domingo, dezembro 31, 2006

Um brinde!

Foto:Isabel Gomes da Silva


Que o poema-novo inaugure o ano
porque estarei ampliada de desapego
quando estourar a primeira estrela.
Eu só quero continuar sendo merecedora
das alegrias que tenho
e um abraço pra sempre.
Porque se há-braços, é para a abundância deles.
*
*
*
(Inspiração, criatividade pra fazer novas escolhas e um coração sossegado de tanto amor pra todos nós).

quinta-feira, dezembro 28, 2006

ANIVERSÁRIO


Foto:futiLE
Hoje eu comemoro 1.488 luas.
Pedi pro Unviverso essa previsão de tempo:
Estrelas trincando silêncios,
Chuvas lavando mágoas,
Sol-risos abrindo flores
e 28 alegrias na primeira semana de janeiro pra cada um de vocês.
(Façam seus pedidos!)
No mais, têm presentes que não cabem na palavra obrigado.
Sol-rindo:
...
*
*
*
(Marla de Queiroz)

terça-feira, dezembro 26, 2006

Verão com vista pro Amar

Foto:Ricardo Zerrenner


Assim, toda adereçada de flores pela primavera, foi que a Cidade conheceu o Verão. Ele chegou num dia fértil, arrancando as manhãs da cama mais cedo, desabotoando o suor pra escorrer no decote das tardes, derrubando na areia estrelas maduras. A Cidade o esperava amanhecida, semi-nua, vestida apenas
de luzes, de luas, de chuvas breves, de cio latente, de saias leves contornando as curvas do calçadão. No desaguar de tanto desejo, tudo se transformou em encontro: e os que habitavam seu corpo, com o calor daquele abraço, mergulhavam a língua de sal do suor do mar.

Seguiram compondo cenários, amando-se embaixo dos Arcos, dos Circos, aplaudindo o pôr-do-sol, amanhecendo pelas praias antes que o mesmo acordasse, até vê-lo surgindo, sonolento ou inclemente, cumprindo seu ofício, brilhando como os fogos, mas já sem artifícios. E num Janeiro que nem era sobrenome do tempo, mas da Cidade, onde a música e a cultura se misturavam diversos, viram-se naquela tarde meio chuvosa desejando experimentar a matiz das possibilidades.

E a Cidade resolveu cair no samba, já era Rio com ânsia de mar. E o Verão atormentado de ciúme resolveu chover sua fúria. Mas a água que vertia dos seus olhos era doce e ampliou as conseqüências do seu desespero: os convidados da festa carnal bebiam, brindavam, comemoravam cantando a plenos pulmões, com as veias do pescoço saltadas, aquelas músicas que inundavam de saudade lúdica.

Desencontrados enfim, após a ressaca da quarta-feira cinza, na dança das fantasias, um o Frio, a outra a Serra, atraíram-se sem saber segredos que escondiam máscaras.Deram-se as mãos e brincaram na avenida. Atraídos pela sintonia de suas fantasias, rodopiaram, dançaram e foram abençoados e lavados de poesia e lirismo pelas quentes e torrenciais Águas de Março.

BY: Marla de Queiroz

Texto publicado na primeira edição da revista DROPS MAGAZINE
do Rio de Janeiro.



quinta-feira, dezembro 21, 2006

Poema que não alcança o gosto


Foto:sweetcharade
Seu despudor gentil
rompe a resistência
da minha carne morna.

Um calor intenso
de verão,de corpos
desata
a liquidez salgada entre-colchas,
o fluido doce entre-coxas.

Não há gelo
que tire da pele
a digital dessa mordida,
essa cor roxa.
*
*
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(Marla de Queiroz)

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Na-morada


Foto:Felipe Rodolfo Silva

Eu vou morar em você
e arreganhar todas as frestas
pra que o tamanho do seu abraço
seja também o da sua entrega.
E a gente vai viver de arredondar palavras,
de deixar traumas pra trás, sobre as calçadas,
de escrever poemas sobre flor
e acordar dizendo:
Bom dia, Marlarida
Bom dia, Girassol
Boa noite, meu amor!
*
*
*
(Marla de Queiroz)

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Rotina

foto:António Lança


Quando ele me beija ao se
despedir pelas manhãs,
remoça meus desejos de chuva
e feriado.
Quando ele me beija
antes do abraço noturno,
tece faíscas de sol
nos meus sonhos.
Quando ele me beija
nas madrugadas acesas de amor
tira dos meus ais uma rima bonitinha e simples
como quem enrosca nos meus cabelos
a florzinha mais singela que se chama:
meu-amor-não-te-abandono-nunca-mais.
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(Marla de Queiroz)

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Completude...


Foto:Berenice Kauffmann Abud


É dia, mas o ar riscado por fios de noite. Parece que vai escurecer tanto.
A voz velada do meu medo te chama pra perto, disfarçando o desespero rouco.
A vontade de te ver incendeia os olhos, a paixão encorpando a saudade.
Porque eu lembro e aperta.Eu lembro tanto e sempre. Mas trocaria a sensualidade que me arde na terra do corpo por um mar de ondas amenas onde as gaivotas se alimentam...
A paciência que havia foi esquartejada, amiúde, pela indecisão. E a única palavra que sobrou já veio espessa de tristeza, camada grossa de agonia, angústia fina penetrando a carne dos olhos. Bom seria se se pudesse dizer adeus sem perder a calma.

É que mesmo os melhores finais inda doem.
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(Mas um segredo que quero revelar é que um dia eu quis dizer que amava tanto,
e fiquei nervosa, a garganta seca, a frase grave porque eu não sabia se.
Então eu quis dar leveza aquilo tudo e disse apenas aquela frase...
só tive coragem de dizer que você era a razão do meu banho demorado).
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Marla de Queiroz
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Letra de Daniel Chaudon e música de Fernanda Dias
pra inspirar: TUA PAZ

terça-feira, dezembro 12, 2006

Conclusão


Foto:António Lança
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Dentro da aurora vaga,
na hora exata da sonolência do sol
(naquele momento em que o olhar tranqüilo do ócio
amolece as manhãs como se fosse sempre outono)
desataram as mãos e desviaram rapidamente o olhar em ruínas,
num rompante de rubricar com passos velozes
um fim.

