quinta-feira, junho 26, 2008

Sobre medos

Foto: Catarina Paranhos

Não sei se há verdade no que escrevo. Há sentimento e uma vontade imensa de transmutar certas tristezas. Mas verdade, talvez não haja. Não há uma real crença de que o texto esteja pronto. Não há um absolutismo nessa sensação que as palavras causaram montando uma história bonita. Às vezes, de tão insegura, por tanto medo de cambalear entre as palavras, risco o papel até rasgá-lo, tamanha minha força. Essa força que só quem tem muito medo dentro de si sabe usar).

Eu produzo porque tenho muito medo de ser inútil. Eu abandono quando sinto muito medo de ser rejeitada. Eu adormeço porque tenho medo de não encontrar paz em nada. E, de tão compreensiva sempre, quando tenho que me defender, só tenho vontade de agredir. Porque tenho o potencial de tanta raiva dentro de mim. (Eu me busco tanto em tudo que fiz da palavra “encontro” o fim da minha estrada. E sigo caminhando a esmo com a obstinação dos que não têm destino certo, apenas a intuição de que chegarão nalgum lugar que não se chame “cansaço”).

Não sei se há verdade no que sinto. Há sempre uma espécie de embriaguez fingindo alegria. Há sempre uma espécie de lucidez trazendo a raiva à tona. Há sempre uma espécie de entendimento que me deixa vulnerável, emotiva e crítica. Não sei se no auge da minha perspicácia eu admitiria tanta bondade, nem sei se vivendo o meu cotidiano com toda a minha racionalidade eu admitiria tanta ternura. Não sei se admitindo essas características em mim, quando tivesse essa oportunidade, eu seria menos carrasca.

Tenho tanto medo das palavras que machucam que evito meus mais sinceros xingamentos. Porque sei usar palavras pra ferir com todo o dom de um poeta.As mesmas que sempre pretenderam curar. Tenho muito medo da poesia que transfere o medo pro outro, e se vinga dele pra fazer doer de um jeito a dor que não se agüentou sozinho. (Essa que desestabiliza uma pessoa emocionalmente sem a menor culpa).

Na verdade, se é que há alguma, acho que tenho direcionado muita energia pros meus medos.Talvez por isso, eles tenham sido as forças mais presentes no meu cotidiano.E tenham feito do meu coração um ser tão assustado, com tantos sobressaltos.(Por isso, talvez, minhas taquicardias pelo meu mais puro amor tenham parecido apenas maus-presságios).

Marla de Queiroz

quinta-feira, junho 19, 2008

Um suspiro


Foto: desconheço o autor

*
Porque a voz dele me toca feito as mãos
e as mãos dele me envolvem feito fábulas.
E as duas, quando passeiam em mim
desabotoam
minhas mais
mal-comportadas
palavras.
*
*
Marla de Queiroz

terça-feira, junho 10, 2008

Da solitude

Foto: Maria Flores

Abandono-me calma entre os lençóis.
E o corpo nu e intransigente,
não quer a ninguém, só esse estado
de deslizar tranqüilo ,quase inapetente.

Celebro a solitude que me traz sossego.
E tramo os meus dias em papel de seda azul:
“Amanhã comprarei frutas doces
e incenso de lavanda”,
penso enquanto acaricio o meu corpo nu.

E nada me tocará não seja a música
nem me bolinará não seja o verso.
Amanhã talvez eu queira outra coisa,
hoje estou apenas para mim:
completamente nua,
absolutamente Una com o Universo.

*
Marla de Queiroz
*
P.S.: Conversando com uma blogueira e leitora dos blogs, surgiu a idéia de promovermos um encontro de blogueiros e leitores que moram
aqui no RJ. Acho que seria uma noite linda de troca...O que vcs acham?