quarta-feira, dezembro 23, 2009

Sobre as escolhas

Foto: desconheço o autor, roubei do twitter da Lua.


Hoje eu acordei muito emocionada. Não sabia exatamente o por que, mas eu queria chorar e agradecer tanta coisa. E fiquei olhando pra dentro, relembrando as coisas que desejei no passado e vi que minha emoção vinha de tantos sonhos realizados. Porque eu tenho os melhores amigos do mundo, a família que eu merecia ter, o namoramado mais perfeito e toda a disposição e capacidade pra tornar pleno o que ainda é lacuna em minha vida. E, finalmente, eu tenho um compromisso tão real com a felicidade, e que tudo o mais que me conduza a esta realização é uma conseqüência dessa minha escolha. Eu sei que a vida não é fácil: se a gente quer um amor e o encontra, a gente depois tem que negociar com a convivência. Se a gente tem muitos amigos, as idiossincrasias. Se o emprego dá grana, às vezes o chefe nos desanima....enfim, nem todo poeta vive de poesia., embora muita gente se alimente dela. Eu hoje acordei tão emocionada porque sei que cada vírgula da nossa rotina tem sentido. E que ter uma rotina é tão saudável. E que ter amigos nos impulsiona, e que viver um grande amor nos embeleza. E que fazer " a nossa parte" melhora o mundo. E que ter bons pensamentos enriquece o Universo. Eu hoje acordei tão emocionada porque tive a plena consciência de que eu posso escolher outra coisa sempre, e que no aprendizado não existe escolha errada. Eu hoje acordei com a alma em festa, porque sou feliz como alguém que fez "as escolhas certas".


P.S.1: Lua Leça, meu amor...Feliz aniversário, de mãos dadas sempre! Só vejo luz nos teus caminhos.Eu te amo!

P.S.2: Meus leitores preciosos, minha poesia é nutrida por cada e-mail, por cada scrap, por cada pensamento bom de quem vem aqui. Obrigada pela confiança, pelo afeto derramado.

P.S.3: Igor, meu namAMORamado, você é meu futuro embrulhado "no presente!" Te conjugo em todos os melhores verbos. Te amo demais. Obrigada por ser!

P.S.4: Joaquim, meu Drummonzinho, obrigada por me surpreender tanto e melhorar a cada dia, vamos correr por todos os parques desta cidade e rir de todos os obstáculos que se impuseram nesta trajetória. Sandrinha, você é a melhor pessoa que já conheci na vida! Que Deus continue te abençoando e te dando a força necessária pra essa vitória cotidiana. Te admiro e amo com toda luz.

FELIZ NATAL!

*

*

Marla de Queiroz

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Sobre o ciúme

Foto: Mário Carvalho

Para C. B. que me contou uma história que dói.

Porque eu tenho pesadelos que parecem tão reais até quando você me abraça. E eu acordo triste, e brigo de verdade e passo o dia grave e dolorida como quando a gente leva um tombo no piso liso...que é só o passado. É como se eu sentisse um ciúme horroroso do meu livro predileto comprado em sebo, a dedicatória apaixonada que não é a minha, os resquícios do manuseio de outras mãos. Alguém corrompeu o trecho que eu mais gostava quando grifou à caneta algo que não pude apagar com borracha e que era tão secretamente meu. Desenhou corações onde só havia minha dor e eu discordei da interpretação alheia. E achei aquilo tudo de uma crueldade atroz. Mas permaneci com o livro no colo, cheia de um afeto confuso por ele: afeto pelo que era, angústia por já ter sido de outro alguém, e aquela sensação (imbecil) de falta de exclusividade. Eu que sempre achei que tudo é e está para o mundo.Perdoa o meu senso de autoimportância, já que não consigo perdoar o meu egoísmo.Eu sei que em alguns presentes, no embrulho, laços do passado são aproveitados. Eu só queria que eles não fossem tão vermelhos: desses que doem nos olhos e no coração.
*
*
Marla de Queiroz

P.S.:
Amores, adoraria escrever com mais frequência, mas ando preocupada com coisas tão práticas
que perdi o endereço da poesia. Me perdoem a falta de assunto, mas continuem mandando e-mails como C.B., há sempre um texto que matura em mim depois de lê-los. Obrigada por tudo, inclusive pela saudade que alguns sentem das minhas atualizações. Espero voltar em breve. Boa sorte sempre!

terça-feira, novembro 10, 2009

" Cotidiando"


A previsão é que chova forte em quase todo o país. E que um furacão passe em algum outro continente. A previsão é que o dia seja mais um daqueles em que você trabalhe tanto, tanto que precise de um ansiolítico. E que eu estude tantas coisas novas que talvez me desespere.A previsão é que você arranje um minuto do seu tempo escasso pra me telefonar bem no pico máximo da sua/minha saudade.E que o telefone esteja ocupado porque também estou telefonando pra você.A previsão é que no meio da tarde estejamos muito cansados.E que pensaremos em dormir cedo para acordar mais dispostos no dia seguinte. A previsão é que nos sintamos tão engolidos por essa correria do mundo, que pensaremos em largar tudo pra simplesmente sumir por aí, viajando pra qualquer lugar aonde não cheguem furacões. A previsão é que o dia caia repentinamente sobre o mar e que a noite chegue na hora mais perfumada do meu corpo : naquele momento em que tudo em mim é a certeza de um sorriso seu colado ao meu rosto e que tudo em você é a certeza do meu mais definitivo e sonoro SIM! A previsão é que tenhamos no amor essa certeza: de um abrigo de paz, desse aconchego sem fim.

*

*

Marla de Queiroz

quinta-feira, outubro 15, 2009

Nova rotina

Foto: Caroline Esser


Eu fico escutando o tempo todo a nova música que descobri e assisti “Bonequinha de Luxo” pela primeira vez recentemente...queria ter visto antes, teria tido amparo quando meu coração era só e estava tão consternado de saudade e incerteza. Eu fico olhando pros meus dias, pra minha vida, tantas mudanças bruscas em mim. Como eu era radical e sem rodeios_ hoje respiro tantas vezes antes de dizer alguma coisa e analiso tanto sempre. (Que se não serve pra salvar minhas relações, serve pra me fazer melhor).Eu fico pensando na minha aparência no passado, no meu olhar sem foco, na minha falta ou excesso de vaidade, na minha mania de solidão e camisolas ao meio-dia. E de andar de biquíni pela casa até às 22h horas_ quando eu tirava pra tomar banho e dormir na alta madrugada, e deixar tantos textos prontos com antecedência pra postar no blog, tudo tão previsível: a solidão, a falta, o erro, a desesperança, a vontade de alguém que não estava, o erro, a esperança do acerto, a saudade, a vontade de sumir, a volta da esperança, a raiva, a saudade de alguém que já chegava, o medo do erro, a insegurança no acerto, o desejo...e de repente um dia bonito: chuvoso, ensolarado, bonito! E de repente um dia difícil: chuvoso, ensolarado, difícil!