No rodapé da página virada,
um poema sangrava lentamente...
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(Marla de Queiroz)

domingo, dezembro 10, 2006

...


Nossa história é antiga,
mas inda nem começou.
É semente de música,
prosa rabiscada em papel de pão
esquecida ao lado do computador.
Nossa poesia é casada
com a euforia das histórias breves;
versos catados na neblina
cansados de rima,
enterrados na neve.
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(Marla de Queiroz)

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Mas,... como eu ia dizendo...


Foto:Paulo Medeiros
Porque ele está triste.
Seu olhar de nuvens lacrimeja angústia querendo chover.
Recusou a brincadeira de versos, só aceitou mesmo
a luz azul do pensamento bom.
Falei pra tirar a poeira melancólica da voz embargada,
pois já nem canta.
“ Eu cuido de você”, eu disse.
Mas ele acha que eu não dou conta:
“Ah, você só sabe falar de flores!”
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(Marla de Queiroz)

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Passado a limpo...

Foto:Fernando Figueiredo
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O rascunho é este:
Eu não vou falar de flores;
Enjoei das borboletas;
Vou catar poesia no lixo
e rimar amor com desperdício;
Vou deixar esta página em branco
ou um poema maculado pela desistência.
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(Marla de Queiroz)
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E tem mais...Mais um dos poemas nascidos a nove mãos,
regado por água que passarinho não bebe na Avenida Paulista:
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POESIAÇA

Manguace-me, poeta das bandejas
entorpeça-me coa plenitude deste momento
[despretensioso e etéreo
etílico
que prova, mais a mais, de modo empírico
que o rebento em grupo é aéreo e lírico
traga o copo,
traga a realidade sua fuga
transubstancie ternura etílica,
diga!traguemos deste ar,
deste espírito delírios, ilusões, doideiras híbridas
tracemos nesse mapa o nosso vôo
incrivelmente lúcidos e lúdicos.
Vertamos as lágrimas
de alegria
que lavam a cidade da mundície
E essa dormência, poeta das bandejas
é o que em nós se almeja.
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P.S.: Muita cachaça nessa aur[h]ora!!!rsrsrs.........
Saudade eterna de todos!

terça-feira, dezembro 05, 2006

Entre flores e fontes...


Foto: António Lança
O nosso mundo é virtual,
namoro que nasceu na rede
num jardim de verdanas e negritos.
Todos os dias ele me acorda
com um buquê de girassóis de Van Google.
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(Marla de Queiroz)
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P.S.: Hoje sou a convidado do Múcio Góes (meu amormáximo!) pra postar no BLOG DE 7 CABEÇAS.
A apresentação dele ficou mais bonita que meu poema...;-))...........
Porque sou fã demais.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

A Torre...ou...Para o Guardador das Estações.

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Ainda esse problema de insônia e a dificuldade de entrega ao sonho enquanto o vejo dormir.
E a sensibilidade exacerbada me privando da quantidade de café que gosto tanto:
o peito aperta como num mau presságio.
Hoje pedi tanto que a chuva cessasse enquanto eu ensaiava aquela carta,
mas minhas mãos cansadas, encabularam-se. E a chuva não cessou.
E fiquei decepcionada por não conseguir encontrar raiva dentro de mim
quando vi um casal se atirando da Torre num Arcano Maior do tarô.

(A umidade estagnada neste quarto ,o bafo quente de chuva, o cheiro de incenso e
esse hálito de mofo que têm tido os dias. Nem assim encontro raiva dentro de mim.)

Temo que qualquer decisão que eu tome,machuque demais meu silêncio.
Então, diariamente, decido pequenas coisas como não sair de casa pra não ter aquela sensação de que sempre estou esquecendo alguma coisa.
Decido qualquer espécie de distração porque têm perdas que só doem
quando a gente presta muita atenção nelas.
(Um dia eu vou me permitir acordar bem frágil ao ponto de escrever aquela carta e esfacelar o envelope entre os dedos com toda a força da fartura do meu medo).

Porque o que me faz postergar tanta coisa, é que a gente se conheceu dentro do olhar um do outro--um desses encontros que vêm com eternidade junto.
Mas uma decisão se faz necessária...
Pode ser que eu a tome depois de mostrar a ele três ou quatro músicas inéditas
que não ouvimos naquele dia, ou depois de usar o tal vestido pra conhecer o bar novo que nos deixou curiosos ou quando eu terminar de ler o livro dele que peguei emprestado.
Não gosto de boas leituras interrompidas.
Não gosto de músicas desamparadas de admiração.
E ainda preciso de alguns dos seus abraços pra acordar lírica.
Eu sei que uma decisão se faz necessária,
mas só depois que.
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(Marla de Queiroz)

Canto Etílico À Rayanne

por Marla, Czarina e Leandro Jardim.
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Véspera de sol-risos
Num céu de rayanne
Perdoa-me colega
Por esses versos não serem meus
Do meu mel
Tá aí a minha manha
Que é de hoje e amanhã
Ou talvez é de depois
Talvez seja de rã
Essa coisa tacanha
Reinada pelo deus pã
Que nossa história seja
Líquida, mas nunca escassa
Estrela que se banha
No calor das águas
Como carne sem as banhas
Como chuva sem as mágoas
Como tudo
Como
E com.

quinta-feira, novembro 30, 2006

Síntese2



Foto: Catarina Paramos
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A POESIA ACONTECE
QUANDO AS PALAVRAS SE ABRAÇAM.
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(Marla de Queiroz)

quarta-feira, novembro 29, 2006

Poema a 9 mãos...eu diria Poesia Etílica!


