sábado, março 31, 2007

Panorâmica

Foto: Pedro n s Costa


Os passos suaves porque os caminhos são de delicadezas:
Na borda do dia,uma gaivota atravessa a retina do sol.
Calor de vento mudo, temeroso de árvores alvoroçadas.
Lua abarrotada, leitosa, amamentando estrelas-bebês.
A maré cheia de poemas do Drummond sentado, no meio do caminho.
Um casal deitando poesia na areia.
Uma flor arrancada enfeitando o asfalto.
(Uma nuvem preta sozinha não faz temporal).
E uma joaninha descrevendo a paisagem pro poeta.
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Marla de Queiroz

quarta-feira, março 28, 2007

SOL & CHUVA...(língua-de-fogo e olhos-d'água)

Foto: Pedro Moreira


I-SOL...ou língua-de-fogo

Embriagada de sol
danço feito labareda
nos teus braços-ventania.
Inquieta, lambo teu corpo
bordando incandescências
na tua pele-foco-da-minha-sede.
É quando cedes.
E gemes alto
com meu gozo caudaloso.
E consumado o ato,
nos consumimos doces
feito incenso.


Incautos,guardamos o perfume
da nossa febre
numa caixa de fósforos
molhados.






II-CHUVA...ou olhos-d’água

Embriagada de chuva
danço feito lágrima gorda
abrindo caminhos em teu rosto.
Trêmula, corro tua face
procurando colo em teus lábios.
E desenho uma emoção
nos teus olhos ausentes.
É quando sentes.
E gozas insubmisso
ao meu gemido abafado.
E confirmado o fato,
nos consumimos cáusticos

feito um veneno.

Cautos, guardamos o antídoto da picada
na caixa d’água da nossa casa.
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Marla de Queiroz

domingo, março 25, 2007

Mais do mesmo...ou frases sobre fases.



(Meu mestre é o Sol).
Já entrei em túneis, já nadei no fundo do poço e tive medo do mar.
Hoje,para mim, nada é tão mágico quanto uma nuvem.
O que uma borboleta faz num poema, me embasbaca.
O que uma estrela cadente pode trazer de esperança, me emociona.
Uma árvore enorme brotar de uma semente, me fascina.
O potencial que um afago tem de trazer vida prum corpo desanimado, faz de mim afetivamente ativa.
O que há de nirvana num gozo, sacraliza o sexo, o transforma numa comunhão com outro corpo.
(Tenho tendência ao erotismo).
O que há de escravidão num desejo, me faz construir mantras de libertação enquanto caminho.
Todos os dias deixo um poema nas mãos do Drummond de bronze, quem os colhe, no lugar, deixa uma flor.Nunca vi tanta sabedoria:
as flores falam tanto mais que as palavras...
Sou um ser de amor: hoje, andando por uma feira, me enamorei perdidamente pelo cheiro e pelas cores das frutas e folhas...mas tenho rejeição pelo peixe morto, imóvel e cru.
(Estou pateticamente apaixonada por um crisântemo laranja).
Doutrino meus pensamentos pra ser uma pessoa boa e positiva,
posto que sou tão humana e inacabada.
Às vezes desapareço da vida de alguém com a mesma intensidade com que surjo....Depois eu volto.
Eu não acho a lua mais importante que eu.
(O Sol é meu mestre).
Eu não acho ninguém menos importante que o Sol.
(Tenho muitos mestres).
Meus livros têm os vestígios dos passeios que fazem comigo:
principalmente grãos de areia entre as páginas.
Meus olhos têm os vestígios das vezes em que amei e fui muito amada:
principalmente um brilho.
Por isso eles sorriem quando a minha boca.
Um dia eu escrevi assim:
a partitura imóvel em cima do piano fechado...”
( Não sei que falta de emoção me trouxe esta imagem).
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Marla de Queiroz

quarta-feira, março 21, 2007

Irreversível.




Quando terminei de falar, senti foi a dentada da tristeza em meu peito. Eu fui andando, andando, quase olhei pra trás e pedi que desconsiderasse aquilo tudo. Mas não dava pra desmanchar aquele ponto final. Não se remove um "adeus" com um "esqueça tudo que eu disse". É que eu pensava que nem ia doer. (Nem deixei que ele me tocasse, eu não tinha tempo pra arder).E foi com meu coração disparado que apressei o passo e ganhei estrada.Eu respirava fundo chamando a tranqüilidade de volta.Mas ela não veio.Enquanto me afastava, pensei que eu tava indo embora de tudo nele.E sei que fiquei como um ranço, algo que lateja até que se perdoe. Era ele aprisionado na lembrança do que eu havia sido. Só tive paz mesmo, quando o seu coração desmanchou o hematoma da saudade num choro compulsivo, no colo do melhor amigo. Porque nem calma eu tinha pra ajudar.A carne sempre fraca pra afagar, acabava indo mais longe e tudo voltava ao antigamente.Aí eu tive que ficar quieta no meu canto, toda lacerada pela falta.Foi um período solitário em que vivi o luto necessário.Ele nem desconfiou que eu também estava triste, talvez se sentisse melhor se soubesse.Mas eu tinha que fazer valer minha palavra, demorei muito tempo tomando coragem.Demorei muito tempo desparafusando aquela gaiola e, depois, reaprendendo a voar.