Eu fico tentando lembrar o que eu pensava de tudo, se realmente acreditava no amor, no ódio, se consegui acreditar que alguma coisa no mundo existia sem dor.Eu fico pensando se tinha pena de mim, ou se me achava uma sobrevivente a tudo, a todos, dramática, pesando, tentando levezas.Eu fico tentando lembrar se eu era feliz, por que ria tanto e falava coisas tão doces na maioria das vezes_ se queria aceitação e amor por vias manipuladoras...Ou se era simplesmente alguém que se entregava nas conversas e achava sinceramente boa aquela troca. Eu fico pensando nestas coisas enquanto você vai pra terapia se organizar. E eu só tenho a poesia pra não me entristecer, pra aceitar a felicidade sem me boicotar, ou pra enlouquecer melhor, com mais glamour. Eu fico pensando, sempre que posso parar, o que fiz de mim, o que estou fazendo agora e se eu exerço “nós dois” com toda a consideração que merece a nossa história. Se as irritações são válidas, se as concessões são sábias, se as intervenções são sóbrias, se a maneira de conduzir é a forma de tornar tudo mais sólido. E, enquanto reflito, entro em contato com coisas que antes não eram tão óbvias: ciúmes, isolamento do resto do mundo, um cuidado profundo com tudo, um medo do conflito, a restrição do caos, e uma felicidade besta, repentina, no meio da tarde, da madrugada, no meio de tudo. E eu fico pensando como as coisas funcionam, em que teia elas são tecidas, como são as ligações, quando é que o sentido delas se torna mais evidente.

Eu fico pensando se não somos tão carentes ao ponto de não viver melhor sem alguém. E há tanto medo de não ser escolhido, e de ser escolhido e ser trocado, ou ainda de não ser escolhido totalmente, ou de escolher e viver achando que essa escolha é uma prisão. Mas eu lembro de nós dois, enquanto penso nisso tudo, do nosso pacto pelo total aproveitamento diário, essa liberdade quase imposta de saber-se poder ir embora quando não for mais tão essencial. Eu lembro que se estamos juntos é porque, todos os dias, ao acordar e nos olharmos tão frágeis, tão fortes, tão vulneráveis, tão entregues, nós fazemos novamente a escolha de ontem, e cumprimos o resto do dia alimentando esse “estarmos juntos” com intensidade e delicadeza. Eu fico pensando nos nossos ajustes e na vontade que temos de sabedoria em meio a toda essa embriaguez da paixão. E acho que se esse ainda não é o caminho certo, pelo menos, é o mais bonito por enquanto.E o que me deixa mais inteira, a cada passo. E fico pensando enquanto avanço: eu amo construir a mesma estrada com você...

Eu amo morar no teu abraço.

*

*

Marla de Queiroz

quinta-feira, outubro 08, 2009

Quando não escrevo


Foto: J. Pedro Martins

Porque se não escrevo, há poesia no corpo, todos os meus gestos nesse movimento pra ele, o meu outro. Porque enquanto não escrevo, eu experimento cada centímetro daquela pele, cada variação da temperatura daquele abraço, e o cheiro dele impregnando meu dia, a saudade me deixando em estado de espera pra daqui a pouco, quando nunca é tarde. E os dois chopes ao amadurecer da noite. E a certeza de acordar ao lado, e um projeto de vida sendo concretizado. E a boca sempre macia, nosso banho demorado, as conversas que atrasam o despertador nas manhãs sofríveis que desabraçam dois namorados.
Porque quando não escrevo, ele é minha paisagem. E é tão real e tão palpável que meus dedos só passeiam por caminhos contornáveis. E as palavras fogem de mim, as palavras trazem pra mim um corpo, um sopro, um torpor, e o calor que há em tudo que nos dizemos apaixonadamente encostados na imensa pedra que ele acaricia enquanto agradecemos ao Universo por ser tão de noite e sempre parecer que ainda é dia.
Porque se não escrevo não é porque me falta um drama, é porque me falta tempo pra viver tanta poesia.
*
*
Marla de Queiroz

segunda-feira, setembro 21, 2009

Quando sexo não é intimidade


Intimidade não se consegue numa noite de sexo. Por maior que seja a troca, o prazer, a peripécia, o orgasmo. Intimidade é construída diariamente, na resolução de um conflito, na confissão de um trauma, na celebração das alegrias, na torcida por uma vitória, na confiança de partilhar os sonhos mais íntimos. E isso demanda tempo, investimento voluntário, e o desejo de comprometimento. Numa noite de sexo por sexo o que se consegue é uma espécie de alívio fisiológico, uma injeção efêmera de endorfinas e serotoninas, ou nem isso. Sexo por sexo poderá ser tão saudável quanto sexo com amor, mas não promove intimidade. A carícia de quem ama alimenta os seus campos sutis, sua alma; a carícia de quem vivencia apenas o desejo alimenta o corpo.(Uma luz ilumina a superfície, a outra penetra).

Penetrar um corpo numa relação sexual não necessariamente significa comunhão com ele. E o prazer, na ausência da comunhão, é muito mais solitário e individual, mesmo que simultâneo.

Penetrar um corpo com amor, é ter vontade de perder-se e a confiança de que se estará seguro nesta entrega de todos os sentidos. Poderá haver tanta poesia numa relação quanto em outra, mas intimidade não. Poderá haver tanta diversão e desejo em uma como em outra, mas intimidade só se consegue com o antes e o depois em consonância com o durante. Sexo sem amor pode ser tão gostoso quanto com. Mas poder dizer um EUTEAMO sonoro com toda a força do teu coração naquele momento em que alguém se funde a você, é um orgasmo-bônus que só a intimidade proporciona.

( De qualquer forma, o melhor dos sexos continua sendo o seguro. Porque intimidade também não dispensa preservativos. A menos que...)

*

*

Marla de Queiroz

terça-feira, setembro 08, 2009

A fisionomia da saudade



Tão familiar é a fisionomia da saudade. E a lembrança da labareda alta do desejo, indo além: ao desalcance dos olhos.O toque constante, desavisado, parecendo uma distração. O olhar intenso, querendo ver o campo sutil das palavras.E toda nossa existência ampliada pelo sol do amor. Tão familiar a fisionomia da saudade, que ainda posso ver os pêlos saindo dos poros, tão junto meu rosto do teu. Das arranhaduras da carícia bem feita que uma barba mal feita faz. E um jeito de trazer minha cabeça pro lugar mais escurinho entre o travesseiro e o teu pescoço. Teu cheiro todo lá, naquele abrigo antes do sono. E no derradeiro das frases, o corpo insinuando mais que uma leitura, mais que uma dança, mais que comunhão. Das palavras que ainda inventaremos por achar tão divertido namoramar em dialeto inexistente. Tão familiar a fisionomia da saudade que meus dedos vão redigindo tua voz em meu ouvido, os sussuruídos de Guimarães nas tardes de estudo numa estação de cinema, as ignorãnças de um Manoel de Barros num feriado de tanto mar e nossos delírios poéticos nos bares de cada rua desta cidade em que somos os amantes mais excêntricos_ uma combinação perfeita de desejo, lirismo e essa nossa ternura escandalosa.
*
*
Marla de Queiroz

P.S.: Esse desenho lindo e outras coisas incríveis você encontrará no MUKIFUCHIC.