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A chuva cessou
No peito alegre da menina
Triste
Mas as poças ficaram
Nas moças coisas ficam
Espelhando o novo céu que se abre
Espalhadas pelo chão, nesgas e nuvens
Que refletem mais que meu rosto
Desgosto, dizem, infiéis tormentas
Lamentos pelo caos que a tempestade
Deixou
Tantas rachaduras no asfalto
Tantas poças inspiradas pela chuva
Que o mundo escorrem
E escorrem...
Por dedos descuidados
Por vidas que se correm
Nos tempos que nos morrem
Pra chovermos noutras bandas
Umidade do mundo, por onde andas?
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poema criado em conjunto pelos participantes do
primeiro encontro de poeblogueiros
edição Rio-SP
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P.S.: Um dia, moraremos todos juntos num balão...

terça-feira, novembro 28, 2006

Síntese

Foto: Fernando Lucas
A rua se enchendo de gente, o buquê de flores falsas, a viagem pra cidade dos casacos coloridos,
o fim do namoro, a saudade das sensações (não das pessoas).
O grito contido no olhar pela decisão tão postergada, a angústia silenciosa antes do surto, a gargalhada brotada do peito depois do susto; e esse choro por dentro, a voz que falha quando engasga na fala e não alcança o sentimento,
E o arco-íris diluído no copo,
o poema escrito no corpo,
o amor preenchendo a cena enquanto nos embriagamos de lirismo...
Eu tinha trinta e sete citações literárias pra fazer entre as risadas;
eu tentava desfazer toda a tensão do vento.
E tinha guardado dentro de cada manga um escândalo, uma piada e um plágio.
Você com suas histórias, eu com as minhas fontes e esse meu jeito
de ir olhando as coisas por dentro com cara de sono.
Um dia começaremos por onde sempre terminamos:
cantando animadamente trechos tristes de Roberto Carlos e Paulo Diniz,
fazendo as curvas da estrada de Santos nas esquinas do Rio de Janeiro ou tomando um chope pra distrair;
E sempre indo embora lúbricos, costurando com os pés
nossos caminhos de areia e asfalto.
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(Marla de Queiroz)
Postado em Março de 2006.

P.S.: Ainda não consegui escrever sobre o mágico encontro com os blogueiros paulistas.
Aguardem!

quarta-feira, novembro 22, 2006

Lado B


Foto e produção: Marco Teobaldo e Guilherme

Sou Marla de Queiroz, de Quereres, de Querências.
Marla de Todos os Santos.
Filha de índia domesticada no laço e do resquício de sal da língua portuguesa do mar.
Batizada, abençoada e protegida por Iemanjá.
Ando descalça em brasas,cacos, barro, nuvens.
Ando destituída de tudo, menos de confiança e coragem.
Se às vezes sou pedra que, abrupta, não se deixa lapidar,
também faço chover barulho de tambor arrebentado em mãos furiosas
pra alimentar a rameira e as ramagens.
Não sou poesia, nem prosa,eu nem caibo num verso:
sou o que estou quando toco, gozo, choro, gargalho,converso.
Tem dia, minha cigana pega a estrada e diz “ quero namorar o bom moço, o mendigo,
o safado mais tarado, ou aquele ali do olhar triste”. E vai.
Incansável, nunca senta na calçada, segue sem rumo até se debruçar no mar,
pede benção a Iemanjá e canta em prece qualquer coisa doce.
Do amante, quero a fúria de um olhar que despedace qualquer máscara para
que eu não diga “ tenho fome”, mas,“ estou faminta”.
Sigo rompendo, rasgando, desconstruo,restauro, conserto.
Nasci para gerar budas, gerânios e processos de cura.
Tem dia que acordo ocupada em me desorientar o quanto puder
pra nunca precisar de bússolas, relógios, mapas ou qualquer coisa que
envelheça meus sonhos.Minha intuição me guia.
(Rasguei a civilização nos dentes pra restaurar os meus instintos).
Não planto flores em cascalho e nem rego sementes invalidadas pelo tempo.
Prefiro reinventar a fertilidade cobrindo com meu pensamento-azul
o que antes estava triste, murcho, desagasalhado.
(Lamento,culpa e arrependimento é sangue bordado no vento).
Faço um móbile de folhas secas e penduro na janela só pra lembrar o que a morte
faz com as coisas que já foram vivas. Porque assim, encontro beleza em tudo.
Eu aprendi com a chuva a ressuscitar o que estava oco.
Mau-humor, dor de dentro e desânimo, eu resolvo com abraços.
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P.S.: Essa aí na foto sou eu. Foi tirada em abril de 2006 pro livro de um amigo.

domingo, novembro 19, 2006

Tanta saudade



Esperei que todos saíssem pra chorar no tom mais agudo que eu tinha, toda aquela emergência adiada. A casa vazia e eu me esvaindo em lágrimas enquanto compunha com música o cenário adequado pra saudade represada. E clamei pela salvação da palavra, pela organização dessa desordem de sonho.
É que brotou amor demais da flor dos olhos me aguando toda por dentro.E as minhas alegrias sempre superlativas me condenam à exaustão. As belezas que experimento têm delicadezas violentas demais,quase não as suporto.Essa coisa açucarada que adoça tardes e engole minhas noites, me deixa tão completamente fascinada e envolvida que, sem me ausentar, corro contra o tempo, ultrapasso dias e volto pra viver duas vezes a mesma coisa.Fico chuviscando por toda parte, meu corpo se liquefazendo em abraços.
Assim, como num mergulho.
O fato é que quando é muito bom explode dor e medo no peito porque parece que a gratidão, de tão imensa, não caberá em mim.
E nunca sei quem me tornarei depois de ser ampliada por tanto afeto e amor.
Tenho medo de ficar exageradamente pura enquanto cato as estrelas maduras que caíram no jardim.
E de tanta doçura, tenho medo de ficar enjoativa.
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*
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(Marla de Queiroz)

P.S.: Ah, essa saudade...

sexta-feira, novembro 17, 2006

Inesquecível Azul

Foto:Evelin
Para Marla, Leandro Jardim, Grilo e João Antonio

Jardins onde estreladas margaridas
entoam hinos cricrilantes da mais pura poesia ressonante.
E dissonante, a vida amanhece em clave de sol
quebrando ondas de esperança.
Eu eternizo dentro todos os amores gravados a sol-risos
cintilando o azul das possibilidades.
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*
*
P.S.: Por aqui, tenho vivido dias incríveis de inesquecível beleza.Eu, Rayanne, Leandro Jardim e Grilo bordando histórias no vento...Uma amizade que começou agora, mas que só pode ser re-encontro.Magia é pouco.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Desconforto



Foto: Carlos Neto

A canção distorcida pelo volume alto e todo esse mal-estar, apesar do sol.
(Alguma coisa impronunciável dói em nós,bem sei).
Nossos crepúsculos internos, tantas belezas, e os caminhos se rasgando em dois como se tudo brotasse morto daquelas sementes abstratas.