Tive ímpetos de escrever uma carta falando das qualidades dele, de tudo que havia me feito crescer. Mas quando fui escrever só consegui dizer: desculpe, não se pode negociar com a paixão.Porque eu também não entendo às vezes esses caminhos que a vida tece.E nós que morávamos um no outro, ficamos sem casa.
Perdoe a falta de abrigo, é que agora eu moro no caminho.

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Marla de Queiroz

domingo, março 18, 2007

Silêncio


Foto:Carlos Neto


Para: Marco Aurélio Guiotti
Tem dia o silêncio espetando por dentro.
E as emoções carcomidas pela falta de.
Fica um embrulho vazio na garganta, eu sei.
Uma bolha de angústia.
O corpo sem responder a qualquer resquício de otimismo.
Nenhuma palavra escorre pros dedos,
mas a mente inquieta.
Silêncio...
Se tem dor dormida dentro,
brasa acesa que não aquece.
Dormência fora, encontro de insônias.
Cansaço sem lugar pra encostar o corpo
por causa do vazio atrás e dentro.
Eu sei como é .
Só se encontra amparo onde há-braços.
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Marla de Queiroz

quarta-feira, março 14, 2007

Espelho

Foto: Ivone Peoples

Eu gosto tanto de você no derramar das coisas simples,
nas flores espargidas nos lençóis de algodão-doce,
jogando os travesseiros de nuvens-fora-cama,
fazendo do meu quarto-templo de quem ama.

Eu gosto tanto de você tocando o meu corpo
(quase sem seus dedos)
olhando nos meus olhos
(como quem captura um segredo)
Poeta procurando apelidos pro desejo.

Eu gosto tanto de você
com todos os seus dramas, vírgulas, quebras de páginas,
reiniciado em seus capítulos, revisitado em suas mágoas,
redescoberto no que há de tão melhor num SIM!

(Eu gosto tanto de você... quando você gosta de mim!)
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Marla de Queiroz

domingo, março 11, 2007

Brain Storm


Foto:João Viegas



Então eu fiquei segurando uma flor vermelha entre os dentes
pra desocupar os dedos e colorir uma frase com a cor toda.
Fiquei foi com o perfume na boca enquanto tamborilava no teclado
qualquer coisa assim, meio sem harmonia...
O sol que arregaçou o céu de azul deu uma trégua há pouco
pra destacar o colorido das borboletras...
(Esse é todo meu assunto de hoje).
Porque tem dia que o silêncio intercalando é como o céu que nubla
pra destacar o colorido das frases.

Vem, que tem beijo perfumado.

(Essa saudade trêmula).
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Marla de Queiroz
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sexta-feira, março 09, 2007

Eu e (alguns dos)meus homens...ou rapidinhas.


Foto: Fernando Figueiredo



Li Platão pra saber que não quero amores platônicos e que a vida real não está no mundo sensível, idealizado.
Aristóteles me ensinou que a metafísica de um relacionamento me seduz mais que a própria química ou o físico.
Descartes me deu a deixa do “gozo, logo existo”.
Quando Sartre me disse que o inferno era o outro, descobri também um paraíso ali.
E Nietzsche matando Deus, me deu permissão pra pecados deliciosos.
(A Igreja me ensinou a pecar).
Hegel era um chato.
Maquiavel me deu estratégias que não usei, não gosto de jogos de sedução, " canso, logo desisto"( Descartes de novo!).
Kant me ensinou que ser racional pode ser bem mais prático que romântico.
Schopenhauer me fez entender sobre a vontade insaciável que nos provoca o tédio.
Já me deitei com Kierkegaard.
Freud me apresentou Édipos, homens que me namoravam porque não podiam casar com suas próprias mães.
Wittgneistein eu abandonei antes de tentar entender.
Heidegger me falou da angústia que nos recolhe e renova.Aprendi muito sobre a autenticidade com ele.
Derrida desconstruiu tudo. Pra Foucault, sexo era phoder!

Mas foi um poeta, Manoel de Barros, que açucarou meu coração com açucenas.

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Marla de Queiroz

terça-feira, março 06, 2007

De-clara-ação de amor


Foto:Hugo Tinoco

De: Marlarida
Para: Leandro Jardim
Porque: Ele é meu parceiro de vida, boemia e poesia,companheiro de viagens (em toda a acepção da palavra) e amigo-mais-que-querido-de-todas-as-horas.

Tuas gotas e pétalas já se misturaram aos meus tantos outros livros favoritos.
Tuas sementes-dedicatórias ampliaram meu afeto pelo Barros.
Ainda, o lirismo do verde que o mar derramou no seu olhar de Jardim
e esse teu jeito de fazer a marla-ri-da risada alta de Irene que há em mim.
Nossos livros...Seremos no auge de uma primavera fértil de outubro, SIM?

Porque é sempre tão bom quando atravessamos o dia de mãos dadas
com a tarde-poesia ou com a noite-prosa
pra sussurrar nas orelhas dos livros da Travessa em Ipanema
nossos segredos-poemas.

(E entre as nossas gargalhadas, ensaios de sonhos e
devaneios alcóolicos em mesas de bar,
um tempo ,há mais:
nossos melhores abraços-abrigo-anti-nuclear!)

P.S.: Se Beber não dirija!

P.S.2: Obrigada por compartilhar tuas belezas comigo.