quinta-feira, dezembro 25, 2008

Quando o passado espreita




Desculpa eu não te querer mais logo agora que a vida está sendo doce comigo. Têm coisas suas que não cabem na minha alegria como, por exemplo, tuas feridas tão antigas e as curas que eu fazia pra te consertar pro mundo, mas continuar com minhas mãos vazias.Desculpa eu desobedecer a demanda da tua angústia. Eu não quero mais ouvir, naquela passividade profunda de amante, tuas lamúrias, tuas escolhas equivocadas, teu emocional sempre tão confuso.

Eu só quero celebrar as minhas flores de dentro da forma mais adequada.
Eu não tenho mais tempo para ser aquela pessoa certa na tua hora errada.
*
*
*
Marla de Queiroz

P.S.1: Dia 28/12 comemoro meu aniversário, eu completo 1.584 luas.E já recebi todos os melhores presentes que alguém da minha idade poderia ter: uma família incrível, meus amigos tão especiais, minha rotina particularmente poética, o lançamento do meu primeiro livro, o meu blog que me dá tantos novos amigos íntimos virtuais e tanto carinho. Eu só quero continuar sendo merecedora dessas coisas todas, por isso invisto no meu melhoramento como pessoa.

P.S.2: o meu livro “ Flores de Dentro” está sendo vendido pelo site: www.editoramultifoco.com.br

P.S. 3: Alguns anônimos passam por aqui e fazem comentários que eu adoraria responder. Por favor, deixem algum e-mail.

P.S.4: Na foto, minha colagem.

P.S.5: Obrigada por tudo,sempre.
*
*
Marla de Queiroz

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Agradecimentos


Minha foto tirada pela Lua Leça

Fiquei pensando no que eu poderia escrever aqui, no dia seguinte ao lançamento do livro.Mas estou ainda muito anestesiada, extasiada, embriagada de amor.Acho que nunca me senti tão amada, tão vasta, tão em casa, tão feliz. Primeiro, tive a melhor sensação do mundo ao ver meus filhos empilhados numa mesa.Tão recém-nascidos. Tive ímpetos de guardá-los novamente no meu ventre. Queria todos para mim. Depois eu os vi saindo, um a um. Foram para tantas casas diferentes, na companhia de pessoas tão especiais...Não sei explicar, mas se dei 90 autógrafos, todos foram pessoais e seguidos de um abraço forte, demorado...Não existia mais o tempo.Eu me permiti me demorar naquela maior alegria da minha vida.E tantas pessoas trabalharam espontânea e gratuitamente praquela festa acontecer. Eu não sei quando foi a última vez que me senti tão bonita.E o que posso dizer ainda, é o que disse ontem pros que estavam presentes: a repercussão que a minha poesia teve, tem, não me dá vaidade. Ela só me diz da minha responsabilidade e respeito que preciso ter com as palavras. Se a minha poesia sou eu, é preciso que eu me melhore pra que ela continue sendo honesta.
Eu estou muito, muito emocionada. E nunca vou esquecer esse meu primeiro melhor momento da minha vida.
“ Obrigada” é palavra que não comporta toda minha gratidão.
Vou descansar um pouco, mas volto logo.

P.S.: Em um ano e meio, esse blog ultrapassou os 100.000 acessos. E eu só preciso de ajuda pra sentir. Eu os agradeço eternamente.
*
*
P.S.2: O livro já está à venda pelo site:

www.editoramultifoco.com.br
*

Marla de Queiroz

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Lançamento do meu livro!!!!!!!!


Amores,
É com muita alegria e frios e frios na barriga que eu os convido para o lançamento do meu livro!
Meu primeiro filho vai nascer!!!!!!!!!!!!!!!!hahahahaha!!!!!!!!!!!!Nem acredito!
E não pensem vocês que será numa livraria com gente cult e nenhuma farra,
será num casarão na Lapa com as pessoas mais interessantes e animadas do Rio de Janeiro! Celebração total com muita música brasileira pra dançar, DJ Rafael Braga, e algumas atrações especialíssimas, não faltará amigo músico para dar canja até às 02h da manhã...
O evento começará às 19h, pensei em dar autógrafos (!) até às 21h e cair na pista com vocês.
Por favor, cheguem cedo pra eu não me apavorar e achar que não vai ninguém!Ou pelo menos torçam por mim, divulguem!
*
*
P.S: Há semanas não durmo direito. Esperei muito por esse dia, estou em polvorosa!Haja chá de camomila!
Ah, e pros que não puderem comparecer ao lançamento e tiverem interesse em adquirir o livro, a Editora Multifoco também venderá pela internet através do site: http://www.editoramultifoco.com.br/
*
*
OBRIGADA A TODOS VOCÊS POR TEREM CAMINHADO COMIGO ATÈ AQUI!
SIGAMOS JUNTOS!

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Bachelariando sobre o barro...

Foto: Cristina Afonso

O texto abaixo eu escrevi para minha amiga Tayira, arteterapeuta que está escrevendo sua tese sobre o barro.Ele é resultado das nossas conversas de uma semana inteira sobre o amor, arrumações de guarda-roupa, barro, contradições,crises existenciais, Bachelard...Compartilho com vocês.
P.S.: Desculpem a demora de atualização do blog. Estou escrevendo minha monografia e resolvendo as últimas questões do lançamento do meu livro. Em breve, a divulgação oficial aqui, mas posso adiantar que será dia 16/12/08.

*


Porque deveria ser proibido esses domingos ensopados pela chuva e, por dentro, tanto frio sem esperança de alguma nódoa de sol. Deveria ser proibido mãos que não alcançam um pedaço de argila e um punhado de água pra amolecer a dureza que têm as ausências, as carências, o concreto de alguns corações.
Deveria ser proibido no meio da dor, só a lembrança das ondas que explodiram pra promover um beijo: era a maior doação da natureza pra afagar olhares que procuram e procuram_ e que olham para os lados sem ver o que ao lado está. (Que nem Clarice explicou em “ Por não estarem distraídos”).
Minhas mãos em concha seguram tantos gritos, líquidos.Mas tenho medo de acordar os que se estabeleceram uma rotina sem qualquer possibilidade de desconfortos fora dos calculados.

(É quando a magia ganha a obrigação de ser um amparo alheio).
Eu andei pensando sobre o barro, sobre o amor, sobre vestidos que viram saias e saias que viram blusas. Eu andei pensando que, às vezes, a gente gostaria de enfiar a pessoa que a gente ama dentro daquela gaveta arrumada pra só saber dela quando abrisse o guarda-roupa no auge da vontade de se enfeitar de sentimento.
Andei pensando nesse coração de argila que se molda de artérias entupidas pelo amor.
(ainda é preciso esperar que seque rápido e torcer para que não tenha sido feito frágil demais.)

Eu andei pensando nesse movimento de mãos que se vestem de areia, que fazem círculos enquanto contam sobre o eterno retorno do mesmo. Sobre a lucidez da loucura.
Você espera que a terra te dê chão? A terra, sem a água, sem o ar, sem o fogo, só pode te dar a impossibilidade de vôos, às vezes.
Talvez estejamos tentando fazer barro com areia e água salgada. Mas o barro quer da gente é doçura.
Andei pensando nessas esculturas de sal.Isso não pode ser a nossa obra-prima.
O amor não pode ser engessado. Ele não pode ser estático.Amor não pode ser chão de ninguém.Amor nasceu para dar asas.