Eu tinha uma frase de impacto pra usar nessa hora,
mas ela não coube na minha voz.

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(Marla de Queiroz)
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*
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Nenhum verão
(Túlio Mourão)

Esse sol, porque tinha de tanto brilhar
Anunciar no meu peito o amanhã pra depois sumir
E deixar tão mais negro meu céu, minha noite
Porque foi minha boca beber, se embriagar da tua boca
Pra sobrar tão mais amargo o gosto de vazio, de solidão
Meu coração prefere acreditar nessas promessas
Mesmo essas que só fazem abrir minhas janelas
Pra nenhuma, pra nenhuma, pra nenhuma paisagem.

Ah, porque me invadir como doce canção
Pra depois me ferir, me queimar com ardor de toda paixão
Eu assim te acolhi sem nenhuma defesa
Como nova estação quando chega, um belo dia, uma certeza
Um vinho dado à minha mesa
Uma palavra, um abraço de irmão.

Meu coração prefere acreditar nessas promessas
Mesmo essas que só fazem deixar na minha pele
Calor, luz, alegria pra nenhum verão.

*
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Março 2006

terça-feira, novembro 14, 2006

Sudoeste


Desconheço o autor da foto.

O que dói em você, pouco me importa.
Eu não cavei teus abismos de mim.
Fui teu abrigo, teu barco
e lua cheia iluminando caminho.
Você escureceu nosso afeto,
você minou nosso rio.
Pra eu ficar, só precisava do seu toque agasalho
você me deu esse punhado de frio.

*
*
*
(Marla de Queiroz)

domingo, novembro 12, 2006

sexta-feira, novembro 10, 2006

Apelo


Foto: Cristye
*
É com força que eu aperto os dentes pra pedir que você venha e que me tenha, eu te esgano seu safado, eu te quero meu poeta, eu te tenho meu escravo. Sou pudica, poderosa, frágil, puta, vadia, vaidosa, sua, sou de qualquer um se você quiser, eu minto, eu ordeno, eu imploro, mas eu quero assim, intenso, dentro, agora, até te deixar exausto, te caço, te engulo no abraço, te domo pelo pêlo, te arranco suor e saliva, sou a palavra nua, úmida do teu verso de sêmen, desse jorro de semântica, sou tua cria, tua poesia, a metáfora que você idealiza,eu vivo em brasa, eu vivo de brisa, te acolho, repudio, bato, eu te quero inteiro, qualquer coisa eu faço, tesão não é a minha reação, tesão governa minha vida.
*
*
*
(Marla de Queiroz)

quinta-feira, novembro 09, 2006

Flor e ar



Se eu me Flor no Vôo
quem dirá que já não era
o Templo da ida?

Pra quem viveu intacta
bordando o rosto da espera
no travesseiro,
qualquer movimento
já guarda em si
Encontro.

É porque eu demoro a compreender,
mas quando a ousadia chegou a mim,
eu já estava de malas prontas
e a alma com os sapatos adequados
pra descalçar meus medos.

(Eu nasci com essa saudade ancorada)
*
*
*
Marla de Queiroz

quarta-feira, novembro 08, 2006

Continuação...(do post anterior)

Desconheço o autor da foto

Quando acordou
havia um bilhete
ao lado do maço de cigarros...
Vazio.
“Pode ser que um dia eu sinta a sua falta”, pensou,
“ Por agora, preciso é parar de fumar... Putz! Devia ter comprado dois maços ontem!”

*

*

*

(Marla de Queiroz)


terça-feira, novembro 07, 2006

Desistência


Foto:Catarina Cruz

Cansada das intermináveis conversas estéreis e da ausência de tato no ato,
desfiou as horas contemplando o protagonista da sua mais dolorosa desistência.
E, antes que o mundo acordasse, escapou do abraço inocente
deixando somente um bilhete e um abismo no lugar do afeto:

“Não fui comprar cigarros, você sabe, parei de fumar há tempos.
E eu jamais abandonaria alguém contando uma mentira dessas.”

*

*

*

(Marla de Queiroz)

sábado, novembro 04, 2006

Insônia.


Foto:Cristye

Quando perco o sono fico costurando flores por dentro dos sonhos , no viés do vestido da noite.
Às vezes me dá uma vontade crua de ser triste só pra encharcar com lágrimas de sal a poesia e espantar as abelhas.Mas não aprendi amargura nem quando me amamentaram com fel.
Eu só preciso pingar duas gotinhas de lua nos meus olhos pra dilatar a pupila e resgatar minha inocência.
E aceitar com ternura minha vida de insônias, ardências e alguns (des)encontros.
Estou com sede de mudanças, mas não quero arrastar os móveis, nem desentortar os quadros.
Quero desabitar meus hábitos; entrar na poeira estagnada das coisas e assoprá-la no vento
como quando se liberta um passarinho depois de curar sua asa machucada.

Pra estar feliz eu só preciso deixar que meus dedos dancem a coreografia do poema novo,
vestir as palavras de cetim pra seduzir o moço
e aumentar as exclamações do seu desejo.

Amanhecer é da competência dos dias.
O poeta tece a paisagem.
*
*
*
(Marla de Queiroz)

Pra não dizer que não falei das cores...



Foto: Maria de Fátima Silveira
*
Ver-ter-se
pra
flor-e-ser
pra
ver-de-novo
ou
vermelho[r]
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*
*
(Marla de Queiroz)

quinta-feira, novembro 02, 2006

Musa


Foto: António Carlos Silva
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*
Tua pele
alisa
minha pele
lisa
é tua.

Nua
Sol-tua-Lua.

(Cheia de mel).
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*
*
(Marla de Queiroz)

quarta-feira, novembro 01, 2006

Há-Mar.

