sábado, setembro 30, 2006

Da Dependência


Foto: Raul Alexandre

Eles que já foram correnteza.
Seguiam arrancando galhos
alargando os quadris do rio.
Ela dançando líquida
contornando as pedras do caminho.
Lúdica, se harmonizava
ao que poderia ser obstáculo.
Ele querendo aprisionar a água corrente
num retrato em preto e branco.
Acorrentados à chuva já não fluíam.
Viam as gotinhas de luz passearem por seus corpos
sem as acompanhar.
Não perceberam tristeza quando se esqueceram
do que tinham proposto inicialmente.
Aprisionados um ao outro temiam apenas o abandono.
Dependendo.
Resumindo.
Abreviando.
Empobrecendo-se.

Não era pra ser uma corrente cinza, metálica.
Era pra ser a cor- rente- ao- arco-íris.
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(Marla de Queiroz)

sexta-feira, setembro 29, 2006

Flor de ir embora...



Ah, meu amor,
as coisas são como são.
Eu estava embriagada de chuva,
úmida de saudade
e você não veio.
Macerei aquelas flores que você me deu
fiz o Banho do Esquecimento
e joguei no corpo,
“do pescoço pra baixo”.

Porque temos jeitos diferentes
de estragar as coisas...
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(Marla de Queiroz)
Fevereiro 2006

quarta-feira, setembro 27, 2006

Amor-(Perfeito)-Próprio


Nasceu ontem meu amor-perfeito,
com o sol em riso e a lua em crescências.
Sobrenome, o PRÓPRIO.
Não preciso adubar:
brotou num solo de jazz,
na aur(h)ora da gaita...
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(Marla de Queiroz)

segunda-feira, setembro 25, 2006

Da Poesia...


Não me importam os caminhos por onde me levará a poesia.
Nem se ela escorre na página em branco ou numa pele macia.

Se construção arquitetada ou estilhaços de versos,
Não me importam seus processos.

Importa é que ela nasça:

Seja flor brotada num túmulo frio_ onde havia anseios
Ou no sangue correndo quente _ no bico dos seios...

(A poesia respira no vento...)
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Marla de Queiroz

(Fevereiro de 2006)

sábado, setembro 23, 2006

Decisão



Foto: Tatas del GOSTs

Um dia ela decidiu:
“Esqueçamos a distância.
Definitivamente, a partir de hoje,
você vai morar na minha taquicardia”.
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(Marla de Queiroz)

sexta-feira, setembro 22, 2006

Convite**


Foto:Joana Muge

Deita tua voz em meus ouvidos ferindo a castidade que me faz dormir tão cedo.

Preciso das pontas dos teus dedos para que a insônia crave em mim as suas unhas
e eu te guarde, enluarado, entre os meus segredos.

Desenrola teu desejo sobre a minha pele crua para que a minha boca beba na tua,
esse hálito de flor.
E provoque uma súbita troca de posições
onde meus cachos pendam frouxos sobre o teu rubor.

(Para que eu me despeça da maldade do querer entardecido de ausências
deita tua fome em nossas pendências).

E deixe que o dia brote do horizonte como se fosse do mais íntimo da gente:
adormeceremos ensolarados e castos
como o poente.
(Marla de Queiroz)
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**P.S.: texto republicado

quarta-feira, setembro 20, 2006

terça-feira, setembro 19, 2006

Anúncio.

Foto: NEST1
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Procura-se um amor-tecedor de-coração:
(Quando o amor-tece-dor, chora-se m’águas).
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(Marla de Queiroz)

domingo, setembro 17, 2006

Relendo "Grande Sertão: Veredas"


Foto: Lua Leça

Na parte-dura do solo
A partitura do sol
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(Marla de Queiroz)
P.S.: Um pouco mais de Guimarães Rosa AQUI.

sábado, setembro 16, 2006

sexta-feira, setembro 15, 2006

Crepúsculo

Foto: Pedro André


Crepúsculo:
quando
bourbonletras
escrevem
na paisagem
as frases
da lua....
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(Marla de Queiroz)

quinta-feira, setembro 14, 2006

sussURRANDO...



Foto:Filomena Galego

O EU TE AMO foi suss-urrado para não assustar.
Mas o olhar pronunciou a frase toda
em voz maiúscula.
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(Marla de Queiroz)

terça-feira, setembro 12, 2006

Das confusões sobre o amor...

Foto:Alice Costa

Porque fazemos nossas lacunas não do tamanho das nossas falhas, mas do tamanho das arestas do outro.E onde parece haver um ato de total coragem, pode apenas ser a nossa mais pura covardia. Ou vice-verso.
Porque a nossa aparente generosidade, pode somente dar a dimensão do nosso egoísmo, da necessidade de manipulação e senso de auto-importância.
Porque descobrir que quem te ama não precisa de você, tinha que ser bom, mas o ego só deixa doer.
Porque onde sobra amor pelo outro, pode simplesmente ser a falta do mesmo... por si próprio.

