segunda-feira, dezembro 27, 2010

Um ano novo!

Foto: Maria Salvador

O que eu desejo para o novo ano é suavidade. E um bocado de alegria. E desejo também perdão: a mim mesma que sou passível de erros, mas que não preciso e não devo viver mergulhada na culpa. Desejo também carinho: uma alma acariciada fica doce, desvendada, amorosa. Desejo coragem, porque o medo paralisa e impede a melodia nova e é preciso arriscar para continuar (re)criando harmonias. Desejo muita inspiração, porque as palavras sempre me fizeram a companhia mais maciça para a solidão genuína que sinto. E foram elas que consertaram muitas dores ao longo da minha caminhada, coisas que só pude curar investigando, compartilhando, tendo aqui meus cinco dedos de prosa com vocês. Desejo um pouco de disciplina, pois um ser criativo precisa de rebeldia, mas também de horários e planejamentos. Desejo desapego pelas pessoas, mas um pouco mais de ambição material porque ninguém sobrevive apenas de metafísica. Desejo maturidade. Quando se tem maturidade, dá-se melhor o valor que tem cada coisa, sem supervalorizar o que é irrelevante ou subestimar um pequeno aprendizado. Desejo muita paz: um coração sossegado entrega-se com mais confiança. Desejo saúde e disposição. Desejo proteção espiritual. E desejo continuar sendo merecedora dessa boa sorte de falar e poder ser atentamente ouvida, de calar e ser respeitada, de amar e ser correspondida, de atrair pessoas de coração bom e muita sensibilidade, e de poder descobrir a cada dia que a verdadeira erudição está na simplicidade.

(Agradeço. Agradeço por dentro, por fora, a toda hora. Porque eu tenho o peito estalando de gratidão pelo amor que recebo: de mim, de vocês, do Universo. E é por isso que eu desejo a todos exatamente o que desejo a mim mesma. Vocês são uma extensão do que vivo, sinto. Agradeço pela confiança de tantas confissões que recebo, pelos desabafos, pela forma íntima que vocês têm de compartilhar dramas e alegrias. Agradeço por vocês serem tão bons e amorosos comigo sempre. Por me darem sempre apoio e incentivo pra continuar aqui e nesta batalha que é militar pela literatura. Agradeço pelos que me divulgam, pelos que me fizeram crescer com as críticas. Agradeço pela infinita generosidade de virem aqui para me trazerem esta deliciosa companhia.)

Dia 28 de dezembro é meu aniversário. Obrigada por terem me presenteado o ano inteiro com tanto afago.

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Marla de Queiroz


P.S.: Meu livro "Flores de Dentro" com dedicatória, e-mails para marlegria@gmail.com

R$ 30,00 com frete incluso para o Brasil.

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Da intensidade

Foto: Maria Salvador


Que a minha intensidade não me impeça de respirar vezenquando, pois suspiro o tempo todo pra encontrar espaço nesse peito que já nem se cabe. Que essas explosões de vida, de beleza e dor me permitam ao menos, por alguns momentos, absorvê-las com tranqüilidade: para que eu consiga dormir sem ter de chorar ou gargalhar até a exaustão, pois sinto falta de apenas lacrimejar ou sorrir sem contrações, descontraída. Que a felicidade não me doa sempre e tanto, a ponto de assustar. Que haja alguma suavidade nos meus olhos diante do cotidiano e que eu não me emocione exageradamente com esta delicadeza. Que eu possa contemplar o mar sem que ele me afogue por completo. Que eu possa olhar o céu imenso e que isso não me aniquile por lucidez extrema. E que quando eu escrever um texto, ao ser publicado, assim, despido de qualquer revisão emocional, dotado apenas da intuição que me foi dada, que encontre a fonte precisa que agasalhe a palavra “palavra”. Que eu não viva só em caixa alta, com esses gritos que arranham silêncios e desgovernam melodias. Que eu saiba dizer sem que isso me machuque demais. Que eu saiba calar sem que isso me provoque uma tagarelice interna inquieta. Que eu possa saber dessa música apenas que ela se comunica com algo em mim, nada mais. Que eu possa morrer de amor e, ainda sim, ser discreta. Que eu possa sentir tristeza sem que ela se aposse de toda a minha alegria. E que, se um dia eu for abandonada pelo amor, não deixe que esse abandono seja para sempre uma companhia.
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Marla de Queiroz