Quando você me contou que havia um abismo no seu peito, um buraco no seu coração, eu tentei visualizar abismos e buracos...E vi muito coração dentro deles.
(Um outro ângulo.)

*

Marla de Queiroz

quinta-feira, novembro 20, 2008

Descompassos

Foto: Rosalina Afonso


Não é porque te amo que, de uma vida inteira, eu selecionaria apenas esta página. Há tanto pra contar além desse altruísmo: há tanta solidão na sede por poemas e muita ansiedade num tempo de esperas. Sei pouco sobre mim, descubro agora. E fico a olhar, vazia, para os lados. Sei pouco de você, eu admito, conheço apenas o que quis saber de nós. Mas tem um egoísmo que corrói: e eu danço com a vida, os dias e as paisagens. Você denunciando os contrários: parece que a leveza me aprisiona, parece que o peso te abraça. Um medo de perder para a alegria. Ou de só possuir pelo cansaço.
Enquanto eu tentava me lembrar onde guardei meus brincos (tua gravata), minha docilidade (tua carência), minha saia rodada (tua camisa azul), meu desapego (tua indignação), você catava conchas à beira-mar. À beira de um mar que te emprestei. (E, na individualidade sem afagos que consertem, talvez esteja a nossa nudez.)
*

Marla de Queiroz

quarta-feira, novembro 12, 2008

Extensidades

Foto: Ornella Erminio
(...)e quando virei o rosto vi meu sorriso nos lábios dele...
(" Grande Sertão: Veredas"_ Guimarães Rosa)

O jeito que ele me olha é que me inspira e desgoverna. Um jeito que me conhece no derramado de dedos que convidam. De quando eu peço abraço quando ele quer me dar, mas faço tudo quase num contorcimento de dor, e ele acha bom eu ser intensa. E a voz sem sossego, o corpo pronto e quente sempre. E, se ele demorou tanto, nós sabemos: amor também precisa amadurecer ou maturar na arnica, feito remédio. Nunca tive muita impaciência na espera, ele sabe. Pude pular de galho em galho e ir embora quando meu coração não queria ficar, enquanto. E, das vezes que quis ficar e não tive espaço, entendi. Funciona quase como o mesmo modo de quem faz ninho para um só passarinho, aquele todo especial. Mas eu exerci meu par de asas. E fui feliz com as paisagens que sobrevoei. Aí, quando eu menos esperava, ele chegou encompridando alegrias tão amenas, tão bestinhas. Fui compreendendo aquela falta de desespero. Eu achando graça na saudade. Eu perdendo o peso da lembrança só pra rir de tudo. Eu ficando leve. Eu sentindo sono logo na infância da noite. Porque meu coração estava, enfim, descansado. Eu achando bom meu coração pousar assim: decidido e destrambelhado.

*

*

Marla de Queiroz

quinta-feira, novembro 06, 2008

Outra Estação

Foto: José Ferreira


Eu esperava
e a esperança era tão precisa que calculava:
Você viria na primavera mais propícia.

Eu esperava um encontro tão romântico,
pra desmitificar tua estátua de concreto.
Eu esperava que nada mais pudesse vir a ser um desafeto.

E veio fluido como fonte
E veio ávido, como fome
Mas se tornou um chato no papel de “Monge”.

E havia um romance, mas vaidoso.
E, em vez de amar, ficava dando pistas:
assim, feito uma celebridade, um artista.

Eu fui cansando, ficando com preguiça:
Havia idealizado a estabilidade de um amor,
e apareceu você, mais um turista.

Eu esperava então, que fosse embora logo.
Que nem tirasse a roupa, já que nunca a máscara.
Que me deixasse em paz a tempos de um verão.

Se fosse a primavera assim, a mais propícia,
queria eu então outra estação:
mais divertida, leve, colorida
ou, pelo menos, muito mais promíscua.

*

*

Marla de Queiroz

terça-feira, outubro 28, 2008

Carências

Foto: Graça Loureiro
*

Na imposição do lápis, hesito:

Escrevo um poema ou pinto os olhos?

Frente à maçã:

Dou a mordida ou uso o blush?

Esse tom bourbon

vem da palavra ou do batom?

Visto meu tomara-que-caia ou rezo:

Tomara-que-fiques.

Uso renda e saio toda prosa ou

espero que renda a prosa?

Expiro, inspiro:

Um romance?

Dá pra viver os dois ou

dou pros dois?

Não sei se ando movida pela vaidade ou pelo desejo.

Reminiscências ou feminiscências?

Poeta ou fêmea onde a carne freme?

Arre, estou em falta com os sêmens-deuses.

*

Marla de Queiroz

sábado, outubro 18, 2008

O que os jornais não noticiaram


Não vou macular essa dureza do concreto com flores.Eu tenho respeito até pelas coisas sem calor, se honestas.Mas é que existe um jeito de adocicar a aridez com afeto.E eu fico olhando pra você e esqueço das notícias do mundo que é tão vasto, mas insistem em dar um foco extremo no que há de trágico nele.Ninguém contou que essa chuva fresca antecipou a exuberância daquela árvore adoentada.Ninguém se preocupou com o diagnóstico real da floresta devastada . Ou se o girassol que andava nublado se sentiu mais seguro aqui em casa.Eu jamais abri um jornal e li: esta página em branco é pra você escrever como gostaria que fosse o seu dia ou pra dizer como se responsabilizará pelo seu mundo.Ou talvez uma manchete simples: Existe um silêncio no mar que também é paisagem. Mas eu olho pra você e me vem tanta ternura que agradeço a esperança porque você é bom e me inspira a ser alguém melhor.Porque eu lembro sempre, quando eu olho pra você, que quando chove sobre o mar, a água doce e a salgada entram numa intimidade máxima.E não é à toa que o soro fisiológico é quase o resultado desse encontro mágico dos dois: um punhado de chuva pra duas pitadas de mar.Foi assim que eu curei nosso girassol.Mas isso, nenhum jornal noticiou.


*
Marla de Queiroz

Resumindo


Foto: Paulo Medeiros

"Era alguma coisa que seria amor ou não seria. Caberia a ela, entre milhares de segundos, dar a leve ênfase de que o amor apenas carecia para ser(...) Um segundo antes ainda poderia não amá-lo. Mas agora, suavemente, vaidosamente: nunca mais. No mesmo instante teve uma sensação de tragédia... E agora era tarde demais_ qualquer que tivesse sido o sentimento gerador, este para sempre se volatilizara. Era tarde demais: a dor ficara na carne como quando a abelha já está longe. A dor, tão reconhecível, ficara. Mas para suportá-la fomos feitos."(Clarice Lispector)


Foice, o tempo.