P.S.2: Amores, dia 11/set, sexta-feira é dia da campanha DOE UM LIVRO. Já fizemos isto aqui uma vez e foi lindo! Funciona assim: escolha um livro que tenha lido e gostado, escreva uma dedicatória para um desconhecido (para que ele saiba que não foi perdido, que foi dado de presente) e abandone pela cidade, em algum lugar protegido em caso de chuva: ônibus, bar, cinema, enfim....Já separei o meu. OBRIGADA SEMPRE!


quarta-feira, agosto 19, 2009

Introspecção


Foto: Cristina Afonso



Não basta amor demais nas manhãs da própria existência.Existe uma urgência de praticidade que embota por segundos o romantismo.Como um sol que não propicia mais clareza, apenas uma claridade cega.Da angústia que assalta sem qualquer motivo, como um cólica, a sensação de parir um novo ser que é a si mesmo e a dor da despedida do antigo. Acostumados que estávamos com o conhecido.

Eu te amo , meu amor, e amo mais a mim por isto. Não há perecividade no que digo.Mas há o que escavar na alma que não participa deste par. É processo individual e solitário o de realizar-se antes. Não sei se tão comprido este horizonte pros teus olhos. Descreva-me então qual teu sonho mais bonito.Não há um canto triste nem aquele olhar melancólico.Em minhas palavras o sussurro lascivo se aconchega ao teu ouvido.Embora a leveza seja um trabalho árduo.Eu que nasci tragicamente profunda, agora tendo que aprender a brincar.E a ser adulta. E por te amar é que preciso, às vezes, acolher minha solidão...e silenciar. Mesmo quando sol-lhe-dão.

*


Marla de Queiroz


P.S.: Amores, tenho poucos exemplares do meu livro.Aos interessados em adquiri-lo com dedicatória,

favor mandar e-mail pra mim: marlegria@gmail.com

OBRIGADA SEMPRE!

sexta-feira, agosto 14, 2009

Dando satisfações pelo sumiço...

Foto: mico


Tudo em mim tem sido esta vontade de afagar. Há tempos não me ocupo com outra coisa: em tudo que toco ou manuseio há o propósito de cura através do calor das minhas mãos. Tudo em mim tem sido a necessidade de vivenciar profundamente. Se as palavras têm estado ausentes, aceito este recolhimento delas. E espero que voltem com um coração pulsando muito vivo dentro de cada uma. Por isso a vontade de experienciar cada sensação plenamente antes de tentar decifrar organizando em textos o que tenho sentido. Dentro dessa minha desaceleração, tenho descoberto muita coisa como, por exemplo, quão necessário é saber receber amor.Deixar que tudo seja troca antes de ser um troféu. Deixar que o caos se mantenha intacto antes que haja ajustes. Ando muito comprometida com as essências.E com um respeito súbito, a partir daí, pelas aparências.Não vejo menores importâncias, vejo acontecimentos.E tenho olhado pras coisas sem aquela grande gravidade. Tudo em mim tem sido esta disposição para o amor.E ,se vocês pudessem me ver agora, veriam, existe caricia até no meu olhar.

*

*

Marla de Queiroz.

P.S.: Livros com dedicatórias pelo e-mail: marlegria@gmail.com

P.S.2: Por motivo de uma força maior maravilhosa ando sumida daqui.Morro de saudades de vcs, volto logo!

segunda-feira, julho 20, 2009

Sobre a amizade

Foto: Joe Taruga

Porque hoje é dia do amigo, gostaria de republicar este texto sobre a amizade que estava perdido nos meus arquivos.

Eu nunca fiz amigos tentando ser interessante. Todos os amigos mais íntimos que fiz foi porque me interessei verdadeiramente por eles. Me interessei pelo que doía, pelo que o fazia gargalhar, pela forma como banalizava histórias tristes, pelo jeito com que dramatizava fatos aparentemente banais...Todo mundo quando descobre certa receptividade no outro abre seu coração com tamanha generosidade, que fica difícil não fazer o mesmo. Porque a escolha é sempre nossa. A gente se abre, o outro percebe e se abre simultaneamente_ sempre nessa expectativa do encontro. E quando flui, tudo nos parece mágico.Mas depois vem o que fazemos com tanta informação, com aquela confissão, com aquele momento de entrega. É isso que vai solidificar o que quer que tenha começado. E quando isso não é um dom, é um exercício.Sempre tenho a impressão de que meus amigos têm talento para sê-los. Que são pessoas que nasceram pra essa troca incrível, com esse jeito maravilhoso de encher de sagrado qualquer encontro. Sempre lembro que se fulano (que para mim vive em outro patamar espiritual, emocional, intelectual, etc) me es-colheu, é meu termômetro pra pensar: “vá em frente, você está vibrando na energia certa”!...Isso me faz acreditar mais em mim e a ter vontade de me melhorar diariamente porque sei que o quer que eu faça ou fale, nunca será o suficiente para parar de investir numa relação: o ser humano é dinâmico, está em constante processo de mutação e carecendo de novas trocas.Com minhas amizades aprendo, inclusive, a me relacionar afetivamente com pessoas mais saudáveis quando reflito: “beltrano, (por quem estou fortemente atraída), seria alguém que eu indicaria para minha melhor amiga ou uma filha?”Quando a resposta é NÃO! O que me fez pensar que seria o melhor para mim???É o tipo de amor que não me deixa estagnar na consciência, mas me leva à ação.Tudo que eu sou eu devo ao que fui, à minha criação, ao que me doeu longamente, às alegrias que tive, às pessoas que conviveram comigo,aos valores que me passaram e ao que transcendi. Tenho tanta consciência da importância do outro na minha vida que digo que sou viciada em gente: com seus problemas, suas virtudes, sua simplicidade, ou complexidade, com sua disposição pro amor ou a sua dificuldade de. Porque eu sempre vou encontrar casa numa característica, qualidade ou defeito do outro, nem que seja pra rejeitar naquele momento e me sentir superior ou inferior. Tudo é instrumento para que eu me trabalhe quando me deixo vir à tona através das projeções que faço.Não sou uma pessoa fácil, embora quem me veja, ache que sim. Às vezes me alimento das belezas que as pessoas me dão ou me desprezo quando me rejeitam.Sou exagerada em tudo:oscilo demais, fico melancólica demais, alegre demais, agressiva demais, doce demais, carente ao extremo, independente além da conta. Mas sempre tento estar atenta a minha responsabilidade, a ter o cuidado de dizer ao outro que o processo é meu, o problema é meu ...que ele me trouxe à tona e que às vezes no primeiro impacto isso pode ser assustador. Porque a honestidade sempre salvou as minhas relações e me permitiu ser amada sendo quem eu estava, porque somos o que estamos.Depois descobri que a gente se desilude com amigos sim, mas que ninguém tem tanta força pra me ferir. Só terá se eu der a ele esse poder. E que quando abraço uma pessoa inteira( porque eu, sinceramente, não consigo abraçar sem entrega), sei que estou trazendo pra minha vida uma pessoa com tudo o que ela tem dentro: seu passado e tudo o mais que a formou além da essência. E acredito tanto na minha intuição e na minha sensibilidade que confio que sempre haverá a troca_ de um jeito torto, truncado ou fluido_ eu só dependo da minha criatividade: com ela eu escolho se usarei meus vazios e minhas decepções pra me lamentar ou como espaços que eu tenho pra crescer ou, ainda, se saberei aceitar amor e confiar simplesmente.É por isso que críticas podem até me baquear, mas não me desnorteiam e que elogios me nutrem, mas não me envaidecem (mais)...Porque nunca fiz amigos tentando ser interessante...