P.S.: Amores, "Flores de Dentro" com dedicatória: marlegria@gmail.com
R$ 30,00 com frete para o Brasil incluso. Tenho poucos exemplares!
Obrigada por tudo SEMPRE!

terça-feira, dezembro 07, 2010

Uma mensagem de amor (ou SMS)

Foto: Alexandra Ferreira


Ele:


Perfume de flor num livro de poesia
aberto
numa tarde de sol à beira-mar.
Saudade da Minha Poetamada.

Eu:

Perfume de sol numa tarde de poesia
e um mar aberto em flor à beira-livro.
Saudade do Meu Poeta Particular.

Nós dois:

Eu amo o nosso amor.
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Marla de Queiroz e Igor Muniz

P.S.: Amores, quem quiser meu livro "Flores de Dentro" com dedicatória, favor me mandar um e-mail: marlegria@gmail.com
O livro custa R$30,00 ( frete incluso para o Brasil)

sexta-feira, outubro 29, 2010

O que o amor tirou de mim



Foto: Patrícia Cristina Cruz

O que me interessa no amor, não é apenas o que ele me dá, mas principalmente, o que ele tira de mim: a carência, a ilusão de autossuficiência, a solidão maciça, a boemia exacerbada para suprir vazios. Ele me tira essa disponibilidade eterna para qualquer um, para qualquer coisa, a qualquer hora. Ele apazigua o meu peito com uma lista breve de prós e contras. Mas me dá escolhas. Eu me percebo transformada pelo que o amor tirou de mim por precisar de espaço amplo e bem cuidado para se instalar. O amor tira de mim a armadura, pois não consigo controlar a vulnerabilidade que vem com ele; tira também a intransigência. O amor me ensina a negociar os prazos, a superar etapas, a confiar nos fatos. O amor tira de mim a vontade de desistir com facilidade, de ir embora antes de sentir vontade, de abandonar sem saber por quê. E é por isso que o amor me assombra tanto quanto delicia. Porque não posso virar as costas pra uma mania quando ela vem de uma pessoa inteira. Porque eu não posso fingir que quero estar sozinha quando o meu ser transborda companhia. O amor me tira coisas que eu não gosto, coisas que eu talvez gostasse, mas me dá em dobro o que nunca tive: um namoramento por ele mesmo. O amor me tira aquilo que não serve mais e que me compunha antes. O amor tirou de mim tudo que era falta.

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Marla de Queiroz

P.S.: Meu livro "Flores de Dentro" com dedicatória: R$ 30,00 (frete incluso). Interessados mandar e-mail para mim: marlegria@gmail.com

P.S.2: Amores, o evento de poesia que frequento aqui no Rio, o POLEM (poesia no leme) vai completar 3 anos na quarta-feira dia 03/11/10 e eu serei uma das poetas homenageadas. Vou aproveitar a ocasião pra relançar meu livro, pois alguns amigos ainda não conseguiram comprá-lo. Adoraria ter a presença de vcs lá!!! Anotem aí: Quiosque Estrela de Luz em frente ao Restaurante La Fiorentina, perto do posto 1-Leme.Diversão garantida à beira-mar!O evento começa às 19h e rola até a madrugada.

quinta-feira, outubro 28, 2010

Matrioska- a primeira versão- da autora



Ilustração: Kurt Halsey

P.S.: Eu escrevi o texto abaixo em agosto de 2007. Mas gosto tanto dele que resolvi trazê-lo dos arquivos pra compartilhar novamente. Ele tem uma continuação que será publicada posteriormente. Espero que gostem.