*

*

Marla de Queiroz

terça-feira, outubro 07, 2008

Alguma certeza

Foto: Gregoria Correia

Escuta: o que te dou não é por você, mas por mim_ se tenho amor demais, eu preciso deixar derramar até que tudo escorra e que haja um total esvaziamento. E, novamente, eu me sinta plena do vazio. (Porque também preciso da purificação do não-sentir pra me entregar de novo plenamente). Não interessa se amor demais te envaidece, envaidecer-se é uma forma de não se achar merecedor, caso contrário, receberia tudo com natural tranqüilidade. Mas não é sobre você que quero falar, é sobre o amor que escorre pela ponta dos meus dedos, que me enche os olhos e a boca d água.É por esse amor que eu respiro fundamente e sinto alegria. Você é só um foco do que tenho transbordando. Nada além do não-definitivo com a sensação de eternidade. Você é a energia que sinto, um rosto desfigurado, puro movimento e luz, o que faz movimentar-me em direção ao familiar tão desconhecido. Amo para conhecer-me e tudo me escapa: o que sabia sobre mim se transforma no que ignoro, o que não havia me tornado me fascina, mas não consigo tocar se reconheço. Esse é meu processo de melhoramento: saber-me ilimitada, transitória. (Se ficares longe ou aproximar-se, o amor será o mesmo, esse outro do “pra sempre, agora”).
Escuta: eu não preciso fechar os olhos para ver por dentro a profusão de cores.Eu não preciso usar palavras pra dizer da comunhão das coisas. Eu não preciso estar embriagada de um amor concreto pra ver beleza em tudo. Ele está em mim, eu estou nele e onde eu for, chegaremos juntos.
Se alguém se assusta ou se comove, é ser-espelho. Sol-teu-espelho, digo.
Escuta: o que te dou é meu. E isso ninguém roubará de nós.

*

Marla de Queiroz


domingo, outubro 05, 2008

Fugidio


Porque quando eu li no meu poema: “o mar arrebenta em fúria enquanto o horizonte, essa linha vertebral das águas, permanece imóvel, calmo...”, ele chorou. Deitou no meu colo e chorou. E eu continuei lendo, lendo pra não dizer coisas tão banais sobre nós dois. Eu estava protegida naquela leitura de um poema imparcial. Porque ele me achou tão cuidadosa com as palavras, eu cuidei pra não deixar a cabeça dele sem o amparo de um cafuné. Porque eu sabia que ele estava frágil e que a vida doía e eu era a força. Mas não entendi se eu estava me sentindo tão bem e ele foi embora renovado, porque fiquei tão oca, cansada e triste. Se antes de tudo fizemos amor com saudade. Se depois de tudo dormimos o sono dos deuses e, apesar de tanto, ainda andamos na praia, fizemos mil planos e eu fiquei contemplando embevecida, naquele momento em que eu precisava, o mergulho que ele deu no mar, no meio de um dia branco. E depois, antes de ir embora, ele me abraçou e agradeceu, e me elogiou e abraçou de novo e eu ri, e fui embora também. E depois ele ligou da estrada pra agradecer de novo. E eu estava triste, cansada, oca.Talvez porque eu nunca tenha me conformado com essas idas dele que carregam sempre a solenidade do eterno, que imprimem sempre em mim a impossibilidade de um retorno inteiro.
*
*
Marla de Queiroz

segunda-feira, setembro 22, 2008

Flores de dentro

Foto: Ana Franco



Tudo é mistério fundo de flor e agonias. Eu me preparei para receber a primavera e caminhei pela cidade com frio, braços cruzados_ eu tinha apenas a mim mesma para abraçar. E na expectativa de flores nascendo subitamente pelos caminhos, só consegui perceber o espreguiçar de uma tristeza adormecida. Mas nada machucava, apenas doía: uma tristeza se impunha saudável naquele guache laranja do entardecer. A melancolia mais bonita. E uma dor quentinha como um raio de sol que cega a alegria para iluminar outras inspirações.
Eu me preparei para a chegada de uma determinada primavera semântica, mas só conseguia lembrar do meu poeminho antigo:
Quando setembro flor-ido, primavirá o verão.

*

Vejam esta primavera no Mukifuchic!

Marla de Queiroz

quinta-feira, setembro 11, 2008

Imperativos, hiper-ativos


Foto: Ornella Erminio


não tenho tempo a perder por favor quando chegar esteja inteiro ocupe espaço e seja pleno me impeça de pensar no amanhã e em outras tarefas suspensas me traga pro agora daquele momento onde você mora me faça esquecer o cansaço me traga um abraço me fale de coisas que há tempos não nos permitimos fazer e me convença a transgredir a hora de dormir como boa-moça que nunca fui e estou me dê um porre acenda todos os meus cigarros e me ache bonita me fale sobre as gostosuras da vida esqueça os pronomes começando as frases que nos despejamos quando entusiasmados e cheios de assunto depois se cale e me ponha a dançar me faça chorar me lembrando que estou pura razão me incentive a querer mudar me relembre essa dádiva de cama-leoa me ajude a fazer as malas me tire de casa me convença a trancar a porta por fora me mande embora dessa covardia me traga de volta praquele meu sonho bonito.
Me traga: de novo fumaça, etérea, no espaço, sonora... de novo tão livre, tão solta.

E faça amor comigo sem pressa.Com todas as vírgulas que ignoramos.
*
*
Marla de Queiroz

quinta-feira, setembro 04, 2008

Uma súplica



Foto: Fernando Figueiredo

Não interessa o quanto eu tenha a dizer. A palavra, como pessoa que é para mim, precisa chegar súbita e inadiável e dizer qualquer coisa que ela queira. Por isso tantos suspiros e alguma resignação, porque também não agüento esse silêncio espesso sem reclamar minha falta de sono.Se é de paisagens novas que elas precisam, mudo até os caminhos. Se precisarem de um novo amor, me apaixono. Mas não façam de mim escrava desse abandono de dizer coisas. Porque preciso.E não tragam para mim nenhuma novidade no amor antigo, tudo é paisagem inédita, sempre.Não me incomodo de sonhar coisas irrealizáveis, mas preciso acreditá-las em frases bem elaboradas pra que tudo se pareça possível.Tudo bem que bocejem vezenquando, mas não durmam para sempre. Se vierem, num pequeno pedaço de papel, eu juro,vou tentar fazer caber o maior lugar do mundo.

*

*

Marla de Queiroz

*

P.S.: Ando com tanta vontade de escrever e não consigo compor nada bom...Fica sempre essa lacuna em mim.

Enfim, a palavra é meu inferno e minha paz...

terça-feira, agosto 19, 2008

Compartilhamento...