Foto: Catarina Cruz
É preciso
que você navegue
o caos
até
meu cais
para que eu possa
abarcar
e transmutar
tua
nau-frágil.
*
*
*
(Marla de Queiroz)

segunda-feira, outubro 30, 2006

Deixando ir...ou carta que pretende ser um beijo.



De repente é noite e você está tão só...O meu dia foi tranquilo, mas eu sei que o seu te doeu até agora e eu não posso amenizar nada com palavras que pretendam ser abraços porque elas te falariam obviedades sobre tempo, paciência e espera_ quase uma crueldade quando o que a gente quer é uma premonição, uma certeza, alguma frase cheia de sabedoria que norteie nossa vida.

De repente a semana está começando de novo, mas só se passaram alguns dias e todos foram tão abarrotados de ausência e medo e confusão interna, de uma busca quase estéril de se sentir melhor ,de fazer coisas por si mesma...E o buraco insistindo no meio de dentro do corpo, o abismo gelado, o choro engrossado de escuridão e descrença...E eu te vejo encolhida num canto, o desespero nos olhos, o peito abafado, a vontade do grito e a falta de fôlego...E eu não sei a coisa mais bonita que eu poderia te escrever....Sei que já vi borboletas voarem faltando um pedaço da asa e rosas incríveis desabrocharem num copo com água: e é disso que me nutro pra acreditar que a meteorologia nem sempre está certa e que dias tão cinzentos podem ser prefácios de noites com sol...

Sei que se eu estivesse aí,certamente estaríamos juntas no cantinho mais confortável de qualquer lugar escolhido por você e eu te daria um abraço com tanto encaixe e amor que você, por pelo menos alguns minutos, encontraria“ um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”...E mesmo que o seu corpo todo doa numa súplica e que “ele” seja toda sua ferida, meu amor, eu espero ,sinceramente, que o pedacinho que falta na tua asa, não te impeça o vôo...

( Minha flor, o que eu tenho pra te dar é colo, não conselho...E todo amor que transborda em mim, vai ser seu até que nada mais doa tanto...)
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*
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(Marla de Queiroz)
Abril 2006

sexta-feira, outubro 27, 2006

Com-tato


Foto:Carla Salgueiro
Deitado ao meu lado, seus dedos deslizaram pelas minhas costas
abrindo fendas e poros, tecendo caminhos,amanhecendo desejos.
Afastou meus cabelos da nuca pra roçar o seu queixo.
Eu sentia a sua respiração no meu ouvido, seu sopro de vida entrando em mim.
Desajuizada e mansa, deixei que com um movimento de braço
levasse meu corpo em posição de feto pra dentro da concha do corpo dele.
Naquele encaixe, com o nosso melhor calor, ficamos ali,
desabotoando fomes, desamarrando sentimentos.
Meu coração estava na boca...pro beijo.

Ele não me acordou.
Ele entrou no meu sonho.
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(Marla de Queiroz)

quinta-feira, outubro 26, 2006

Mar-lá...(restos de memória)


Foto: Carla Salgueiro
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*
Sempre depois de uma fase de extrema euforia e noitadas intensas, eu preciso parar pra organizar meus sentimentos_ as coisas que vejo, como as sinto_ por isso preciso de amplos momentos de solitude e começo a namorar o silêncio. Eu nasci com um certo medo de incomodar, depois de um tempo comecei a ser eu mesma pra saber se o medo tinha fundamento. Não sou alvoroçada, barulhenta, sou alegre e rio alto, faço piada de tudo, rio de mim mesma.Isso vai dando uma coragem na gente de ter mais luz.E aí a tal beleza exótica que sempre me disseram que eu tinha passou a ser um elogio. Antes eu ouvia isso como uma forma que a pessoa tinha de me dizer que não estava certa se eu era bonita ou feia,mas nasci velha, filha de índia, angustiada com questões tão mais abstratas que nem tive muito tempo de criar complexo, mas pra investir em amplexos. E fui criada meio sozinha, cuidando da casa e do irmão mais novo, fazendo o almoço com 6 anos de idade e acordando às 5h pra preparar o café-da-manhã antes de ir pra escola que era longe. Mas sempre estudei em colégio bom. E tinha tanta liberdade na adolescência que fazia meus horários de voltar da festa, me disciplinava menina por vontade que eu tinha de cuidados comigo, me enchendo de auto-restrições dentro da vontade de transgredir que todo adolescente tem, porque eu podia, ninguém me cobrava nada. E sempre fui uma criança melancólica, preocupada com os problemas dos adultos, sem tempo pra parque.Capricornianos são assim,nascem disciplinados, responsáveis demais.Um dia ouvi duas mães de amigas minhas comentando: essa menina é como uma fruta fora de estação que amadureceu à força. Nem entendi na época. Hoje, minha mãe me chama de MÃE!Não vejo tristeza nenhuma nisso, maturidade é uma coisa que facilita demais a vida da gente.É estranho, mas entendo dores que nunca tive. E tive dores que ninguém teve, mas nunca banalizei nenhuma. Porque parece que tudo dói do mesmo jeito e aprendi a cuidar do outro de uma maneira que não me souberam. Daí, descobri os amigos. Não rivais, amigos. E descobri o amor de um corpo por outro corpo, bem tarde já, pra época. E sempre tratei melhor amigo que namorado porque nunca consegui me sentir pertencendo a nada, a ninguém.Eu sofria demais com a idéia do abandono. Pelo menos, amizade seria eterno e duraria. É porque abandono tem o acostamento largo, além de ser estrada deserta e escura.Nunca parei pra trocar pneu na estrada do abandono, mas já me deixaram nua, depois de um falso amor, no estrado de uma cama ou na estrada deserta. Sem nada nem ninguém. Mas eu tinha a mim mesma.
Eu negocio com essas coisas todas, com perdas, vejo ganhos em danos,não fui criada com danoninho, mas com tutano de boi. Quase não se vêem as costelas no meu corpo, sou robusta emocionalmente. Tenho a mão pesada, o corpo macio pro afeto.Tenho doçura sem ser meiga e minha voz é forte e rouca. O meu colo é largo, sem que eu seja gorda. E eu nunca quis ter cabelo liso.E o meu nome se parece muito com meu jeito.
Minhas flores eu planto no papel reciclado.
As outras, eu ganho ou presenteio.
*
*
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(Marla de Queiroz)

terça-feira, outubro 24, 2006

Presente do Múcio Góes



Foto: Chico Matos

Múcio Góes, o poeta -flecha segundo Rayanne, mandou hai kai pelo SMS.
Vou postar aqui, pra matar a saudade que lateja no peito.
Porque ele não foi pra Salvador, mudou de planos, mas está sem PC.


