense em mim

e me visite no correio de pombos

onde a gente se confunde

Repito:

Se meta na minha vida

outra vez meta

Remeta.

(Fonte:O semelhante, Editora Record, 1998 - Rio de Janeiro, Brasil)

Período bom, sossegado, uma disposição mágica para o abraço e um bom-humor súbito e gratuito, dias fresquinhos, sol suave, pessoas lindas vindo de todos os lados, amigos antigos visitando, chuvas torrenciais repentinas que prendem a gente no boteco mais próximo, trocas ricas, literatura, música, poesia, borboletas tantas...samba, jazz, beijo-na-boca...Tudo-tão-melhor-agora!!! Tudo-tão-melhor-agora.

Aceito, agradeço e desejo o mesmo pra vcs.

segunda-feira, abril 03, 2006

CASA


CASA: Construção para morar; residência.Família, lar; Estabelecimento ou firma; Divisão de tabuleiro de xadrez ou dama; Fenda no vestuário para enfiar botão, botoeira; Posição que o algarismo ocupa em um numeral;Lugar pra se criar vaga-lumes e borboletas;Onde as margaridas repousam;Onde caem estrelas e as pessoas se protegem da chuva;
onde haja motivos e algum desejo....

domingo, abril 02, 2006

Ecos de Abril



Foto: Sweet Charade

( Para Elenita)

Sei que vem de mim esse olhar que pousa para foto e que vem dele essa saudade que dilata a pupila...Mas até quando serei uma testemunha de quão inesquecível ele é? Se o que as pessoas apreciam em meus textos já foi sofrido e revirando pelo avesso, se as dores que vivi já curaram tantos outros, por que não a mim que as vivi tão honesta e profundamente?
Até quando permanecerei neste quarto escuro com abril ecoando, imperando, mesmo que as luzes do Natal já tenham sido acesas? Ainda que já tenham feito um filme em que o próprio título “Abril Despedaçado” também sirva para a minha história.


Vou dormir um pouco. O corpo precisa descansar dessas mazelas. E depois escolho continuar remoendo este passado até sair a última metáfora ou experimentar um neologismo... Ao menos sei que posso trocar Goethe por Nietzsche e preferir a sabedoria de Guimarães ao desespero de Clarice ....

*Texto republicado