*
Marla de Queiroz

quarta-feira, julho 15, 2009

Meu melhor amor



REDESCOBERTA

Há horas em que temos de parar tudo, por mais urgente que seja, ou pareça ser. Não há alternativa. É necessário olhar por uma lente invertida que remete à alma, gerando impressões sobre o que está acontecendo. E tudo pode ser um sinal, um pedaço de vida perdido num espaço aparentemente inóspito e repentinamente resgatado.
Redescobrir (de novo) esse amor é perceber o quanto ele é valioso e enriquecedor, é lembrar de um detalhe da boca dela, da tonalidade única da voz, de todas as sacanagens faladas no chuveiro mas ter certeza de que tudo isso é apenas o registro genérico de algo muito maior que ocupa um espaço imenso do coração bobo. E aí, mais um sinal: o verde não pode invadir o roxo, tudo composto numa obra viva de arte em que, com liberdade, se pode “olhar pro mundo e para si próprio com uma visão ilimitada”. O Universo, TODO ele naquele instante, é muita compreensão e paciência, combinados com a “insistência de um mergulho na correnteza”, por mais perigosa que seja. Agradeço a vc, Universo, por me permitir sentir e trocar, viver e aprender, ser feliz para sempre num fim de semana e nele experimentar todos os extremos de um amor LIVRE que se pronuncia eterno. E que será sempre a síntese da pintura em que as cores não se misturam, mas que, uma sem a outra, anulam a poesia.

Ass: SEU POETA PARTICULAR

Eu nunca precisei estar apaixonada para estar feliz. Sempre tive os amores alheios para pontuar os meus textos, minhas histórias meio tortas pra humanizar minha solidão e aprendi que palavras também enfeitam silêncios.E estava mais que conformada com a vida sendo assim: dias úteis, feriados, sol e frio, chuva e vento, um breve amor trazido pela brisa.E uma dose de esperança para iluminar o meu rosto. Mas quando o meu corpo encontrou esse amparo que é o seu, pensei: em algum sonho eu já estive aqui. Eu sabia que era possível um amor assim, talvez porque tivesse lido em algum livro.Eu sabia que era bonita uma história plena, talvez eu tenha visto no cinema. Mas esse amor perfeito, sendo real e possível, talvez eu nunca tenha concebido. Agora eu entendo as coisas que foram ficando pelo caminho, as frases que se atiraram dos meus versos, as dedicatórias só com as iniciais de algum nome perdido, os conflitos que encarei mesmo quando havia apenas um cansaço. Agora entendo por que eu celebrava o que eu tinha e o que perdia. O quanto eu me preocupei em me lapidar e viver em harmonia, o quanto eu precisei escutar pra entender quando era a hora errada ou pra poder saber dizer a coisa certa. É porque eu precisava estar pronta na sua chegada.

Falar do nosso amor é tão difícil porque não encontro um tamanho assim nas frases.Ele é essa poesia fluida, inacabada, uma estrofe acrescentada a cada dia. A metáfora perfeita que se dá em cada beijo.Eu me emociono, meu amor, por essa perpétua manhã que você abre em mim. Eu me comovo por receber diariamente essa primavera emocional no meu peito.Essa alegria que você sabe expandir quando eu pensava que nem era mais possível. Não há como falar sobre você sem entrar num total estado de gratidão.

E é com a obstinação de quem quer dizer sobre esse amor que nem se explica, que tateio essa explosão de afeto procurando ao menos a textura pro meu texto.

Meu amor, meu muso, meu menino bom, meu galã, meu poeta particular...Quantas cartas de amor eu pressenti, escrevi e assinei em tom profético; Te amo, estranho...Só agora eu descubro o teu nome: Te amo, Igor. Com apenas este erro: o sintático.

(Hoje é seu aniversário e eu fiquei pensando qual melhor coisa eu poderia te desejar: desejo que tenhas alguém igual a você em sua vida...)


*

Marla de Queiroz ( MARLAmando o perIGOR)

*

P.S.1: O texto anterior ao meu é apenas (!) um dos maravilhosos e-mails que recebo

diariamente deste homem incrível que me deixa muda!

P.S2.: Amores, peguei mais 10 exemplares do meu livro na Editora.

Interessados em adquirí-lo com dedicatória, e-mail para: marlegria@gmail.com

P.S.: Amores, dêem uma lida no blog Cartas ao Joaquim, por favor, preciso da ajuda de vcs!



segunda-feira, julho 06, 2009

Compreensão e Paciência

Foto: Joca (Max) Pinto

No caminho onde o amor impera, existe uma felicidade guardada que ora se derrama, ora se dosa a conta-gotas quase que para provocar um receio. É que não estamos nunca de todo conquistados e até os laços mais eternos também têm suas fragilidades.E, ao mesmo tempo em que numa relação saudável podemos ser tão transparentes, há um pequeno mistério a ser constantemente desvendado.Como se em determinados momentos, tivéssemos que segurar o suspiro, ou guardar a frase de efeito para hora mais adequada. Como quando mesmo com muita vontade de dormir junto, tivéssemos que escolher a saudade pra valorizar aquele abraço.Amor assusta e dói, mesmo quando é só prazer.Toda possibilidade de passo contém em si a do tropeço.E é assim que a vida trama o inusitado para que a alegria não se esvazie na previsibilidade dos tempos. Não existe fórmula para que o amor dê certo, posto que tudo é tão dinâmico sempre.Mas existem duas virtudes que suavizam quaisquer conflitos: a compreensão e a paciência. Compreender é um exercício de alteridade: você, ao invés de julgar, se coloca no lugar do outro numa passividade profunda até que haja sentido nas atitudes, pensamentos e argumentos dele.E a paciência que se precisa ter pra esperar os processos, o amanhecer, a chegada do fim da tarde pro reencontro.Paciência para esperar que todos os sentimentos se acomodem em meio a todo aquele amor desmesurado.Em meio a todo aquele medo de que tudo dê errado.Compreensão e paciência podem preencher o vazio mais maciço.E as duas provêm de uma sensibilidade lapidada. O que se ganha com isso, além de uma evolução mútua dentro de um relacionamento, é um melhoramento individual de ambas as partes.Estar com alguém sem transformar-se é esterilizar uma importante etapa de aprendizado.Estar com alguém sem conhecer-se é subjugar o Universo que existe em cada um.Estar com alguém sem estar inteiro é minar a oportunidade mais especial de encontro.Não é preciso aceitar para compreender, nem estar passivo pra ser paciente. O que essas duas virtudes exigem é respeito: por si, pelo outro e pelo desenrolar dos fatos.Quando estamos UNOS com o TODO podemos perder o ritmo na Dança do Universo, mas permaneceremos sempre de mãos dadas.