Foto:Pedro Moreira

Tudo é vislumbre de uma nova luz. Já espreito sussurros primaveris e gritos de verões ardendo a pele.Enquanto isso, contemplo as amendoeiras amarelecidas, já enfraquecidas pelos últimos suspiros do inverno.Tudo é vislumbre de uma época tão novinha: em folha, em flores, em aguardamentos.(Era assim que Guimarães chamava a espera, penso).Tudo convivendo numa melodia doce.Que nem flauta ensinando criança que pulmão é coisa musicalmente vital.Mas há de se saber soprar fraco ou forte pro som vir do jeito que se almeja.Se não, não passa de estridências sem harmonia.Melodias doces guardam o medo da gente e trazem colo.(Que nem quando mãe canta bem baixinho pra fazer sossego na noite).E vem vindo tanta confiança na entrega do sono que a gente sonha.Que é nessa horinha que o sonho acontece, quando a confiança.Eu já soube muitas coisas além dessa. Só que esqueço rápido. E fica apenas o dia de hoje sendo importante. Mesmo quando tudo é saudade. É saudade do que se teve algum dia de tão bom que se acontecesse hoje, por exemplo, imagina essa alegria: teve um dia que eu tava tão feliz que queria a repetição, não da cena, mas da felicidade inteira do tamanho que aquela tava sendo.(Porque o que fica do escuro da dor nessas horas é que ela amanhece).Eu fico pensando que a vida sabe bem conjugar os seus verbos.Só é preciso a palavra caber direitinho naquele embaraço de coração batendo confuso. Aí tudo acalma e parece aprimoramento.Que é como quando você só percebe que aprendeu o estudo tentando explicar a alguém.E a pessoa também fica estudada porque entendeu o que você entendeu quando explicou.E recebeu pronto o que a gente levou dias destrinchando.Por isso que compartilhar é palavra que vai caber sempre na dor, no amor.Eu acho tão importante fazer bom uso da palavra compartilhar. Que nem quando a gente.

*

*

Marla de Queiroz

quinta-feira, agosto 14, 2008

Da saudade

Foto:Alberto Viana d´Almeida

Guardei tanto tempo essa saudade que o coração intranqüilo precisou telefonar para dizer do tempo: que dias tão azuis, meu deus... Em dias tão nublados. A falta de assunto na ponta da língua.Meus nervos de água.E o meu coração intranqüilo falou de outro tempo quando só queria saber:
Como era mesmo que você me olhava quando a gente ainda se via?

*

*

Marla de Queiroz

sexta-feira, agosto 01, 2008

Quando a leveza é o que sustenta o peso...

Foto: Graça Loureiro

Traz esse teu olhar pra perto de mim, desembrulha tua alma introspectiva e vamos cuidar das coisas com calma. Deixa o profundo pra outra hora antes que a gente se consuma até os nervos. Há tempo pra almas angustiadas, mas há dias de tons bem mais leves, de sentimentos sutis. Não determine o sentido das coisas antes delas terem algum. Espere o momento do desespero, não o antecipe. Se ele quiser, virá em dias tão lindos como este. Agora, só há o convite pro sono mais doce e pra conversa mais amena que nos faça rir de novo.Deixa teu coração abraçar o que digo enquanto afago teus cabelos.O nome disso é carinho.Esquece um pouco essa dor que te espreita.Convida ela pra dormir ao relento enquanto meu colo quente vai chamando de volta teu sossego.Chega de tantas palavras que fervem, meu amor. Vamos pronunciar cuidados. Vamos nos envolver em abraços. Vamos viver o que chega assim, limpinho, sem apertar o peito. Traz teu olhar pra bem perto, eu os fecho e te mostro a paisagem que teci com palavras pra adoçar teus ouvidos.

Vamos dormir em paz e acordar antes desses amanhãs.Vamos acordar antes que seja tarde.

*

*

Marla de Queiroz

sábado, julho 26, 2008

E, na brecha de um medo...


Foto: Joana Muge
O amor nasceu assim, numa hora qualquer de um dia que não me lembro, eu estava distraída. Pode ter sido em janeiro ou novembro, não lembro a data, só o momento.
Antes de o amor nascer eu me ocupava com o óbvio do sexo bom que vinha dele, mas parecia que era só aquilo. Por isso me atirava nos braços do sofá e dizia fatal: ou você ou ele. "Seremos os três então", e ele se atirava no sofá comigo. Mas tudo era só essa ofegância.Quando nasceu o amor eu o olhava enquanto secava os cabelos à noite depois do banho. E ele me disse:
“ Vem logo pra cá, vamos fazer algo tão bonito que nos dê muita saudade depois, dessas que nos fazem rir sozinhos enquanto caminhamos, escovamos os dentes ou lavamos a louça”. Foi ali mesmo que nasceu o amor. Lembro, depois de tanto tempo, com um riso frouxo, enquanto enxugo os pratos.
*
*
Marla de Queiroz


segunda-feira, julho 21, 2008

Carta de amor pra mim mesma...porque só eu sei o que preciso ouvir.



Marla,

Escrevo enquanto te olho por dentro. O que vejo nem precisa ser bonito, nasci para amar tudo que vem de você.Escrevo pra te fazer um afago.Porque te conheço inteira, naquela hora em que tudo é silêncio e sombra, naquela hora em que sua gargalhada é um sol.Desse seu corpo que nasceu para abraçar, eu conheço cada poro, cada taqui-bradi-cardia.Conheço cada sopro, cada falha na tua voz.Toda a força do teu canto desafinado, eu conheço.A intensidade do teu gozo, a fluidez das tuas palavras orgásticas que não admitem tutelas. Eu te conheço além da tua relação anti-convencional com teus homens.Com tuas mulheres. Com essas pessoas que você ama.Com essas que você se recusa a odiar porque não quer despender energia pra isso.

Eu te conheço doendo. Eu te conheço em paz.E sei quando você finge que nunca fingiu um orgasmo.E é por isso, Marla, que eu sou a pessoa que mais poderia amar você.Porque não me interessa onde você erra, me interessa o que você aprende, apreende, absorve.Me interessa é como você se transforma. Interessa é o teu olhar de novidade derramado sobre as coisas simples e cotidianas como se descobrisse a essência do mundo diariamente. O que interessa é esse seu medo da morte, a sedução que ela exerce sobre você e o teu instinto de vida tão maior que tudo.Eu te conheço boêmia, anestesiada porque tua intensidade sufocando, apertando os dentes.Eu te conheço premonitória, dando consultas em mesas de bar, plantando esperanças porque a intuição disse que sim, vai dar certo, e deu.

Eu te conheço arrasada, opaca, ferida, feroz.Rabugenta.Confusa. E não é menos Marla. É a outra ponta do extremo. A totalidade. Eu te conheço tendo recaídas, não sendo ingênua mas optando por acreditar no outro de novo, de novo, de novo. Mas só até a terceira vez. Eu te conheço com um mau-humor contagiante, com uma disposição esfuziante, com uma alegria solitária, com todos os teus amigos na praia, ou sozinha com os teus livros e uma canga à parte pra eles.Aquela que só entra no mar de mãos dadas com alguém porque tem medo de não sair. A que evita altura porque quando olha pra baixo só pensa na queda.A que se treme inteira lendo seus textos em eventos poéticos porque tem fobia de público.A amiga popular e agregadora. A que morre de ciúmes e toma gelmax efervescente pra acalmar a gastrite ciumenta.

Eu nasci pra amar você porque sei dos teus desesperos, tropeços, anseios. Sei da tua honestidade quando sente.E dessa intranqüilidade pela falta de ambição.Te conheço acordando de madrugada só pra anotar uma frase.E fazendo da prosa poética teu sossego. Da vontade que você tem de voltar logo pra casa só pra escrever aquele texto que nasceu durante a caminhada. Das tuas roupas com cores desconexas.Da tua irritação com pessoas desconectadas. Tua preocupação com o lixo. Teu preconceito com o luxo. Teu boteco copo sujo.E a solidão permanente e o teu namoro com a escrita.

O que ainda posso dizer? Que você, Marla, vive para a palavra, mas anseia viver exatamente aquilo que ela não alcança.
E é por isso que eu te amo além do amor.
Eu te amo para sempre. Hoje.

