Não é porque te amo que, de uma vida inteira, eu selecionaria apenas esta página. Há tanto pra contar além desse altruísmo: há tanta solidão na sede por poemas e muita ansiedade num tempo de esperas. Sei pouco sobre mim, descubro agora. E fico a olhar, vazia, para os lados. Sei pouco de você, eu admito, conheço apenas o que quis saber de nós. Mas tem um egoísmo que corrói: e eu danço com a vida, os dias e as paisagens. Você denunciando os contrários: parece que a leveza me aprisiona, parece que o peso te abraça. Um medo de perder para a alegria. Ou de só possuir pelo cansaço.
Enquanto eu tentava me lembrar onde guardei meus brincos (tua gravata), minha docilidade (tua carência), minha saia rodada (tua camisa azul), meu desapego (tua indignação), você catava conchas à beira-mar. À beira de um mar que te emprestei. (E, na individualidade sem afagos que consertem, talvez esteja a nossa nudez.)
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Enquanto eu tentava me lembrar onde guardei meus brincos (tua gravata), minha docilidade (tua carência), minha saia rodada (tua camisa azul), meu desapego (tua indignação), você catava conchas à beira-mar. À beira de um mar que te emprestei. (E, na individualidade sem afagos que consertem, talvez esteja a nossa nudez.)
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Marla de Queiroz