(Na maioria das vezes, quando alguém nos abandona, é porque já fomos embora de nós mesmos).

(Marla de Queiroz)

segunda-feira, setembro 11, 2006

Estrelas


Foto: Filomena Galego
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As flores são estrelas que brotaram no chão.
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(Marla de Queiroz)

sexta-feira, setembro 08, 2006

Flor-de-Fogo



Foto: António Gil


(Dia de praia é assim: o sol escorrega pela página em branco):

Flor-de-fogo desabrochada, hoje o sol exuberou o dia.
E o céu de outrora diluído em lágrimas, recuperado dos seus alagamentos internos,
ressurgiu intacto em etéreo azul,simplificando os desesperos.
A lâmina fria do vento ainda arranhava a pele dos corpos expostos,
mas soprava para longe qualquer farelo de tristeza;
(Era o AGORA luminoso que impunha sua presença).
A paisagem não mais gotejava suas agulhinhas frias,
ela suspirava cores novas e nítidas de definitivas esperanças.

Flor-de-fogo, esse sol desabrochado embrulhou o meu corpo em carícias:
no mais íntimo da penetração, tecemos amor no finalzinho da tarde mansa.

Uma lua vermelha, grávida de sol, foi cuspida pelo mar zangado:
e a noite foi acesa por um incêndio de estrelas...
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(Marla de Queiroz)

P.S.1: Este post foi inspirado nos livros do Mia Couto e Manoel de Barros que li na praia esta tarde...
P.S.2: Vou dedicá-lo à Rayanne que traz suas estrelas pro meu SOL-RISO!.

quinta-feira, setembro 07, 2006

Porque dói nela.



Foto: Paulo Medeiros

"O que faz a lágrima? A lágrima nos universa, nela regressamos ao primeiro início. Aquela gotinha é, em nós, o umbigo do mundo. A lágrima plagia o oceano."

Mia Couto

Ela quer saber o que fazer pra parar a dor. Eu não sei. Sei que a mesma chuva que alaga é a que fertiliza poemas, que desata os choros, que prolonga aquele encontro ou o impede. A mesma chuva que me torna introspectiva e preguiçosa é a que enche minhas pétalas de gotinhas tão perfeitas que nutre uma sede absurda que nasci tendo. E quando faz sol, eu me amplio toda e fico ali, crestando, me retorcendo de prazer ouvindo aquele barulhinho delicado e sutil da umidade se ausentando. E deixo, deixo mesmo que a luz entre e transborde o meu solzinho interno, aquele do meu plexo perto do coração, pra que meu olhar se encha de faisquinhas de vida novamente, de mais fome de tudo.

Quando dói em mim, eu deixo. Deixo doer até a última gotinha de água salgada. Depois ela se vai. A dor não quer outra coisa que não seja exercer sua função: doer. E não é banalizando, embotando as emoções que ela vai deixar de surgir de tempos em tempos. Não sei como dói em você, mas por saber como dói a minha dor eu imagino a sua: de tão abstrata incomoda fisicamente, de tão ignorada ela se humaniza...em nós. No que eram laços.

Deixe doer o que for honesto.Deixe alagar seus olhos de chuva, escorrer pelo seu rosto e traçar caminhos sinuosos ou retas perfeitas como fazem os rios. A dor só quer te lembrar que há vida naquilo que você rejeitou porque compunha um outro extremo do que imaginamos ser a felicidade. Ela quer que você adquira sabedoria experimentando a totalidade...

(Acho que o que mais dói na dor, é porque ela nos deixa tristes).

Marla de Queiroz

segunda-feira, setembro 04, 2006

Sobre a chuva...


Veja!
Agora esta paisagem líquida:
As nuvens se quebrando no mar enquanto as ondas se dissolvem no céu...

(Marla de Queiroz)
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sábado, setembro 02, 2006

nAMORo.



Foto:Susana Catarina Antunes Correia

Eu não estou só. Estou plena da minha existência, completa e adornada pela minha própria essência.
Eu encontrei casa na minha alma e o cuidado que tenho com o meu corpo é a consciência de que ele é o veículo que me leva até você com a pedra bruta e com tudo que consegui lapidar.

Eu não estou só. Estou em solitude, numa relação diferente que me impede a fuga do olhar pra dentro. O outro já não me serve como arreio pelo respeito que tenho por mim e por ele.Estou acompanhada por uma autoconfiança que foi pura conquista, negociação árdua com a minha auto-estima que oscila. Estou envolvida e apaixonada pelos meus processos. Erotizando os meus momentos de encontro com a palavra, com a linguagem, com as falas do meu corpo.