Olhos voando
enquanto no peito
pessoa
fernando-Mar
cherri!
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(Múcio Góes)

segunda-feira, outubro 23, 2006

MAR-RITMO


Foto: Adlia Campos
*
Enquanto espero por ele,
como uma deusa,
eu danço com meus demônios:
suada,
exalando feromônio
e ávida
por adrenalina, endorfinas e serotoninas
ou qualquer coisa
que faça vingar a nossa
rima.
E que transforme esse amor,
desencontrado do nosso mapa (astral),
na mais perfeita
química.
*
*
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(Marla de Queiroz)

domingo, outubro 22, 2006

Véspera


Foto:Pedro Lima

Quando você vier haverá o encontro da sua busca com a minha espera.
E o seu abraço será a moldura do meu corpo.
E a minha boca o pretexto para o seu mais demorado beijo.
E a gente vai brincar de se desmaterializar dentro da música,
de desatar auroras,
de escrever poemas de orvalho...
E eu vou inventar uma madrugada eterna pra quando você tiver que ir embora no dia seguinte.
E você vai inventar um domingo que vai durar pra sempre porque tenho preguiça das segundas-feiras.
E a gente vai rir dessa maldade da demora do tempo pra fazer essa brincadeira de desencontro:
quase nos deixou descrentes...
A gente vai rir dessa maldade porque o nosso amor será a coisa mais bonitinha do mundo...
*
(Marla de Queiroz)
*
*
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Junho 2006

sábado, outubro 21, 2006

Perfil 3



"Caboquinha corria dentro do vestidinho vermelho com flores brancas e pequenas. Estampas querendo o suicídio coletivo. Morrer no revés do tecido. Nada tem a ver com as cores que se avistam com olhos recém-nascidos. Para é sempre Caboquinha. Depois que conheci Caboquinha foi como se me colocassem viseira para burro birrento. Para não enxergar periferias e abismos e se por de ré; talvez, até soltar uns coices. Caboquinha tem cabelos de alecrim. Loura negra. Boca carnuda de chupar o polegar, beiços vermelhos de lamber garapa; pernas grossas de subir morro; pelo mocotó, uma idéia das delicias para o rumo de cima; olhos negros e mudos, timidez treinada para coronéis; língua solta quando atentam suas entidades baixava a pomba-gira. Levanta terreiro. No mais, cheiro de mato e safadeza. Hoje, a ciência descobriu que se chama feromônio esse olor de bicho no cio e caboquinha vive desvairada. Recatada era pela força dos modos. Filha de macho que não quer ver filha sua perdida na vida. Claro, o safado bem desgraçou tantas. O sangue que lhe veio nas veias já havia contaminado a prole. Caboquinha aguava desde menininha. Quando lhe dava aperreio, corria pro córrego e era visão farta pros bichos, cheios de sede. Qual eu, sedento de caboquinha. Um dia, virei homem e a arrastei pelos cabelos. Botei cabresto e montei no pelo. Várias vezes, que era para fazer vingar a doma. Mas, ao contrário, ficou cada vez mais arisca. Mais dona de si. E, agora, dona de mim, caboquinha me atiça como quer. Fico aqui no cercado, seguro da vida, arando cama para amansar caboquinha. Deita caboquinha, deita...
Do teu caboco.
Saudade."

sexta-feira, outubro 20, 2006

Cansaço

Foto: C. Salgueiro

É que eu estou tão cansada.
E subitamente sinto vontade de chorar.
Um choro sem tristeza, conformado,
vontade de esvaziar o corpo de tanto, tanto sentimento.
Já que não era pra ser eterno,
que fosse ao menos o infinito vestido de terno,
bem-sucedido nas ternuras.
Porque há muita vontade de acariciar na flor dos meus dedos.
E todo esse amor desperdiçado.
*
*
*
(Marla de Queiroz)


quinta-feira, outubro 19, 2006

Sobre Danúbios e Ravel...

Foto: C. Salgueiro

Te(u) en-leio
e-mail às letras
doces, atrevidas,
palavras aladas
molhadas
de tua saliva.
Te aceito sim,
eu já sabia
agora espero
que teu vôo
sobre o há-mar
cure as feridas
da espera.

*(Desígnio lançado em papiro a espera da ilha que não voltou das profundas águas de março...)*

Ampla arde essa saudade
do que não fomos ainda
que linda tenha sido a nossa história
que mora no futuro
de tudo que somos agora.
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(Marla de Queiroz)
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P.S.: Que seja doce.
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terça-feira, outubro 17, 2006

MANTRA ( Raio Ativador)


Foto: RAPHAEL
Não acre-ditar a desconexão, mas buscar a pró-cura do planeta
sendo doce como Barros, acendendo voga[l]umes.
Preservar antes que tudo seja ar-ido.
Lembrar que no olho do girassol, a cor do arco da sua íris
é o amar-elo.
TransforMAR o amargoso em amar-gozo.
Respirar e INSPIRAR sol-rindo milhões de vezes
para floRIR.
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(Todos os pensamentos en-sol-(lá-lá-lá)-arados
e
a pá-lavrando os poemas do Uni-verso)
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*
*
(Marla de Queiroz)
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*
P.S.:
Dia 17 DE OUTUBRO DE 2006, CHEGA EVENTO ATIVADOR
É o começo de um dos eventos ativadores que chegam até o ano 2013.
Um raiopulsante ultravioleta (UV), irradiado desde as dimensões mais altas doUniverso-2.
Ele cruzará caminhos com a Terra. No dia 17 de outubro, a Terra
receberá e permanecerá neste raio UV no entorno de 17 horas de nosso tempo.
Esse raio entrará em ressonância com o chakra do coração. É de natureza
radiante fluorescente, de cor azul-magenta. Ainda que ressoando nessa bandade freqüência, estará mais longe do espectro de cores de vosso Universo-1,no qual vós e a Terra estão organizados.
No entanto, será importante, devido à natureza de vossa alma e grupos de almas que operam desde as bandas de freqüência do Universo-2, aceitar esta possibilidade.
O efeito é que, durante esse período, cada pensamento e emoção serão multiplicados intensamente por um milhão. Isso mesmo, repetimos: tudo será amplificado em um milhão de vezes ou ainda mais. Cada pensamento, cada emoção, cada intenção, cada desejo, sem importar o que seja: bom, ruim,insalubre, positivo ou negativo, será amplificado um milhão de vezes em potência.
*

segunda-feira, outubro 16, 2006

E, no entanto.


