Como
as folhas outonais que se suicidam das árvores, estrelas despencam do
céu, evidenciadas, desafiando luzes artificiais. Meus olhos veem, minha
retina as acolhe, meu cansaço as abraça. O dia farto de calor imenso,
mas a brisa fresca chega feito um beijo. Tudo se norteia suave e o
coração vai desacelerando, guardando as emoções primatas para o
refinamento do desconhecido amanhã. Tudo pede para amanhecer, mas nada é
garantia. Sei que hoje estou feliz e calmamente previsível: vou dormir,
é fato. Sei destes próximos minutos. Mas ignoro o dia seguinte e isto
me instiga. Tudo é novidade e página em branco, somente as palavras
anseiam a dança dos dedos e o pensamento ativo. Por enquanto, escuto o
oceano Atlântico com suas águas “uterúnicas”, ventre materno para
mergulhos e satisfação da criança interior que ainda quer brincar.
Talvez amanhã, as ondas rebentem fortemente, talvez apenas dancem
delicadas e convidativas.
Licenças Poéticas, prosa incerta, poesia em linha reta, versos que dançam fora da forma do poema, mas dentro do corpo do poeta.
quarta-feira, fevereiro 20, 2013
sexta-feira, fevereiro 15, 2013
Sem afeto
Os meus pés estão descalços, minhas mãos estão
vazias. Trago o peito entulhado de sentimentos sem adjetivos possíveis.
Um coração desestabilizado, terrível. A tarde rasga a pele do tempo e o
sol desaba sua claridade em meus olhos. Choro. Meus
cabelos estão desgrenhados, meus lábios ressecados pela avidez daquele
beijo. Flutuo atravessando muros abstratos, fotografias abandonadas por
seus porta-retratos e cadernos sem caligrafias. Transito em transe por
ruas desabitadas, por pontes que não promovem encontros. Sou amada por
algumas pessoas insípidas que precisam me enfiar em alguma gaveta vazia.
Os abrigos me abismam. Hoje estou dura, crua, fria. Hoje estou
maldosamente agressiva. Impulsionada a causar feridas, mas não
conseguindo exercer com destreza o lado mau que há em mim. Magoei de
maneira estabanada, não ganhei absolutamente nada, me dói tudo por
dentro, me arrependo, e levo meses para me perdoar pela ferida que abri e
que deixei ardendo. Meu lirismo fugiu de mim, larguei ao relento. E eu
me sinto deslocada, pois me desabituei a ser assim, a estar assim. Mas
quero desaçucarar minha imagem, borrar o rímel da paisagem, derrubar
minhas lágrimas presas, tirar a maquiagem das certezas.
E isto é só o começo... ou o fim.
Marla de Queiroz
E isto é só o começo... ou o fim.
Marla de Queiroz