*

Marla de Queiroz

segunda-feira, julho 14, 2008

Divagações...


Foto: Silvia Afonso




Só um poema é remédio pra curar uma página machucada pelo silêncio.Essa frase me veio hoje à tarde, enquanto eu reclamava minha falta de inspiração.Pensei em escrever uma carta com notícias antigas porque naquela data de 2002 as melhores coisas me aconteceram. Era dezembro, suado. Eu havia chorado uma semana inteira pela perda de um HD onde eu tinha um livro pronto. Mas depois, veio o amor. Vamos reciclar essa história magoada, ele disse.E um raio de sol espancou minha tristeza.(Porque se a vida nos ressente, também nos restaura).

Se eu não escrevesse, minha carência seria apenas a falta de alguém, meu amor seria apenas mais um namorado, minhas despedidas seriam apenas mais um hematoma na alma,teriam apenas o adeus como adorno.E tanta alegria que vem vezenquando subitamente nos dias, seria apenas uma luz solitária. Quando a poesia resolveu morar em mim, tudo virou matéria-prima e eu ganhei uma espécie de entendimento maior sobre as coisas.Quando choro gotejo verbos, quando amo suspiro versos, quando grito desamarro palavras.E isso faz de mim mais generosa, porque compartilho. (Você me disse isso e eu achei tão bonito).

Se as coisas têm um nome próprio, cuido pra não confundir amor com apego, eu te disse tentando ser mais interessante. O amor é essa melodia que envolve, mas não se aprisiona o abstrato, as notas dançam na palma da mão por um tempo que é pra que se possa ver pra sempre o fugidio das coisas. Depois elas somem. Fica uma lembrança de tudo que foi importante. Mas a importância somos nós que damos. Têm coisas que seriam interessantes que eu me lembrasse pra compor um lado meu que ainda não conheço direito, mas por doloroso demais eu esqueci com a rapidez que durou aquela febre emocional.(Eu sempre sofri fisicamente pelas coisas importantes). Mas meu corpo não agüenta mais, adquiri a leveza por puro bom-senso. Penso pouco no que vejo.Quando acho bonito, não destrincho o conceito de beleza. Fernando Pessoa sabia das coisas.

Se a dor é insuportável ou a alegria desmesurada, a palavra sempre salva meu coração. Matéria-prima pra poesia é essa vida com seus incontáveis dias de azuis e sombras.

Eu tenho uma filosofia de vida que consiste em abandonar a cada dia uma certeza. Mas tenho ainda uma convicção: eu quero publicar meu livro antes de ter um filho e plantar uma árvore dentro de cada uma de suas páginas.
*
Marla de Queiroz



domingo, julho 06, 2008

Sobre a espera

Foto: Fernando Figueiredo

Para M.C.que me contou uma história tão dolorida.

É que esse amor a bagunçou inteira. Jurou que viria vê-la por três vezes. E a mesa posta, a casa limpa, o vestido bordado. Agora o cheiro das flores que murcharam na chita do vestido lavado. Agora esse café frio, uma das taças intacta, o vinho pela metade. E ela contando sua coleção de esperas, crepúsculos e cartas rabiscadas em guardanapos.

Tentando se reorganizar novamente, rezava pra que tudo voltasse ao seu devido lugar: onde não havia nenhum (falso) entusiasmo e nenhum desses fogos (de artifício). Ela havia chamado de tédio um momento em que , na verdade, seu coração estava em paz.

É que esse amor a bagunçou inteira. E a louça suja de um prato só. E a angústia dura de um parto só. E toda a ternura, como havia lido em Drummond, toda essa ternura inútil, desaproveitada.

Ela só queria que essa dor tão familiar, lhe fosse estranha. E que alguma coisa lhe fizesse companhia, nem que fosse uma voz do outro lado que considerasse a importância que havia para ela de, pelo menos, ouvir um adeus.
E pedia esperançosa: Deus perdoa por eu ter amado desajeitadamente, quem não me amou de jeito algum.
*
Marla de Queiroz

quinta-feira, junho 26, 2008

Sobre medos

Foto: Catarina Paranhos

Não sei se há verdade no que escrevo. Há sentimento e uma vontade imensa de transmutar certas tristezas. Mas verdade, talvez não haja. Não há uma real crença de que o texto esteja pronto. Não há um absolutismo nessa sensação que as palavras causaram montando uma história bonita. Às vezes, de tão insegura, por tanto medo de cambalear entre as palavras, risco o papel até rasgá-lo, tamanha minha força. Essa força que só quem tem muito medo dentro de si sabe usar).

Eu produzo porque tenho muito medo de ser inútil. Eu abandono quando sinto muito medo de ser rejeitada. Eu adormeço porque tenho medo de não encontrar paz em nada. E, de tão compreensiva sempre, quando tenho que me defender, só tenho vontade de agredir. Porque tenho o potencial de tanta raiva dentro de mim. (Eu me busco tanto em tudo que fiz da palavra “encontro” o fim da minha estrada. E sigo caminhando a esmo com a obstinação dos que não têm destino certo, apenas a intuição de que chegarão nalgum lugar que não se chame “cansaço”).

Não sei se há verdade no que sinto. Há sempre uma espécie de embriaguez fingindo alegria. Há sempre uma espécie de lucidez trazendo a raiva à tona. Há sempre uma espécie de entendimento que me deixa vulnerável, emotiva e crítica. Não sei se no auge da minha perspicácia eu admitiria tanta bondade, nem sei se vivendo o meu cotidiano com toda a minha racionalidade eu admitiria tanta ternura. Não sei se admitindo essas características em mim, quando tivesse essa oportunidade, eu seria menos carrasca.

Tenho tanto medo das palavras que machucam que evito meus mais sinceros xingamentos. Porque sei usar palavras pra ferir com todo o dom de um poeta.As mesmas que sempre pretenderam curar. Tenho muito medo da poesia que transfere o medo pro outro, e se vinga dele pra fazer doer de um jeito a dor que não se agüentou sozinho. (Essa que desestabiliza uma pessoa emocionalmente sem a menor culpa).

Na verdade, se é que há alguma, acho que tenho direcionado muita energia pros meus medos.Talvez por isso, eles tenham sido as forças mais presentes no meu cotidiano.E tenham feito do meu coração um ser tão assustado, com tantos sobressaltos.(Por isso, talvez, minhas taquicardias pelo meu mais puro amor tenham parecido apenas maus-presságios).

Marla de Queiroz

quinta-feira, junho 19, 2008

Um suspiro


Foto: desconheço o autor

*
Porque a voz dele me toca feito as mãos
e as mãos dele me envolvem feito fábulas.
E as duas, quando passeiam em mim
desabotoam
minhas mais
mal-comportadas
palavras.
*
*
Marla de Queiroz

terça-feira, junho 10, 2008

Da solitude

Foto: Maria Flores

Abandono-me calma entre os lençóis.
E o corpo nu e intransigente,
não quer a ninguém, só esse estado
de deslizar tranqüilo ,quase inapetente.

Celebro a solitude que me traz sossego.
E tramo os meus dias em papel de seda azul:
“Amanhã comprarei frutas doces
e incenso de lavanda”,
penso enquanto acaricio o meu corpo nu.