(Eu tô mexendo nos papéis velhos e nas nossas incompletudes).Escrevi sobre tuas mãos no dia em que o esmalte vermelho descascado parecia gotas de sangue seco em tuas unhas.Você estava triste e, no entanto, sorria: nunca vi tanta amargura revelada num sorriso.(Achei naquelas folhas soltas do caderno abandonado a história áspera de um amor que chegara trazendo angústias; a visão de uma Primavera, toda ela, de flores mortas. Achei o cartão postal, o poema rabiscado em cima da perna num pedaço de guardanapo engordurado).Tuas mãos, tão trêmulas, tantas veias grossas, tuas palmas ásperas, bem me lembro da firmeza com que segurava as coisas, do teu apego, do medo de deixar cair.Você vivia entorpecida passeando pela casa, desarrumando os quartos, esvaziando cinzeiros. Os discos espalhados pela sala.(Uma frase de Drummond naquela foto antiga, a letra ilegível, a frase indecifrável).O sangue seco nas tuas unhas.(Tanta amargura naquela carta.A Primavera de folhas secas e flores mortas).E no entanto, você falava de amor...Tonta,trêmula e ausente segurando as coisas com força, em meio aquele abandono.
No teu sorriso.
Tudo tão frágil.
(E, no entanto).

*

(Marla de Queiroz)

Março 2006

quarta-feira, outubro 11, 2006

Do desejo...


Foto: do filme DOLLS

Apertou o meu braço me encharcando de luz com os olhos dele. Mexeu nos espaços vazios menos visíveis do meu corpo, encheu meus compartimentos fechados de sentimentos que não me couberam nas mãos em concha. Esperei inutilmente que o tempo o levasse de mim. Foi tão inútil esperar quanto pensar que o veria e que não o beijaria novamente. Aquela boca vermelha sem batom. Foi tão inútil, meu deus, pensar que seria tarde demais se o que havia era um pedaço de tempo, de qualquer hora propícia pra não resistir ao beijo que ele fingiu roubar e que eu fingi que não dei. Depois saí atordoada vestida de desejos urgentes. Havia um céu negro, uma multidão ao fundo e ele lá, destacado no meio daquela gente sem brilho, ele destacado, completamente sobressalente. "Senti saudades de você. Senti muita saudade de você.", ele disse sem saber da minha falta, da ausência dolorosa, da minha procura que começava sempre às vésperas da sua chegada rápida em que não é necessário nem se desfazer as malas. Ele me desabotoando sem saber e eu fingindo, fingido que estava tudo como sempre esteve enquanto um cataclismo desarrumava os meus órgãos internos.Ele sempre tão bonito. Tão bonito, meu deus. Eu o adorando, adorando com suas pequenas mentiras, suas diversas histórias contadas em textos curtos, frases breves e um sorriso constante. No meio da madrugada, daquela gente toda e ele sempre se destacando, chamando a minha atenção pro proibido, pro contestável, refutando uma-a-uma as minhas convicções. Acordou em mim tudo que dormia ou estava sonolento. Fez emergir o que eu guardava pra sentir depois da chuva...

Ele, insuportavelmente sedutor ...Eu, "docemente pornográfica".
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(Marla de Queiroz)
Março,2006.

terça-feira, outubro 10, 2006

O que foi dito (quase) em silêncio...



Foto: Tatas del GOSTs

Não vá embora, não. Eu nunca pedi isso, mas agora que eu não preciso de você porque estar contigo é uma escolha, posso pedir. Quero que fique pelo que tem pra amar que ainda não se permitiu. Não só amar a mim, mas a uma pessoa que entenda essa sua necessidade de descobrir a dimensão do amor que você engavetou. E que faça com que não tenha medo de ser abandonada antes que tudo se complete. Antes do tempo de estar pronta pra ser uma luz pra si mesma.
Não vá embora agora, você sempre fez isso antes que doesse. Nunca saberá se doerá sempre. Nunca. Enquanto isso, carrega uma ilusão como sua única verdade.

Não vá embora, eu peço porque seu olhar me pede isso. Então eu digo com todas as letras que estou contigo, ao seu lado. Parece pronta, mas antecipa tudo antes do susto.Não tente me despertar emoções, elas são a parte mais nítida do seu medo. Sempre que quer ficar apressa seus passos e ganha a estrada abraçada com o diálogo imaginário de tudo aquilo que nem sequer esperou que fosse dito. Eu vejo sua fuga quando dança de olhos fechados, quando se muda pruma outra dimensão, quando se entrega ao etéreo querendo sumir.... Casou com a palavra, com a poesia, inventou seus personagens e, aparentemente, isso basta porque segue mantendo o controle dos inícios e fins. (Ouse ficar aqui um pouco mais pra se surpreender consigo mesma...)

Eu só quero que você compreenda que pode fazer alguém muito feliz.
Até lá, quem sabe, eu terei tempo suficiente pra aprender a merecê-la.
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(Marla de Queiroz)
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P.S.: Não tenho respondido a alguns comentários porque meu computador de casa não quer funcionar.Quando dá, eu rabisco alguma coisa em cima da perna e publico num cyber café ou no trabalho...
Uma semana abarrotada de sol-risos a todos.
( Vocês me fazem mais bonita! ;-))
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domingo, outubro 08, 2006

"Amaduressência"



Ele nunca soube se eu voltaria: chegava sempre alvoroçada, com pressa pra consumar o amor.Quando me demorava no abraço, ele fazia eternidades daquele instante. Envolvia-me com zelo temendo qualquer movimento que o afastasse, qualquer menção de buscar a roupa espalhada. Ele o fazia cheio de delicadeza, não havia como me prender por mais que algumas horas. Buscava um brilho do meu olhar em sua direção, uma entrelinha num sorriso breve, uma malícia qualquer na piscada de olho antes da ida para o banho. Esperava meu convite, mas eu o tinha com tanta abundância que achava que não o queria. Era como se nunca fosse se ausentar porque se doava inteiro e sem pressa.