*

Marla de Queiroz

P.S.: meu livro com dedicatória: marlegria@gmail.com


quinta-feira, julho 02, 2009

Soneto (presente)



MARLA


A Marla, a que é Queiroz, do Polem é a musa
Que cria ao seu redor uma empatia.
Pois, dela, se emana, em luz difusa,
Seu charme que, ao grupo, se irradia.

É bela, com a beleza que cativa,
Pois, nela, é inerente a simpatia.
A voz, que aos poemas enfatiza,
É doce, com o verso em harmonia.

Na praia, todo o Polem, agradece,
A graça da presença que enaltece
A própria poesia que ela tece.

Até, Copacabana, encantada,
Diante à Lua cheia prateada,
Exalta a que é, do Polem, a namorada.

(Manoel Virgílio)

P.S.: Agora me digam como se agradece coisas assim!Pra quem ainda não sabe, POLEM é nosso encontro semanal de poesia aqui no Leme. Toda quarta-feira, a partir das 19h, quiosque Estrela de Luz, em frente ao La Fiorentina.
Meu livro com dedicatória pelo e-mail: marlegria@gmail.com
P.S.2: Em breve post novo...Ando tentando organizar tanta alegria pra escrever aqui pra vcs.

segunda-feira, junho 22, 2009

Quando não poderia ser diferente

Foto: Gonçalo Martins


Não há decisões estabanadas, nenhuma história termina no dia em que ela realmente acaba. Há sempre um desvencilhamento anterior lento, sutil.(Como quando alguém percebe que gradualmente foi perdendo o apetite na hora em que costumava sentir mais fome).Não há aquilo que poderia ser feito de outro jeito. O aprendizado incluía as decepções e os acertos de ambos os lados.E, neste ínterim, os momentos de encontro: dos sonhos, solidões ou prantos.Não há dor que se amenize usando a força momentânea da raiva.Um coração machucado precisa de silêncio e colo, não de berrar aos quatro ventos sua falsa independência. Há ruídos que maculam o que deveria ser preservado.Há que haver gratidão pela lição que vem do que não pode ser mudado. Mas há sempre a possibilidade da transmutação.Numa desilusão, esteja atento: ninguém se perde de si mesmo porque foi abandonado. Por maior que seja a luz, não deixe que a sua sombra o encubra só porque um ciclo acabou sem explicações plausíveis.Há sempre alguma coisa nova por nascer e que precisa deste espaço.Há sempre uma história mais bonita adiante.Há sempre uma forma mais saudável de lidar com sua dor. E recriar o seu destino, tentar se harmonizar com as decisões do outro sem trazer para si as incompletudes dele, é uma forma bem mais interessante de sentir amor.
*
*
Marla de Queiroz

P.S.: Meu livro "Flores de Dentro" com dedicatória pelo e-mail: marlegria@gmail.com
Amores da minha vida, OBRIGADA! Tenho recebido os e-mails mais lindos que alguém poderia receber.Este texto é uma influência das várias conversas que tenho tido com pessoas que se abrem comigo, que me confiam coisas íntimas, lindas, dolorosas. Espero que ele se comunique com pelo menos um de vocês.TODA MINHA GRATIDÃO.

sexta-feira, junho 12, 2009

COR-RENTE-TESA


Foto: Bruno Abreu


Ele está em mim
No que sei e no que desconheço
Na palavra que amo, na poesia que esqueço
Num desvario de planos
Num poeminho que teço
Ele está em mim
no que sigo,
no que sou,
no que digo
e onde vou.

Ele está em mim
No que calo e no que faço
Na tarde vazia, na noite que abraço
Na sucessão de enganos
E na certeza de aço
Ele está em mim
no que consigo
no que desisto
no que recrio
no que insisto.

Ele está em mim
Na melodia que ouço
Na ventania que ouso
Num esmiuçar de sonhos
Quando vôo e quando pouso.
Ele está em mim
Com violência e delicadeza
Com paciência e aspereza

Ele está comigo

Na insistência de um mergulho na beleza

mesmo quando sei:

Perigo, correnteza!
*
*
Marla de Queiroz

P.S.: Sejamos urgentes para o amor!Meus livros com dedicatória: marlegria@gmail.com
Não esqueçam de votar no selinho ao lado! Obrigada sempre!

quinta-feira, junho 04, 2009

Minha melhor companhia

Foto: Xã


Ele não sabe mais nada sobre mim.Não sabe que o aperto no meu peito diminuiu, que meu cabelo cresceu, que os meus olhos estão menos melancólicos, mas que tenho estado quieta, calada, concentrada numa vida prática e sem aquela necessidade toda de ser amada. Ele não sabe quantos livros puder ler em algumas semanas.Não sabe quais são meus novos assuntos nem os filmes favoritos.Ele não sabe que a cada dia eu penso menos nele, mas que conservo alguma curiosidade em saber se o seu coração está mais tranqüilo, se seu cabelo mudou, se o seu olhar continua inquieto.Ele nem imagina quanta coisa pude planejar durante esses dias todos e como me isolei pra tentar organizar todos os meus projetos.Ele não sabe quantos amigos desapareceram desde que me desvencilhei da minha vida social intensa.Que tenho sentido mais sono e ainda assim, dormido pouco.Que tenho escrito mais no meu caderno de sonhos.Que aqui faz tanto frio, ele não sabe por mim.Ele não sabe que eu nunca mais me atentei pra saudade. Que simplesmente deixei de pensar em tudo que me parecia instável. Que aprendi a não sobrecarregar meu coração, este órgão tão nobre.Ele não sabe que eu entendi que se eu resolver a minha dor, ainda assim, poderei criar através da dor alheia sem precisar sofrer junto pra conceber um poema de cura.Hoje foi um dia em que percebi quanta coisa em mim mudou e ele não sabe sobre nada disso. Ele não sabe que tenho estado tão só sem a devastadora sensação de me sentir sozinha. Ele não sabe que desde que não compartilhamos mais nada sobre nós, eu tive que me tornar minha melhor companhia: ele nem imagina que foi ele quem me ensinou esta alegria.
*
*
Marla de Queiroz

P.S.: Meu livro "Flores de Dentro" autografado pelo e-mail marlegria@gmail.com
Aos fãs deste blog, votem no selinho à direita! Beijos, amores!
Vocês me revigoram!

sexta-feira, maio 29, 2009

Sobre a liberdade



Foto: Bruno Abreu


Impor limites não é uma estratégia, não é uma falta de liberdade, é uma libertaçãoÉ preciso se conhecer muito e ter muita sensibilidade e respeito por si e pelo outro para ter a sinceridade de dizer: comigo você só poderá chegar até aqui. Porque o meu limite acaba sendo o de alguém também.É como um aviso: se você tentar ir além, vai invadir, estragar, tentar corromper e eu não quero, não deixo. É pedir pro outro que desenvolva certa sensibilidade.Não há mal nenhum em saber dizer que a gente só pode, por enquanto, ir até aquele determinado ponto. Isso é de um profundo respeito por todo mundo.