Eu omiti que ia publicar um livro com a nossa história real. Foi de pirraça e de amor não correspondido eu ter escrito aquilo tudo. Mas saiba, eu cuidava pro meu coração não acreditar naquela raiva, você sabe, eu não sinto assim, eu não sou assim. Eu só consegui, mesmo com meu coração tão apertado, falar do amor do jeito que a gente acreditou um dia nas primeiras frases. Depois tive que escolher cada uma daquelas palavras ácidas porque não podia levar teu personagem pra guilhotina_ o protagonista não pode morrer no meio da trama. Mas eu não sabia mais o que fazer com você, eu queria desistir do teu personagem porque me doía inteira ele sendo. Escrevi desgostosa tuas desventuras, entenda, eu era a narradora onisciente, eu era deus naquela ocasião e você havia me magoado tanto na página 143.Pode parecer loucura, mas não fui eu quem escolheu você me abandonar naquele café metido à besta, nunca tomei um café que custasse tão caro só pra chorar depois em meio àquela gente cheia de pose. Não podia ser num cenário mais mal-composto. Como autora, eu pensei que pudesse ser a mulher mais incrível do livro, a mais interessante.Mas parece que teu personagem foi me dominando, querendo me magoar em público.E, quando eu achava que tinha todo o controle da situação, você me surpreendeu no final do capítulo cinco, querendo enfiar tua vida numa mochila e ganhar o mundo fora das minhas páginas. Você querendo todas as mulheres que poderiam ter sido minhas amigas. Desculpa eu ter sentido tanta raiva, mas as pessoas vivem essas coisas, até as mais espiritualizadas.Eu tive muita raiva de ser a narradora de uma história que eu não controlava mais. Você podia ter me poupado da sua autonomia, mas saiu, no meio do parágrafo, atravessando as ruas, saltando minhas vírgulas, tropeçando minhas aspas, desrespeitando meus parênteses. Eu tinha escrito uma cena na praia, no finalzinho da tarde, essas coisas que englobam uma lua inédita e cadernos espalhados em cima de uma canga colorida enquanto o casal toma um banho de mar num clima romântico.Mas a sua rebeldia me fez correr atrás de você e discutir a relação num capítulo inteiro, em cima daquela faixa de pedestre, tentando arrancar tua mochila enquanto os motoristas buzinavam furiosos por causa da baixaria debaixo do sinal vermelho-verde.Você bagunçou todo o meu roteiro.Foi por isso que dificultei a tua vida e te dei mais defeitos que charme.Eu queria ferir tua vaidade usando teu nome e sobrenome verdadeiros para que não houvesse dúvidas de que era sobre você que eu estava falando.E soterrei todas as suas qualidades naquele bloco de texto.Foi por isso que meu final feliz incluiu um casamento com um diplomata que não era você, no mesmo dia em que te fiz perder o avião pra Londres.

Eu omiti que ia publicar um livro com a nossa história real porque eu não queria que você descobrisse, antes da primeira edição esgotada, que a tua crueldade ia me render um best-seller.
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(continua...)

P.S.: Meu livro "Flores de Dentro" com dedicatória: R$ 30,00 (frete incluso). Interessados mandar e-mail para mim: marlegria@gmail.com

Marla de Queiroz

sexta-feira, setembro 24, 2010

Uma nova estação

Foto: Fernando Reis

Foi tirando o vestindo sem delicadeza. Despedir-se deveria ser daquele jeito: arrancando de si até o último grão de coragem, sem dramas. Sabia que no sexo, o adeus acende os corpos para incutir na memória a beleza do inesquecível. Por isso deixaram-se reger pela fome de cheiros e jeitos e encaixes. Sugavam ávidos a intimidade que tiveram outrora, quando havia encontro. Mas aquela dança desarmonizava-se tão destituída de alma. Tudo que antes fora abundante no desejo deles, naquele instante era fugitivo. Mesmo sabendo findo, procurou ainda uma fagulha de amor nos olhos dele, examinou aquele corpo em busca de qualquer lugar que ainda não evidenciasse a desistência. Em vão. Não havia mais no toque o contato com a essência. Restava consumir a chama de um resto de afeto na consumação do ato. Naquele enroscamento sem abraço.Aquela seria de fato a última cena.