E nada me tocará não seja a música
nem me bolinará não seja o verso.
Amanhã talvez eu queira outra coisa,
hoje estou apenas para mim:
completamente nua,
absolutamente Una com o Universo.

*
Marla de Queiroz
*
P.S.: Conversando com uma blogueira e leitora dos blogs, surgiu a idéia de promovermos um encontro de blogueiros e leitores que moram
aqui no RJ. Acho que seria uma noite linda de troca...O que vcs acham?

quarta-feira, maio 28, 2008

Notícias minhas...



Foto: Ana Paula Souza

Na brecha dos meus suspiros pela falta de tempo, observo a moleza do dia, enquanto caminho apressada pra minha mais nova ocupação. No meu coração, às vezes um frio, um vazio do tamanho do sol.

Na hora do almoço, ando pela praia porque só sinto fome quando não devo. E todos os dias eu só sei dar notícias do mar digitando uma mensagem pessoal no msn.

No final do expediente, volto rápido pra casa escutando o barulho dos carros, cheia de vontades de algum cigarro. E isso me faz tão poluidora do meu ambiente quanto eles do meio.

Não tenho tido tempo pra dramas emocionais nem pra leituras românticas. Tenho sido prática, minhas leituras dinâmicas e isso é hostil demais pro meu lirismo.

A lascívia me ataca toda noite, quando só tenho uma hora curta antes do sono pras minhas segundas intenções não agendadas. (É quando deveria ser minha maior hora de almoço). Por isso esse coito interrompido pelos dias úteis sem utilidade.

E custo a perceber que, pra quem queria enloucrescer, a responsabilidade e o juízo só atrapalharam.

(Enquanto subsisto, que ao menos minha poesia sobreviva a isto.)
*
Marla de Queiroz
*
*

P.S.: Tenho recebido muitos e-mails reclamando da demora de atualização do blog...Saibam que se tem alguém se angustia com isso, esse alguém sou eu!Seria delicioso escrever aqui todos os dias, mas quando não me falta tempo, me falta inspiração. Palavras exigem respeito, cuidado, dedicação. E nem sempre o texto fica tão bom, mesmo quando temos todos esses elementos.Daí ele vira um rascunho por um profundo respeito que tenho a vocês que me lêem e divulgam. Enfim, tenham paciência, eu adoraria escrever com muita freqüência sobre os mais diversos temas, mas os textos, por incrível que pareça, exigem de mim uma melhora como pessoa que às vezes não estou pronta. De qualquer forma, cada e-mail desses é um afago no meu coração. E um incentivo a superar todas as adversidades que me impedem de fazer aquilo que mais gosto: escrever.
Torçam para que as palavras não me abandonem. Às vezes, quando demoro tanto, sinto um medo horroroso.Porque sou tão dramática. E vocês exigentes demais comigo. E incrivelmente sedutores. E eu absolutamente seduzível. Obrigada pra sempre.

quinta-feira, maio 15, 2008

" Coisas que só um coração pode entender..."


Foto:Ricardo Costa


Eu transito pela vida, antes doida que doída:
tão sem dono, tão sem rumo, tão sem memória.
Entro em becos, bares, corações.
Saio intacta, sem impacto, saio rápido.
Quem desenha meus caminhos são meus passos.
Quem desenha meus amores são as minhas conveniências.
Eu transito pelas ruas, toda em cores;
toda força, toda vulva, toda contradições, toda em carne viva.
Mas escrevo meus amores: antes doida que doída.

*
Marla de Queiroz

quarta-feira, abril 30, 2008

(Nossos) verbos de ligação


Foto: Sónia Cristina Carvalho


Rabisco passos no rodapé da página e percorro o caminho em branco ao encontro dele. Sei que vai me olhar surpreso e que vou fingir certa displicência como se o encontrasse por acaso. Contarei tantas novidades que pareceremos dois desconhecidos. Mas não vou saber explicar a deselegância das minhas vontades, o desejo intruso que me assalta quando o vejo. (nem esse meu medo de chegar atrasada no seu afeto). Vou fingir um olhar imperturbável e palavras quase engajadas num silêncio. E pras suas mãos argumentativas, minha maior sinceridade: os meus ombros nus, exclamativos. Não me incomodará nem mesmo esse tempo todo em que se ausentaram de mim os versos_quero conjugar com ele, dessa nossa ligação, os verbos: ser, estar, parecer, permanecer, ficar...

*

Marla de Queiroz

sexta-feira, abril 18, 2008

Ansiedade

Foto: Carolina

E agora essa inquietação. O peito taquicardíaco, meus dedos não escutam palavras e eu insisto em escrever a desordem interna. Vou dobrando sensações e empilhando nas gavetas tudo separado pelos tons, em degradê.Tento organizar o caos, por cores, mas não controlo o descompasso das emoções.Respiro fundo, me falta o ar.Sinto a mão da ansiedade apertando meu pescoço, uma bolha de alguma coisa presa na garganta. O corpo todo eriçado à espera do próximo passo. De encontro ou ao encontro? Contrários. Com-trastes.”Não se fazem mais homens, pra mulheres como eu”....penso.

Alguma coisa incrível precisa acontecer ainda hoje, enquanto há tempo. Não suportarei esperar mais a eternidade desses próximos cinco minutos.

*

*

Marla de Queiroz

quarta-feira, abril 09, 2008

Sem restaurações


Desconheço o autor da foto


Olhando a foto, foi quando eu descobri que tua ausência inda doía e o tempo que passou não me serviu como remédio. E a minha paciência foi inútil e todo desapego incompetente. Eu me desvencilhei de livros, cartas e bilhetes e me desmemoriei por algum tempo.(Quis tanto ter você, depois silêncio). Mas nessa tarde estranha em que ensaio versos, só vem tua falta à tona...E eu desamarro um pranto que eu sei tão antigo...(Desculpa essas palavras com cara de choro): ainda há reticências.
*
*
Marla de Queiroz

domingo, março 30, 2008

Outono

Foto: Sonia


Peneiro no silêncio algum gesto.
Há vida pra contar, mas falta um jeito.
Palavras tão ausentes, as unhas sem vermelho,
só há vulcões por dentro.

Já é outono, meu amor,
estação em que me despeço de todos os meus gritos.
Há fortes luas e um sol ameno
e a pele da cidade acariciada pelo vento.

(Carícia é palavra que escorre pêlos-dedos-língua).

Alguma nostalgia nos finais-de-tarde.
Eu brinco de poesia na frente do espelho.
Os olhos sem segredos, a boca tão urgente
e um pequeno amor trazido pela brisa .

Já é outono, meu amor, e a palavra em si já é aveludada:
merlot bem encorpado, inverno é cabernet demais e um tanto ácido.

Então me abraça, meu amor,
que eu conto pra você os meus anseios
e deixo que você repouse sua cabeça
entre os meus seios.


*


*


Marla de Queiroz

quarta-feira, março 12, 2008

Das descobertas


Foto: Fernando Figueiredo


Arrumando minha casa de dentro juntei estilhaços de um tempo em que, cansada de sóis vazios e dessas tempestades de agonia, pra esquecer um amor antigo, arremessei meu coração contra a parede. Eu descobri que algumas pessoas se juntam não por afeto, mas por tristeza encomendada. Que certas coisas que deveriam afastar, às vezes aproximam.