Quem sabe impor limites aprendeu a dizer um não sincero, em vez de dizer sim e fugir depois agoniado deixando alguém num deserto de dúvidas sobre o que possa ter acontecido. Quem aprendeu a impor limites, aprendeu também a não se magoar com os nãos sinceros que recebeu, mas a agradecê-los.Quem acha que ser livre é não ter limites, acaba sendo escravo de um comportamento, de um vício, de uma alegria, de uma convicção, de um relacionamento que não se pontua nunca. Isto é limitador. Ser livre é saber estabelecer limites dentro daquele contexto e ainda assim poder olhar pro mundo e para si próprio com uma visão ilimitada:_o que significa saber que tudo é impermanência: estou e quero algo assim hoje, este é o limite agora, mas tudo é provisório porque eu posso tudo e respeito o Universo que me permeia, e quero estar aberto a todas as outras possibilidades.

Quem aprende a impor limites, também aprende a compreender o mundo, as delimitações, as deficiências alheias e as próprias. E quando seria uma situação de mágoa, sabe que por mais que lhe pareça desagradável a atitude do outro, isto deve ser o melhor que ele tenha a oferecer naquele momento, é o seu limite, o que não o reduz a ele.

Ontem comecei uma pintura abstrata numa caixa de papelão....a idéia era deixar a mão fluir em liberdade para criar. Fiz os contornos em preto com toda a fluidez da minha imaginação. Em determinado momento, senti vontade de preencher com cores os espaços demarcados. E foi aí que descobri: eu não queria que o meu verde invadisse o roxo, mudaria absolutamente a cor.Eu queria exatamente aquilo: as duas cores próximas, em harmonia, mas com o traço preto delimitando seus espaços, para que todos pudessem se sobressair na sua peculiaridade e para que, no coletivo, brilhassem juntos. E para isso, eu precisei criar barreiras para impossibilitar as cores de se misturarem.

Pintando a minha caixa de papelão foi quando descobri que estabelecer os meus limites fazia parte daquele meu momento da mais total liberdade de expressão.

*

*

Marla de Queiroz.


P.S.: Amores! OBRIGADA SEMPRE!!!!!!!!!!!!!Vocês são o combustível deste blog!

Marley, me aguarde, ainda vou te agradecer direito.

quarta-feira, maio 20, 2009

Síndrome do coração partido

Foto: Bruno Abreu



Era tão estranho...porque mesmo sabendo que ia dar tudo certo, porque já deu certo, porque estava dando tudo certo, morria de medo que parasse de dar certo. E mesmo quando estava feliz, muito feliz, sentia uma certa tristeza porque só pensava quão ruim seria perder aquela felicidade. Pois estando sossegada e vazia como antes, pelo menos não tinha nada a perder...E vivia suas pequenas tragédias imaginárias como se fossem reais e ia esfriando, esfriando, se preparando prum tombo que nem sequer havia sido anunciado. E nem conseguia perceber que se eles já não mais passavam mal de tanta paixão é porque a coisa havia mudado: ganhara um equilíbrio qualquer que lhes permitia comer e fazer outras coisas triviais sem que se consumissem pensando no outro com toda aquela febre.Era pra celebrar perder aquele desespero pois continuavam trepando com a mesma fome, se fazendo companhia com a mesma diversão, falando das coisas mais importantes e evitando mergulhos fora de hora que poderiam terminar em feridas ou naquele esmiuçar insistente dos que se sentem num constante afogamento e precisam se agarrar ao pescoço de alguém pra não afundar sozinho E era tão estranho esse medo todo que quando corria na praia e o seu coração apertava, pensava logo que era um mau-presságio, uma angústia funda, um aviso ruim, quando na verdade só era preciso diminuir um pouco o ritmo e se lembrar de respirar adequadamente dentro daquela atividade física. E no fundo sabia que sempre daria certo, pro sim ou pro não, sempre seria como deveria no tempo que é próprio, na transformação que é necessária. E que o seu medo não mudaria o destino das coisas_ só a fazia querer de maneira estabanada e em estado de pânico, induzindo ao auto-boicote: evitava um abraço quando mais precisava dele, dava um beijo seco quando queria deixar que ele invadisse todo o seu corpo, deixava de escrever as coisas mais bonitas pra não alimentar um possível desinteresse do outro.E ficava jogando sozinha o jogo imbecil dos que temem porque ignoram a tranqüilidade. E ficava triste, desconsoladamente triste quando poderia estar sendo o momento mais pleno da sua vida: ela estava apaixonada pela sua confusão. Era só prestar atenção no outro, na atmosfera, nos gestos.Mas só tinha olhos pro seu medo.Era só ter mais confiança na vida e lembrar das tantas outras vezes que sobreviveu. E que munir-se não a imunizava. E ela só não entendia que isso ainda acontecia porque sempre investia na coisa errada: investia todas as fichas no outro esperando retorno até não sobrar nada pro trabalho mais minucioso: investir no sossego do próprio coração.
*
*
Marla de Queiroz

quinta-feira, maio 14, 2009

Requintes de delicadeza

Foto: Maria Ivone



É com requintes de delicadeza que me conquistam. Mesmo que eu tenha crises de mau-humor ou de independências, espera com tranqüilidade minha entrega, deixa eu querer ficar até que eu pense por dentro: “ isto é a felicidade!”.Mas não desarrume minha rotina tão bruscamente, nem exija de mim o contrário do que havia quando me conheceu.Assim, eu serei outra pessoa, e nada mais restará do encanto.É com requintes de delicadeza que te guardarei no corpo.E não vou querer nada além do que nos parecer justo: tua mão na minha , meu olhar no teu, e um Universo inteiro por explorar...tão nosso.
Ao contrário, eu me despeço. Com todo o requinte de delicadeza que certas crueldades têm.
*
*
Marla de Queiroz

terça-feira, maio 12, 2009

PRESENTE!!!!!!!!!!

,

Aperte o play!




Marla da Orla
(Miguel dos Anjos /
Mário Roberto Ferreira)

Marla da orla
La bele feme
Morena Marla
Poema do Leme

Em teus sonhos
Eu quero entrar
Teu sorriso
Eu quero provar
Muito além da palavra
Eu quero chegar

Tua meiguice
É de uma morenice
Fácil de se apaixonar
Vem me mostrar que rimamos
Mesmo ainda sem planos

(Deixa de lado esse pudor e vem)

Marla da orla
La bele feme
Morena Marla
Poema do Leme

P.S.:
Amores,
Ganhei esta música de presente.
Compartilho com vocês.
Amanhã descubro o programinha que não deixa a música tocar
automaticamente, só quando apertar o play....rsrsrsrsrs

P.S.2: Foto Lua Leça

quarta-feira, maio 06, 2009

Das coisas que eu sei

Foto: Marcos Tavares Carlos


O peito era maior que o céu aberto.
Parávamos. E sabeis
Que o que contenta mais o peito inquieto
É olhar ao redor como quem vê
E silenciar também como quem ama.