Um dia ele chegou antes da hora do meu desejo cru. E ficou contemplando a minha ausência. Não me abraçou como sempre, esperou que eu me aproximasse.Disponível que estava, mas seguro da sua parte feita, esperou que eu me assustasse, que entendesse que eu poderia não voltar se eu não quisesse, que ele saberia conjugar a minha ida no pra sempre.Com alguma dor, naturalmente.Mas estava sereno, quase se despedindo, conformado. E eu me sobressaltei.Porque nunca tinha imaginado que ele pudesse ir embora. Nunca tinha imaginado a ausência do toque dele, a falta do beijo, a serenidade que cabia no desejo. Eu esperava alguma coisa mais aflita, uma paixão que gritasse pra eu ficar, um desespero, os argumentos. Mas não, ele me contemplou sem falas, sem pedidos, deixou que todo aquele tempo fosse preenchido por grossas gotas de silêncio e calma.

Naquela hora, naquele meu sorriso sem jeito, naquele olhar cheio de frases, um brilho, um brilho tão forte abraçou todo ele com as minhas retinas.E eu o vi como nunca tinha visto antes. Eu o quis como se nunca o tivesse tido entre as minhas pernas.E abandonei o meu corpo no abraço dele, eternizada...

Ele que sempre esteve ali e era como se tivesse chegado só naquele instante.
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(Marla de Queiroz)

quinta-feira, outubro 05, 2006

Das coisas que ficam.


Foto: Adlia Hudec
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Com você eu aprendi sobre a Dança do Universo e de como alguns outonos são plenos de manhãs indóceis.Aprendi a desatar o choro amolecido na garganta e a enfeitar a casa com flores simples, do campo.
Ingressei em noites sem estrelas iluminadas apenas pela ponta de um cigarro aceso. E amanheci entre borboletas azuis e flores roxas sem nenhum odor, mas com o cheiro de chá de erva cidreira inundando toda a casa.E você vibrava em verde curando as mesmas páginas que feria.
Compartilhei o meu suor íntimo e fértil e tudo nos parecia tão sagrado que eu desviava o meu olhar da dor.E fui me desapegando do desamparo cuidando do manjericão que plantamos juntos: pela primeira vez na vida eu via uma coisa bonita e palpável nascer.
Você me dissertou sobre bichos, plantas e marés.E adormeceu minhas angústias cantarolando aquela música tão desbotada.
Aprendi sobre como a escuridão pode ser suave aos olhos. E de como certas chuvas podem ressecar por dentro.Aprendi a cuidar deste solo seco e a relatar sonhos enquanto abria as janelas da casa. Aprendi a dar outros nomes pro abandono.
Com você eu aprendi que uma bicicleta amarela podia trazer com ela tudo aquilo que mantinha espesso o meu desejo...
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(Marla de Queiroz)
Março de 2006.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Constatação


Foto: Carlos Gomes

Quando você invadiu os meus sonhos com teus solos musicais
e me chamou em teus versos fugidios para o eterno desencontro,
Quando insistiu em ser o foco dos meus poemas
e me pediu pra analisar a anatomia da tua poesia
Sei que não era por uma vontade tua de estar comigo
Mas pela vaidade crua de estar em mim...
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(Marla de Queiroz)
Maio de 2006.

sábado, setembro 30, 2006

Da Dependência


Foto: Raul Alexandre

Eles que já foram correnteza.
Seguiam arrancando galhos
alargando os quadris do rio.
Ela dançando líquida
contornando as pedras do caminho.
Lúdica, se harmonizava
ao que poderia ser obstáculo.
Ele querendo aprisionar a água corrente
num retrato em preto e branco.
Acorrentados à chuva já não fluíam.
Viam as gotinhas de luz passearem por seus corpos
sem as acompanhar.
Não perceberam tristeza quando se esqueceram
do que tinham proposto inicialmente.
Aprisionados um ao outro temiam apenas o abandono.
Dependendo.
Resumindo.
Abreviando.
Empobrecendo-se.

Não era pra ser uma corrente cinza, metálica.
Era pra ser a cor- rente- ao- arco-íris.
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(Marla de Queiroz)

sexta-feira, setembro 29, 2006

Flor de ir embora...



Ah, meu amor,
as coisas são como são.
Eu estava embriagada de chuva,
úmida de saudade
e você não veio.
Macerei aquelas flores que você me deu
fiz o Banho do Esquecimento
e joguei no corpo,
“do pescoço pra baixo”.

Porque temos jeitos diferentes
de estragar as coisas...
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(Marla de Queiroz)
Fevereiro 2006

quarta-feira, setembro 27, 2006

Amor-(Perfeito)-Próprio


Nasceu ontem meu amor-perfeito,
com o sol em riso e a lua em crescências.
Sobrenome, o PRÓPRIO.
Não preciso adubar:
brotou num solo de jazz,
na aur(h)ora da gaita...
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(Marla de Queiroz)

segunda-feira, setembro 25, 2006

Da Poesia...


Não me importam os caminhos por onde me levará a poesia.
Nem se ela escorre na página em branco ou numa pele macia.

Se construção arquitetada ou estilhaços de versos,
Não me importam seus processos.

Importa é que ela nasça:

Seja flor brotada num túmulo frio_ onde havia anseios
Ou no sangue correndo quente _ no bico dos seios...

(A poesia respira no vento...)
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Marla de Queiroz

(Fevereiro de 2006)

sábado, setembro 23, 2006

Decisão



Foto: Tatas del GOSTs

Um dia ela decidiu:
“Esqueçamos a distância.
Definitivamente, a partir de hoje,
você vai morar na minha taquicardia”.
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(Marla de Queiroz)