Inaugurou um novo capítulo: uma garoazinha de tristeza, uma saudade entreaberta, e o vento aborrecido. Sudoeste querendo abraçar tudo. E ela vagueando por aí sem nenhuma palavra que arranhasse o silêncio. O tempo contido nas coisas, os dias aprisionados na ansiedade já não deslizavam pelo calendário. Esperança já nem suspirava. Não havia espera de nada, apenas a companhia corriqueira: ela e a solidão_ mão com mão, rostos sem face. Já não desejava amores nem intrigas de paixão alguma: sossegou-se na solitude aceitando aos poucos o tempo alargado para se preencher com improvisos, sem horários rígidos, sem avisos. Preencheu de paz o espaço novo do coração esvaziado.

(Dizem que a Primavera chega trocando a roupa da paisagem). E no auge da sua descrença o dia amanheceu de novo. Quando não queria mais fugir de si mesma, foi surpreendida por uma voz de timbre limpo, olhos atenciosos e mãos que diziam coisas. Era alguém que tranqüilizava quando apenas sorria. Uma pessoa que trazia em si o amparo de tudo. Tinha o dom da conveniência e da clareza e pronunciava reciprocidade.

O fato resumindo é que o amor não era mais aquele estardalhaço. O amor era suave e tinha um jeito de penetrar sem invadir, de libertar no abraço. O amor não era mais aquela insônia, mas sonho bom na entrega ao desconhecido. O amor não era mais a iminência de um conflito, mas uma confiança na vida. E, pela primeira vez, o amor não carregava resquícios de abandono, pois havia descoberto: o amor estava ali porque ambos estavam prontos.
(O Tempo estava certo.)
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Marla de Queiroz

segunda-feira, agosto 30, 2010

Sobre a harmonia



Foto: Victor


São delicados e sutis os fios da harmonia. Ao contrário da alegria, do entusiasmo, ela é uma das sensações mais discretas.Sua voz é quase imperceptível, feito outra qualidade de silêncio. Ela não é uma gargalhada, é aquele sorriso por dentro, uma sensação gostosa de estar no lugar certo, na hora adequada. Feito um arco-íris depois da tempestade, sua beleza é adornada pelo equilíbrio dentro do derramamento. É um adestramento dos fantasmas internos. A possibilidade de aprimorar os pensamentos. É quase como não pensar. Simplesmente, sentimos uma ligação profunda com tudo, um denso bem-estar. Como se tivéssemos uma secreta intimidade com o mundo, certa cumplicidade com o tempo. É como se observássemos descompromissados, ela é uma descontração. Como se o coração batesse pelo corpo todo, mas sem extremada euforia. Uma tranqüilidade dilatada no peito, o olhar satisfeito, a mente entendendo que já nem precisa entender o que é prosa ou poesia. E o mundo inteiro cabendo num abraço. E uma firmeza na carícia, a maturidade que perdeu o cansaço, uma confiança que preenche a existência. A harmonia é um contato profundo com a experiência. E o tempo do dia não é mais composto por esperas, ele é vivido. E já não se fala, palavras passeiam pela boca. E já não se escreve, as frases coreografam as paisagens. E já não se ama, o amor vigora em nós. A harmonia tem fios muito delicados e sua trama faz a ligação mais suave entre todas as urgências já sentidas. E o chão do sonho é macio, e tudo parece estar alinhavado, numa ligação sem sufocamentos. E a poesia não deseja mais ser nada, vira o afago de um momento. E nas letras a textura de um veludo, como se ao correr pela página, os olhos pudessem ser acariciados. E você tem todas as coisas sem precisar tomar posse delas. Você ama o amor, não o delírio de estar apaixonado. Sinto a harmonia como uma espécie de fascínio pela vida.É quase uma perda de outros apetites, porque se está tão nutrido pela própria companhia. E a gente tem aquela vontade súbita de andar pela noite: não apenas para olhar as estrelas, mas também para por elas sermos vistos.

Harmonia é como se fôssemos inundados pelo mar onde antes só havia um precipício.

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Marla de Queiroz

P.S.: Que saudade de escrever aqui, que saudade! Obrigada amigos por tanta paciência e pelo constante incentivo. Vocês são imprescindíveis neste espaço...

