O corretor
do word nunca aceita a minha construção de frases e tenta me convencer de que tenho
uma maneira errada de dizer as coisas. Brigamos constantemente porque sei que ele
não entende muito de licenças poéticas. Mas me incomoda o sublinhado embaixo de
fases inteiras. Por que não posso escrever no contrafluxo dos sentimentos?
O corretor
de imóveis nunca entende ou encontra o tamanho do lugar em que eu consigo
caber. Eu não posso abandonar meus livros e abrir mão de acordar com a luz do
dia. Eu só durmo em paz na minha cama box e preciso de um guarda-roupas grande.
Por que não posso querer as coisas do tamanho que eu acho devam me acolher?
O corretor
de confusões mentais leia-se terapeuta, nunca conseguiu me convencer de que eu precisava
me desvencilhar do caos. É dentro dele que eu encontro força para me equilibrar.
É dentro desta desorganização absoluta que eu consigo encontrar o ineditismo da
criação. Por que não posso ser diagnosticada como autêntica, em vez de
complicada?
O corretor
de rasuras, “liquid paper”, nunca me pareceu útil. Gosto das palavras riscadas
como um “ato falho”, o dito que não pretendia dizer nada... Por que não se pode
desabotoar num texto aquilo que não se pretendia explícito?
Sempre
achei que o papel da poesia era apenas desencadear emoções ou socorrê-las.
Nunca corrigi-las. Mas fico relendo o que escrevi nas minhas narrativas e
procurando equilíbrio no meu jorro de palavras. Como domar a escrita instintiva,
intuitiva?
O moço que
me amava e não era correspondido, dizia que tenho medo de amar. Expliquei que
não era medo, mas desinteresse. Por que algumas pessoas não conseguem escutar
exatamente o que foi dito pra tentar corrigir nossa recusa catando ilusões nas
entrelinhas?
Por que essa
tentativa de resgatar o que já nasceu desperdiçado?
Marla de
Queiroz
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