(Hilda Hilst)

Não quero mais ser apenas a mulher fatal, aquela que desatina juízos, desarruma os lençóis e transforma a tua vida num redemoinho doce. Quero ser também a tranqüilidade das tardes sonolentas depois do almoço, a fluidez das horas ociosas. Quero ser canto, colo, aconchego, rotina e abrigo de paredes concretas. E uma ponte para o exterior quando a madrugada inquieta...Quero permanecer mais do que estar, sem me preocupar pra que direção o vento levará teus desassossegos.

Mas, deste caminho que te apresento, faço do convite esta certeza de mãos dadas só no início... Pois há algo que mesmo quem teme , ignora: é possível que a estrada seja engolida: pelas águas, pelo cansaço, pelo desperdício das horas, pelos indícios.

Não acredito mais na idéia de amor romântico, por isso, perdoa se te transformei no homem da minha vida, eu deveria ter deixado que você se tornasse por mérito próprio.

E se percebo que não há garantias é porque nunca as tive: nem nas ausências, nem durante a mais intensa companhia. E destes gritos que abrangem um mar inteiro numa breve manhã ou numa tarde sem carícias, me desvencilho. Quero saber que você existe, que já esteve em mim e comigo, mas que é tão livre para ser quanto eu sou. E que esteja e seja matéria ou substância etérea sem me machucar com tua existência sólida. Não quero que nada sobre você me pese nos dias e nem que a saudade me faça acordar com o olhar mais triste que já tive. Quero saber-te pleno e estar feliz por isto, seja lá qual for o motivo. Quero saber-me plena e casada com o amor, mesmo que você já não seja mais o foco.Há muito alvoroço de mar em mim, deixa que eu viva e escreva por esta Natureza.(Nasci explícita para que ningúem me guarde num segredo.)Sou permanência e transitoriedade. Sou reminiscência e novidade.E sei e sinto e vejo mais do que gostaria.

E, se isto me orienta, também me angustia.

Você sabe, às vezes me falta destreza.

E para que não seja sempre assim tão ácido,

Não sejamos nós,

Antes, sejamos laços:

Desses que se atam e desatam com delicadeza.

*

*

Marla de Queiroz


quarta-feira, abril 29, 2009

Nossos pontos cordiais


Foto: João Cigano
*
Com a concha das mãos faz o que sempre fez no mar, e com a altivez dos que nunca darão explicação nem a eles mesmos: com a concha das mãos cheias de água, bebe em goles grandes, bons. E era isso que lhe estava faltando: o mar por dentro como o líquido espesso de um homem.
(CLARICE LISPECTOR. “Onde estivestes de noite”.)
*

Abro as pernas e as palavras se contraem: tua língua se apropria do meu texto, tua fala sempre tão bem dita.Fecho os olhos: teu poema me penetra, nossas palavras gemem, a poesia grita. Mas eu guardo em segredo minhas frases mais aflitas. (Pelo menos dessa vez não vou deixar que o meu medo te pareça abandono.Pelo menos dessa vez não vou supervalorizar nossa história que é apenas tão bonita.) Vou deixar que se enfie em mim com dedos, membro, língua e malícia.E o teu corpo, meu tutor, se apropriar do meu sem dono, num abraço pélvico escorregadio, num enroscamento longo qual novelo de delícias.


Nem importa mais se a nossa música já não toca, que nos toque em silêncio essa carícia.

*

*
Marla de Queiroz

terça-feira, abril 28, 2009

Mudando de (falta de) assunto ou colhendo os louros

Klimt


Prometeu a si mesma:
Não me caberá mais nenhum drama. Só terei esperanças e perspectivas.
Quando algo ensaiar doer, sentirei sono porque acordo cedo no dia seguinte.
Quando um amor ameaçar acabar, lavarei a louça enquanto espero a champagne gelar.
Sempre haverá essa espera por finais:
De semana, de campeonatos, de novelas.
Tudo será esperança de um final eterno desse drama.

(E seguiu comendo os louros que deveria apenas colher...)
*
*
Marla de Queiroz

(sem assunto)


Foto: Clarisse Regueiró



E, no cultivo pela falta de memória,
evitou qualquer contato:
restaram tantas cicatrizes sem história.

(O word alertou:
"verifique se não há espaço demais entre as vírgulas"...)

*

*

*

Marla de Queiroz

quinta-feira, abril 23, 2009

Quando o tiro sai pela culatra



Esquecer alguém é tão difícil, mas como é triste deixar de gostar. Fica uma espécie de falta de assunto. Você cumpre sua rotina, faz tudo que deveria fazer, mas sente que te falta algo, além de assunto. Talvez aquela dorzinha latejante que te fazia consciente do teu coração pulsando o dia inteiro. E você tinha um objetivo tão grandioso: fazê-la cessar. E um dia você nem percebe que ela se foi. O desconforto é outro: parece que não sinto nada. Meu corpo inóspito, sem habitação. Tenho minha alma larga, mas ainda sobra este espaço prum amor eterno que ele ocupava e que não existe mais. E eu tenho todo esse potencial amoroso entre as mãos e ninguém pra me ajudar a desenvolvê-lo. E conviver com esse “não gosto mais” vai ficando pegajoso. Não há como recolher o que foi deliberadamente esvaziado de significado. Então é isso: Nunca mais vou sonhar com uma reconciliação, um reencontro ao som de violinos. Nunca mais vou imaginar que nos esbarraremos por aí, eu no meu melhor vestido, com meu cabelo incrível e um ar sereno. Ele todo lindo com os olhos salivando de vontade de mim. Nunca mais vou delirar que subo num palco repentinamente e canto só pra ele com uma voz perfeita em meio a uma platéia equivalente a um Maracanã cheio: todo mundo emocionado com o nosso amor.Nunca mais serei piegas.
Mas o que eu faço com esse “não gosto mais”? E se ele fizer tudo pra me trazer de volta eu simplesmente vou olhar nos olhos dele como quem tem os dedos presos entre a porta que se fecha e dizer sem rodeios: Não!? Assim como quem não sabe o que fazer com algo que se esperou tanto e que aconteceu somente quando perdeu completamente o sentido? Esquecer alguém é tão difícil, mas deixar de gostar traz um vazio absoluto. Porque até que outra coisa tão real e surpreendente aconteça, parece demorado e dá preguiça demais. E quando estiver carente e me fizer deslumbrante e disponível terei que esperar que alguém interessante apareça com o mesmo blábláblá dos primeiros instantes, com a mesma perfomance das máscaras sociais. Ele já sabia tanto quando eu nem precisava dizer. Era tão delicioso a gente só se olhar, cúmplices, e seguir por aí, de mãos dadas, tão donos do mundo. Era tão maravilhoso saber que meu projeto de vida era acordar ao seu lado todos os dias. Era tão excitante ficar atualizando a caixa de e-mails esperando o dele, saber do telefonema no meio da tarde, das mensagens sacanas que me faziam ouvir sua voz ao meu ouvido.Quer dizer que isso tudo ficou no passado? Que meu corpo está completamente destituído de afeto por ele? Foi pra isso que fiz tanto esforço? Foi pra isso que me desvencilhei de todos os resquícios dele num tratamento de choque radical de quem simplesmente rompe com tudo que possa levar a uma recaída? E se eu quiser gostar de novo, não tem mais jeito? Mesmo que ele, finalmente, mereça (!) eu não vou querer mais?
Porque a nossa relação me ocupava plenamente.E, agora, nas horas vagas e sem ocupação emocional, eu sigo mais vaga que as horas todas.(Nem a minha autosuficiência tem me bastado).