Quando arrumei minha casa de dentro tinham muitas declarações de amor de gente que já não me amava mais pelo caminho. E quando eu estava prestes a começar uma vida nova, tropeçava nesse passado e nos referenciais antigos e voltava para lá que era um lugar aparentemente mais seguro. E ergui tantas paredes rabiscadas pelo medo.

Descobri, quando abri as janelas, que uma chuva muito forte também tem som de aplausos. Que na pauta dos meus lábios só cabem palavras macias. Que há que se beber do outro também a fonte de idéias para que tudo não se resuma num encontro incandescente de peles porque devemos explorar todas as qualidades do desejo.

Eu descobri que tenho um jeito de gostar exagerando os fatos e que a ficção é o que mais participa da minha realidade. Mas que sempre fica um rastro na minha pele se alguém se demora nas carícias. E que não se pode ter a força de uma represa retendo seus próprios líquidos.

Quando arrumei minha casa de dentro eu descobri que essa é uma tarefa infinita. E há que se reordenar as coisas incansavelmente pra se ter espaço pruma nova cor. E que uma boa base impede um desmoronamento, mas que a implosão da estrutura inteira, às vezes, é a coisa mais sábia a se fazer em determinados momentos.

*

*

Marla de Queiroz

terça-feira, março 04, 2008

Antes do anoitecer



Foto: Graça Loureiro


Na hora mais bonita da tarde, estamos eu e você. Deitamos sobre os lençóis do tempo os nossos corpos acariciados pelo sol de outrora. Lá fora o mar explode em fúria e o horizonte, essa linha vertebral das águas, permanece imóvel e calmo.Nessa hora mais bonita da tarde eu sinto você respirar no meu pescoço enquanto teus dedos direitos entrelaçam os meus e a tua mão esquerda em concha veste um dos meus seios.E o coração repousa tranqüilo, sem sobressaltos, porque a nossa sede é delicada.Lá fora cristais de sal temperam o final do dia, aqui dentro, o perfume de um quase silêncio adoça o nosso cansaço.Nessa hora mais bonita da tarde, aqui dentro, adormecemos lentamente no encaixe mais perfeito enquanto, lá fora, estrelas começam a cair tão solitárias...

*

Marla de Queiroz

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

P.S.:

Foto: Nuno André Monteiro

E, no meio de tantas mudanças, muitas rupturas. Algumas coisas foram encaminhadas pro novo destino, outras se perderam irremediavelmente. O que sobrou posso contar nos dedos, antes eu mal conseguia fechar as gavetas_ tão abarrotadas de coisas, pessoas, lembranças. Mas o que houve afinal, além de um processo íntimo, pessoal, intransferível? Uma mudança externa também, porque há sempre um desconforto em quem se acostuma com o nosso comportamento mais antigo. E além de lidar com o luto da morte do que éramos, ainda o estranhamento dos que não aceitam o que nos tornamos. Porque mudam os gostos, a disposição e os planos. E alguns reagem como se você os tivesse abandonado no meio de uma viagem a dois por outro continente, quando só você sabia falar a língua local mesmo que os impedisse de aprender o idioma .

E, no meio de tantas mudanças, algumas desavenças. Só porque aqueles mesmos não entendem, não entendem, não entendem, porque não querem aceitar, que tudo é tão dinâmico e que nem deve ter sido tão brusca essa mudança, mas que a coisa maturou durante um tempo em que só queriam que você se envolvesse numa história DELES, que se misturasse nas emoções DELES, que traduzisse o mais íntimo DELES. E, ao mesmo tempo, você estava amadurecendo uma mudança sua e a coisa toda doía, doía. Mas eles não perceberam. Porque a demanda sobre a vaidade deles era grande demais, importante demais, imprescindível demais pra sua poesia.

E, de repente, a minha poesia não queria falar mais sobre nada disso. Minha poesia queria ser uma carta anônima, um silêncio, uma brincadeira. Minha poesia não queria ser nada além de uma frase jogada do mais íntimo de uma iluminação sobre um determinado assunto.

Porque, no final das contas, o que escrevo nem é poesia... é prosa, é carta, é desabafo, é qualquer coisa. É um bilhete manuscrito pregado no espelho só pra desejar “Bom Dia!”

*

*

Marla de Queiroz

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Num fôlego só...

Foto:Alberto Viana d´Almeida


Dispenso a influência da angústia de Clarice Lispector por dois momentos: pra suspirar pelo amor de Riobaldo por Diadorim,(“Grande Sertão: Veredas” é a minha bíblia, Deus me perdoe)e pra escutar o Rei Roberto Carlos que me desconcerta com uma simplicidade quase dolorosa.Eu ponho o livro aberto entre as pernas e canto junto: “ quando eu te amei pela primeira vez, tudo era poesia, a juventude andava em nossos corpos, em nossa fantasia..." Você ri da minha mistura de ídolos, da mania de querer fazer tudo ao mesmo tempo e da emoção com que canto uma música que não é do Chico Buarque pra, em seguida, retomar repentinamente a leitura do trecho interrompido.Mas eu não estou sofrendo quando escuto uma música triste e choro sentida, eu sofro é por não ter escrito nada tão genial quanto Guimarães Rosa.(Ainda explico: é que eu nasci envelhecida, eu moro com a saudade).O meu humor oscila várias vezes nesse mesmo dia e eu consulto o calendário e o meu mapa astral pra saber se são hormônios ou os astros, e consulto você pra saber se sou insuportável.Talvez eu seja bipolar, eu penso, todo mundo hoje em dia é.Você sugere ver qualquer coisa na TV, prefiro descobrir o livro que ganhei do Xico Sá. Não consigo parar de ler ao folhear.Há tempos não escrevo um texto bom, reclamo pra mim mesma enquanto esvazio uma garrafa de vinho sem sucesso.Minhas emoções andam muito fragmentadas, concordo comigo mesma dando um último gole.É preciso que a música termine para que eu passe o rímel, o perfume e saia. Nesse momento só consigo fechar os olhos e soltar a voz com força, afagando o peito enfraquecido pela ansiedade.Estou esperando um telefonema há 3 horas, me antecipei pra medir o atraso.Na verdade, ainda há tempo hábil para o amor e vai ser tão melhor se só chover depois, intuo.A tempestade veio antes, você ficou preso no trânsito e vamos perder o filme, era o que eu temia. Mas eu comecei a ler um livro incrível, preciso conversar com alguém culto, rebato. Você entende com a mesma discrição da minha insistência.Você decide que vem, a qualquer hora, me acalma. Ainda temos um dvd ou conversas intermináveis, prometo. E eu torço pra que consigam remover rapidamente essa árvore que caiu obstruindo o trânsito. E rezo por dentro pra que ela não tenha sofrido muito.