P.S.2: Texto inspirado em Mia Couto...

terça-feira, agosto 10, 2010

esta ausência



Há vontade de escrever nestes dias frios e intensos. E eu me ofereço a página em branco após tantos filmes e músicas, sensações e histórias. Fico agoniada, ansiosa, presente. A palavra me olha nos olhos e me diz calma, fugidia e imensa: há muita poesia guardada na paciência.
Espero.
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Marla de Queiroz

P.S.: Sigam-me no twitter, facebook, (orkut tá lotado)...vezenquando eu dou notícias por lá.
Fico ansiosa pra escrever aqui, mas às vezes não domino, fico só na querência. Eu adoraria escrever assim: por pura displicência.
Obrigada sempre!

quinta-feira, julho 22, 2010

Sobre a felicidade

Desenho: Kurt Halsey

Caro Leitor,

Tenho estado muito ausente das palavras, não elas de mim. Apesar de ter materializado poucos textos, minha cabeça não pára de tecer metáforas e escrever cartas e descrever paisagens. Leitor, eu tenho sentido a felicidade da forma como eu nunca havia idealizado. Percebo que após tantas perdas, havia me tornado pouco exigente com algumas coisas. E a vida, sábia, não querendo que a minha fé diminuísse me deu coisas tão maiores e melhores do que eu esperava. Leitor, eu descobri algo muito difícil de compreender: a felicidade não tira o medo nem a melancolia de ninguém. O medo é uma necessidade de autopreservação e a melancolia pode ser a coisa que mais desenhe lirismo num olhar. Descobri que a felicidade é um estado de espírito e me incomodou a descoberta. Deveria ser confortador, mas isto me dá uma responsabilidade grande demais. Porque eu pensava que seria feliz quando tivesse um grande amor, um bom emprego, ótimos amigos (sempre os tive) e a espiritualidade encaminhada. E hoje eu tenho tudo e, ainda assim, às vezes me vejo melancólica. E nada me impede de acordar de mau-humor ou solitária demais. Porque eu perdi a possibilidade de ter sempre um réu, algo que me tirasse o peso da responsabilidade. Leitor, também descobri que a plenitude dos monges é possível para nós mortais! Isso me apavorou um pouco, porque busquei demais na meditação e encontrei a plenitude na correria do dia-a-dia, no trabalho, no corpo de um poema. Leitor, a felicidade também não nos tira os pesadelos nem planta um sorriso eterno no nosso rosto. Ela vem na superação de um desafio, em forma de alívio. Mesmo estando muito feliz é possível acordar muito assustado. Eu imaginava a felicidade como uma magia que tomasse conta dos meus dias, meio a minha revelia. Mas ela não se move, ela respeita meu livre arbítrio e a minha vontade de me sentir infeliz apesar de. O que me deixou mais aflita, leitor, foi descobrir que a felicidade nem se perde. Ela está à disposição de qualquer um que queira vibrar neste estado. A gente é que se afasta dela. Se a gente se apega ao sofrimento, às sobras, às incompletudes e às reclamações, como é possível simplesmente estar feliz e agradecer? Acho que ser feliz dá muito trabalho porque você tem que se desvencilhar da tristeza. E o abandono produz ótimas reflexões, o relacionamento falido produz mais metáforas, a falta de algo importante dá uma sensação de que injusta é a vida e que você é só vítima de um destino que não está te ajudando a ser feliz. Mas quando tudo lhe é dado assim, como um mar que se oferece pro seu mergulho, ou uma chuva que poderia fertilizar tua alma, se é o sol que faz falta, ou a sombra que te acolherá, que sentido tem a felicidade se oferecer pra mudar o teu rumo, teu humor, teus assuntos? A felicidade deixa a gente sem assunto. A felicidade é muito mais interessante quando ela é difícil de obter. Leitor, perceber que a distância entre qualquer um e a felicidade é uma quilometragem inventada me deixou pasma. Porque se ela sempre esteve ali, por que só consegui senti-la profundamente agora? Porque eu precisava entender que nada me faltava, eu sempre tive o suficiente de acordo com as minhas escolhas. Hoje, o que tenho é fruto da mesma coisa. Leitor, a felicidade talvez seja só uma escolha... e isso nos compromete demais.