Esquecer alguém é muito difícil, mas não lembrar pode ser ainda mais doloroso.
*
*
Marla de Queiroz
P.S.: Isto faz parte do processo....e nem é a parte mais importante.Há muito mais adiante.
P.S.2: Vocês me superam nos e-mails que elogiam meus textos. Vocês me deixam boquiaberta e sem ter como agradecer.Sou privilegiada por tanto, tanto amor. Transbordo de amparo.Transbordo de vontade de que nunca me falte inspiração e que eu possa continuar, por aqui. OBRIGADA é palavra que já não comporta tanta gratidão. Tenho tido alegrias indescritíveis com o que tenho recebido.
P.S.3: Meu livro com dedicatória: marlegria@gmail.com

segunda-feira, abril 20, 2009

Um novo capítulo


Posso ver a claridade além do sol, antes disso, nuvens se aconchegam juntas sem nenhum trovão. São delicados os ventos do outono.Caminho em direção à chuva que desabrocha adiante e entrego meu corpo às águas que o céu despeja em uníssono com meus derramamentos.Todas as minhas expectativas frustradas escoando pela terra.Tenho tudo que preciso e abro o peito e os braços e digo um SIM sonoro para o que meus olhos alcançam, o meu peito suporta e o mistério penetra.Eu me sinto em casa: tenho a imensidão do mar e horizontes inalcançáveis. E o que me faz caminhar é essa sucessão de desafios que não cessam, para que eu conheça meu poder de superação.

Eu construo minhas estradas e meus navios.E depois os aprimoro.E para que navegue ébria ou caminhe resoluta numa linha torta, preciso estar forte feito rocha. Eu moro nos mirantes quando preciso montar a trajetória dos meus próximos mapas. E abraço cada sensação que tenho ao apontar com o dedo meu próximo lugar sem um provável endereço.E, em vez de cidades, encontro sentimentos_ países inteiros a serem explorados: Amor, Medo, Confiança, Insegurança, Solidão... Meu destino é a Sabedoria. Não procuro atalhos, sei que é longa a travessia.

Estou virgem e confiante para que nada corrompa minha inocência, o que não significa ingenuidade. Não guardei memórias de dores ou desesperos passados. Eu me apeguei ao aprendizado. Eu me perdoei faz muito tempo. Sinto apenas que vivi as escolhas que fiz e não há erro nisso. Eu só tinha maturidade para experiências específicas e foram elas que me conduziram ao meu coração, a minha fonte criadora. Tenho tanta força em mim que não poderia guardá-la apenas para momentos adversos, tive que usá-la também na experimentação de um prazer exagerado, na minha sede pelo gozo absoluto.

No meu trabalho interno pelo desapego foi quando descobri que sempre me faltou fome, mas me sobravam apetites. Agora já percebo quando ainda não é a hora do mergulho, mas a de me encharcar sobre as superfícies. Percebo quando não sou eu quem tem de penetrar a água, mas de deixar que ela escorra sobre mim. Aprendi a me oferecer mordomias emocionais como adiar decisões dolorosas e a de ter a disciplina de cumprir rigidamente meus prazos.

Antes eu pensava que nunca havia tempo suficiente, hoje eu percebo que o melhor emprego do meu tempo é neste desvelar de mim mesma, nesta busca por uma orientação interior tão nítida que nada se misture à inquietude dos meus desejos. (Nem sempre se deseja o que é melhor) Não há mais lamentos, sou eu quem governa a minha vida e o meu tempo. Sou eu que escolho quem vai conviver comigo e participar da minha (auto)biografia, ser o foco da minha poesia ou desfrutar comigo apenas um breve e intenso momento.


(Posso ver com clareza além do sol...agora.)


*

Marla de Queiroz


P.S.: Clique no flye acima para saber os detalhes da festa.

P.S.: OBRIGADA A TODOS VOCÊS PELO QUE ME DÃO DE AFETO, PELAS COISAS ÍNTIMAS QUE COMPARTILHAM POR CONFIANÇA


VOCÊS ME APRIMORAM.




Vendas do livro pelo site da http://www.editoramultifoco.com.br/ ou com dedicatória pelo e-mail: marlegria@gmail.com

sexta-feira, abril 17, 2009

Sobre a renúncia

Foto:Raquel Alexandra



Renunciar a algo que amamos muito e que desejamos com toda a força do coração é uma das decisões mais cruéis de se tomar que conheço. Porque a perda equivale a uma morte dupla: morrer para alguém e matar a pessoa na gente. É como se sobrasse por dentro apenas um casarão vazio com um jardim morto. E, de repente, tudo tão subitamente anoitecido sem previsões de dia novo. É um caminhar lento e arrastado numa espera sombria de que as horas passem e o tempo leve essa febre alta sem medicação possível. É preciso que haja tanta paciência e firmeza por dentro pra não entrar em desespero, que a sensação que se tem é de estar meio fora do ar, com tanto esforço. E até chorar fica difícil, teme-se que nunca mais o choro cesse.
Há muitas perdas quando se termina algo que não se queria ter terminado: muda-se a auto-imagem, alegrias ficam suspensas, sonhos desaparecem por um tempo e nenhuma cor na paisagem. O cotidiano fica obscurecido por aquela lacuna aberta no meio do que era a parte mais interessante dos dias.
Com o tempo, você analisa que abrir mão de algo muito importante, só se faz quando se tem um motivo maior que esse algo: seja um propósito, uma crença, um valor íntimo, uma obstinação qualquer que te oriente para essa escolha que já se sabia tão dolorosa. É um sacrifico voluntário por algo mais pleno, mais grandioso em Beleza. E, nestas análises, você descobre outras perdas que são positivas: perde-se também a ansiedade, a insegurança e a ilusão. E você aprende a recomeçar agradecendo por vitórias tão pequenininhas...
Como quando é noite e antes de dormir você se enche de gratidão:
“Deus, obrigada, porque é noite e eu tenho o sono... Que venha um sonho novo, então.”



*



*



Marla de Queiroz