Eu não estou só. Apenas resolvi namorar a poesia, o vento, as pessoas todas que cabem num verso. Eu brindo a mim, a você, a nós que somos tão frágeis e que, no entanto, encontramos conforto numa força que surge do mais íntimo da gente pra continuar caminhando. Estou me relacionando cotidianamente com o que meu pensamento estabelece pra mim. Sei que vem dele os meus merecimentos.

Eu não estou só. Simplesmente estou em casa.
Estou na-morada, eu sou a minha doce nAMORada.

(Marla de Queiroz)

sexta-feira, setembro 01, 2006

Retrato Instantâneo

Foto:Paulo Medeiros

Atendendo ao pedido da minha Bela-Amora-Minha,
Vou postar aqui seis coisinhas sobre mim e depois escolher algumas pessoas pra fazer o mesmo.

1-Eu tenho tanto medo de altura que já deixei de conhecer cachoeiras incríveis por causa da trilha cheia de penhascos. Sinto calafrios só de imaginar um abismo. Tenho pavor de ver fotos com pessoas no topo de algum lugar muito alto. Fico desconfortável quando alguém que não tem esse medo encosta numa varanda ou janela de algum apartamento acima do 4° andar, onde nem chego perto...Por isso conheço mais as paisagens internas...

2-Um dos meus momentos mais incríveis são aqueles em que estou em casa com uma garrafa de vinho, uma musiquinha bem suave e um texto pronto pra parir...Adoro esse momento de solitude, de exílio voluntário, de ficar fuçando as idéias jogadas na página em branco até casá-las e dar a elas algum sentindo, algum lirismo... O momento de escrever um texto é, para mim, o mais pleno, mais angustiante, mais delicioso.Sento em frente ao computador sem a menor idéia do que vai sair e vejo as pétalas brotando, uma-a-uma...Fico completamente absorta e fascinada. Sou pura entrega nesse processo, como num orgasmo.

3-Tenho 300 melhores amigos de verdade. Homens, mulheres, gente bem mais jovem, bem mais velha, amigos virtuais, enfim...E me dedico imensamente. Morro de ciúmes, morro de amores, morro de cuidados, morro de saudades...Cada dia acordo mais apaixonada por cada um e fico horas pensando num texto pra presenteá-lo. E quando começo a escrevê-lo, sempre, sempre choro toda emocionada falando do amor, da importância...E quando acordo com maus pensamentos, passo numa floricultura e mando flores pra qualquer pessoa que me vem à mente porque sei que o destinatário quando recebê-las vai vibrar numa energia amorosa tão grande que eu vou me conectar a ela e transmutar a minha. Uma das tantas alternativas que a criatividade nos oferece pra nos melhorar.

4-Sou muito, muito intuitiva. Todos os meus sonhos são como premonições e recebo sinais a todo momento. Às vezes, só de olhar pra uma pessoa (mesmo desconhecida), sinto quando seu coração aperta (aprendi a ter essa conexão com um poeta profeta e nunca mais falhou).Às vezes acordo com uma tristeza que sei que não é minha e fico angustiada até descobrir de quem é...Daí, eu estar feliz e escrever textos que doem. São minhas palavras, não minhas dores. Ou vice-verso.


5-Quando leio um autor que me fascina, não sossego até ler toda ou quase toda a sua obra...Nunca me sacio. Meus livros são as coisas materiais mais valiosas que tenho. Por falta de espaço, vou me desfazendo de outras coisas para dar lugar a eles. Quando vou à praia, carrego 3 ou 4 porque nunca sei o que terei vontade de ler durante todo o dia. E leio pros outros.E sempre páro pra escrever uma observação sobre o que li, uma crônica sobre a cena que vejo, uma metáfora que me assalta.Tenho cadernetinhas em cada lugar da casa.Ainda, nunca saio de casa sem um livro. Qualquer um. Escolho o livro pelo tamanho da bolsa. Leio ou releio no ônibus, no trabalho, na fila de espera...

6-Sou intensa demais. Se vou à praia fico até anoitecer, se saio pra dançar só volto ao amanhecer; se me apaixono sou toda aquela Dança do Universo, se a coisa me dói eu sinto a alma descascada exposta ao sol de tanto que me arde, se estou num momento fértil acordo no meio da madrugada pra escrever (quando consigo dormir), minha gargalhada é aquela alta, satisfeita, que sacode todo o corpo, muda toda a expressão do rosto; se choro meu corpo se encolhe até virar botão, semente, num soluço de partir qualquer coração; se me isolo não atendo nem ao telefone, se me socializo sou capaz de juntar diversas pessoas de várias tribos num mesmo lugar. Se vou para um boteco, só volto pra casa quando fecham o bar...


Passo a bola pra:

Cássia

Juliana Pestana

Márcia Xavier