domingo, maio 26, 2013

QUANDO HÁ FETO


Uma ventania no meu corpo ventre, 
afeto se exacerba se há feto após semente. 
Mudo o meu semblante, pele, poros, valores, planos. 
Será, talvez, o único amor onde não caibam desenganos.

Todas as minhas formas vão se amoldando. 
Há além de um EU, um ser tão MEU, 
que sendo em si dentro de mim, é também Mundo. 

Uma ventania no meu corpo ventre mudou todos os meus rumos. 
Como te dizer, se ainda desconheço a tua face, deste amor que já é tão profundo? 

(Flor que desabrocha, pétala por pétala. Tantas no jardim, mas só me atento a esta).

Eu te gestei por meses, guardando como MEU. 
Mas quando vi teu rosto, quem nasceu fui EU.

Marla de Queiroz

terça-feira, maio 21, 2013

Outra Narrativa



M. estamos sentados nesta escada e vejo tua cara de choro, a minha cara de sono e as nossas caras de fome. A recusa não é dura, é o desejo que está flácido. Entenda, acabei de parir um livro e um processo, acabei de tirar leite da pedra para amamentar meus versos, estou de resguardo deste parto. Estou partindo, M.

Não posso acolher tua espera, desesperas agora, pois eu já fui embora. Entenda que eu estou dialogando com o cotidiano dia após dia e, nesta correria, tentar entender teus argumentos para me ter são complexos demais para quem quer da vida paixão, ainda que fugaz. Não vou usar o clichê de “este não é o momento”, eu não estou entregue faz tempo, me desapaixonei por você.

Estou em outra narrativa, um parágrafo recente que parece antigo se desenha, dentro dele a minha saudade está escrita. Não, M não sei se é uma história recíproca, mas não começamos o próximo capítulo e talvez seja nele que tudo o mais comece a fazer sentido.

Sim, alguns romances são dramáticos, mas nem sempre fictícios. É preciso ter fogo, não necessariamente artifícios.

Entenda M., eu preciso terminar o nosso mal acabado conto sem fadas, desromancear este vício para conseguir desenrolar esta nova trama que se anuncia:

Ela está apenas no início.

Marla de Queiroz