*


*


Marla de Queiroz

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Depois da festa

Foto: Baby (saMY)

Confetes, teu chapéu colorido e a minha saia de tule espalhados pelo chão. Agora meus cabelos molhados, tão castanhos, e os teus olhos azuis. Um resto de vinho e Bruna Caram com a voz tão limpa cantando “palavras do coração”, (queria ter dito o nome da música sem usar aspas). A minha cara lavada, o teu sorriso malandro. Um dia escrevi um poema menor que o título, você me disse em itálico. Eu já apareci em algum desses teus jogos de tarô?, interrogava. Sim, sim, meu Cavaleiro de Copas (eu respondia sem travessões). Sabe, eu tenho a sensação que antes de você, nada aconteceu de tão bom pra mim...Você vai escrever sobre isso algum dia? Não sei. Como vou amarrar essas palavras diluídas no beijo?

*

Marla de Queiroz

domingo, janeiro 27, 2008

Submissão

Foto: Graça Loureiro




Ilustro mistérios enquanto me desnudo pra você
tirando cada peça que cobre o meu corpo.
Você nem imagina quanta sinceridade foi adulterada
no exato momento em que eu desviei o meu olhar do teu:
escondi em um segundo, uma vida de intenções.
Fui reeducada para farsas desde que me abandonaram
no meio de um amor tão espontâneo.
Agora não tenho dedos famintos de reações nem lábios lascivos.
Agora tudo é toque leve e avisado, histórias bem-datadas e beijo breve.
E no rosto eu cultivo com afinco essa expressão fria e o olhar vazio.
Tudo é disfarce e nenhuma verdade.
Eu aprendi a cultivar distâncias.
Finalmente eu troquei a minha real intensidade
pela postura calculadamente adequada de moça frágil.
Finalmente eu construí um personagem sem nenhuma poesia.
Agora, todo o meu afeto é discreto e as minhas taquicardias
semi-ausentes
(para que me ame e nada doa em você.)

E o que era blue(s), agora jaz(z).
*
*
Marla de Queiroz

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Sudoeste musicado

SUDOESTE
O que dói em você, pouco me importa.
Eu não cavei teus abismos de mim.
Fui teu abrigo, teu barco
e lua cheia iluminando o caminho.
Você escureceu nosso afeto,
minou nosso rio.
Pra eu ficar, só precisava do seu toque-agasalho.
Você me deu um punhado de frio.
*
*
Poema de Marla de Queiroz musicado por Daniel Chaudon


sábado, janeiro 19, 2008

Aniversário de dois anos do Blog

Foto: Graça Loureiro

Esperou que as horas dormissem para que houvesse mais tempo pra sentir. E escolheu a melhor sensação pra vestir o seu poema. E havia alegria no peito, mas a sua primeira frase nasceu triste. Não entendeu. Não eram palavras melancólicas, era o tom do texto que estava em harmonia com a tristeza. Como se o primeiro olhar que a poesia lhe lançasse fosse lânguido, desanimado: um olhar sem flerte. Nenhuma sedução se fazia ali.
Tentou recortar uma paisagem mais gentil que fosse equivalente à alegria, e um céu tão azul aconteceu... Mas o céu sem nuvens era de um azul tão só... Talvez aquela calmaria aborrecesse o seu rascunho. E no fundo, o que lhe faltava era companhia. E pintou uma ventania brusca que trazia chuva e afundava estrelas.
Na verdade, tinha muito choro guardado naquele vento sudoeste... Que lavasse aquela dor, então.

*

*

Marla de Queiroz

*

P.S.: Hoje o meu blog completa dois anos de vida! Eu escrevi um longo texto sobre tudo o que ele me deu, tudo o que vocês me proporcionaram de amadurecimento...Mas depois de relê-lo, achei o texto tão cansativo e em seguida esse textinho me aconteceu...Aceito! A palavra é moça temperamental...Obrigada mil vezes a todos que tornam esse espaço um lugar tão aconchegante pra mim!

terça-feira, janeiro 15, 2008

Sobre a angústia...ou "depois daquela conversa"

Foto: Graça Loureiro


A Sérgio Lélis

Porque a angústia, meu amor, é essa tristeza sem rosto, sem acontecimento, sem desencadeador, sem réu.É de repente não caber em lugar algum e escrever esse amontoado de palavras magoadas com ninguém.Essa angústia a gente não puxa, não escolhe, ela entra na gente assim como a noite caindo lenta e definitiva.E ela aperta teu peito com toda disposição do mundo. Angústia te tira do mundo de fora, te deixa encolhido olhando pra dentro, porque não se pode apontar o dedo e nem colocar a culpa em ninguém, ela simplesmente é esse mal-estar que te faz querer mudar tudo de lugar e se fazer alguns ajustes. Você não vai conseguir sequer fingir que está bem se ela te abraçar.Angustia te deixa enfastiado com a própria rotina, com o seu jeito antigo de conduzir as coisas. Ela te pede morte e renovação. Ela te impõe uma perda irremediável do que você era antes, ela te força a trocar de pele como se você tivesse tomado muito sol ...sem proteção.O que a angústia quer de você é a desaceleração pra parar e contemplar e agir de acordo com o que pede a tua sede de alma...

Ela vem pra gritar aquilo que seu coração sussurrou tantas vezes num momento em que você pensava estar ocupado demais para ouvir.

*
*
Marla de Queiroz

*
P.S.: Amores, estou muito feliz! Descobri ontem, navegando por aí, que meu blog foi indicado como um dos melhores blogs de poesia no concurso do BLOGGER BRASIL 2007...E essa escolha foi feita pelo público e eu nem fiz campanha porque nem me lembrava de estar inscrita! Obrigada a vocês meus leitores que me mandam e-mails lindos, deixam comentários maravilhosos, divulgam meus textos em seus blogs e perfis de orkut, aos que vêm aqui caladinhos só pra conferir o que tem de novo,enfim, obrigada a todos que simplesmente torcem pra que eu tenha inspiração sempre...É disso que preciso. Dia 19/01 meu blog completará 2 anos de existência...Fico me lembrando do dia em que ele nasceu, meio assim, desengonçado...e que agora posso dizer que minhas poesias/textos já estão engatinhando.
Obrigada pela sensação que tenho, quando resolvo algum mergulho bem profundo, de que alguém sempre estará segurando a minha mão!

domingo, janeiro 13, 2008

Mão dupla


Foto: Mariza


De mãos dadas
atravessaremos esses becos, avenidas e estradas
à procura de uma trilha
(sonora)
que nos leve a um canto
(afinado)

*

*

Marla de Queiroz

sábado, janeiro 05, 2008

Palavras soltas


Foto: Ana Red


Mas para que se perceba o verão há que se abrir as janelas do corpo_quando pela manhã o suor ainda é virgem e o cansaço não embruteceu as retinas do sonho. Mesmo que o dia irrompa agressivo e o sol inclemente de luz tanta, no silêncio, pode-se deixar guiar até ao barulho das fontes, até ao sussurro das ondas. A alegria quer a gente muito alerta pro que possa desaguar turvo bem no meio da esperança cristalina. (É por contágio que as coisas boas nascem e as não tão boas também. E é de inanição que as coisas vivas morrem, principalmente). Tem música que nasce do beijo, do abraço, nasce naquela hora em que todo o corpo estava ocupado em afago. Tem música que nasce do nada_ na hora dos dedos inertes que resolveram dedilhar um sol. Há poesia que nasce da dor e poeta que se acostuma com ela.Tem gente que passa a vida esperando um milagre... enquanto alguém os escreve.

*



Marla de Queiroz