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Marla de Queiroz


P.S.: Amores, estou no twitter.... MarladeQueiroz

terça-feira, junho 29, 2010

Palavras


Palavras comportam pessoas, paisagens, todas as formas de amor, silêncios.
Palavras cometem bilhetes, sonetos, cartas,contratos.
Palavras confortam, instigam, preenchem.
Palavras também se ausentam, entendem vazios.
Palavras constroem histórias, imagens, conceitos.
Palavras aceitam tudo, palavras não têm preconceito.
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Marla de Queiroz

P.S.:Este poeminho eu escrevi para o blog da Maria Filó no dia do orgulho gay.

sexta-feira, junho 18, 2010

Efervescências

Desconheço o autor da foto


Acordar ao seu lado, esse eterno amanhecer por dentro, um sol interno tão aceso, essa alegria gratuita. E existe algo em nós que é tão recíproco cúmplice e intenso. Dos nossos olhares que dizem tanto sobre tudo silenciosamente. Um movimento de corpo que é tão ao encontro o tempo todo. Da compreensão e paciência a que nos dedicamos diariamente. E o amor que permeia tanta poesia, e a poesia que se entrega inteira pras palavras que querem dizer do abraço. Seu corpo tão moldado ao meu, natureza líquida de água e jarro. Você me conduzindo à fonte de todas as coisas, lá onde o desejo se origina. E nada míngua com o passar do tempo e mesmo acreditando não ter mais espaço, cresce, flui, se imensa clareando o que era escuro e frio.Cada vez mais e mais eu preciso dizer do amor. Dessa ternura delicada. Cada vez mais o amor sendo a melhor experiência. Cada vez mais eu percebendo que se nada no mundo é definitivo, nossa história eu sei perene. Uma primavera inaugurada a cada dia. E mesmo que nada possa ser eterno, mesmo que o “pra sempre” não exista, eu sei que vou seguir te amando, pelo menos, pelos próximos 99 invernos.

(E se ainda eu não consigo explicar você pra mim, eu simplesmente aceito e agradeço.)

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Marla de Queiroz

sábado, junho 12, 2010

Namoramar







Namoramar
para seguir de mãos dadas
e projetar no futuro o presente.
Namoramar
para se sentir acompanhada
mesmo quando o outro está ausente.
Namoramar
para encontrar no amor sua casa.
Namoramar
para ter em si o aconchego que é estar
tão na-morada.


(Namoramar para desenhar sentido na rotina e descobrir no
verso seu inverso ou sua rima).
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Marla de Queiroz
P.S.: Este poema eu escrevi para o blog da Maria Filó ;-)
EU AMO MORAR NESTE ABRAÇO!

terça-feira, junho 01, 2010

Desafeto



Foto: Carlos Tavares


Não quero mais o beijo molhado, o derretimento castanho dos olhos, o sorriso sacana. Não creio mais em tardes febris ou saudades desesperadas. Tudo é verbo, verso, papo furado. Tudo pode ser rasgado, cuspido, jogado no lixo. Obra prima perdida em rasuras. Poesia sem calor de corpo. Paixão destituída de loucura. Fogo morto.

Não quero mais o encaixe de tudo, o perfume da pele, a carícia dos dedos. Não creio mais em noites acesas, em madrugadas intensas, em manhãs de luxúria. Tudo é fome e desejo de saciedade. Tudo é espera por novidades. Displicência de afetos, perda de tempo, sexo sem vontade.

Não quero mais sensações de eternidade, abraços pra sempre, sussurros de amor. Creio em frases desacompanhadas, em palavras cruas, textos sem autor. Tudo é falta de comprometimento, tudo é vácuo, vazio, relento. Tudo é falta de rumo, um peito apertado, tristeza sem dor...

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Marla de Queiroz

P.S.: Amores, obrigada por tudo!!!! Vocês sonetizam minha vida!
P.S2.: Texto baseado em fatos surreais! L.S., obrigada pela confiança e por compartilhar
tua história comigo.