Era desconcertante, mas me
excitava a forma como me ele olhava: era um misto de quem procura poesia na
poeta e espera algo mais misterioso na mulher que se despe a sua frente. Mas eu
sou falante, risonha e brinco demais na maior parte do tempo. Ele ria,
alcançava o raciocínio dos meus comentários e rebatia lindamente. Apenas
parecia não esperar que eu me despisse com tanta praticidade sem fazer muitos
rodeios, pois eu sabia que faríamos sexo, tinha ido visitá-lo para isto. Claro
que a poeta também estava em ação, não resisto: sempre acabo sussurrando alguma
coisa erótica nos ouvidos, durante o ato ou enquanto me prolongo nas carícias.
Ele era interessante,
interessado. Mas não seria nada além de um parágrafo na minha “autobiografia não
autorizada”. Não era uma questão de quem estava “usando” quem, seria só uma
noite de sexo para mim, talvez para ele também. Sexo com alguém excitante e
viril, inteligente, atencioso, mas que parecia mitificar demais a poeta que
escreveu o livro. Leu a minha flor de dentro mais explícita, mas esta não tinha
sido inspirada nele.
As coisas se sucederam como se
sucedem as noites de sexo bom. Apenas isto. E eu continuei ilesa, mas com mais
uma lembrança bonita. Não é frieza, não é desacato ao romantismo ou falta de
lirismo, é só uma forma lúcida de expor a realidade: “sexo e amizade, topa?”
E eu poderia ter me apaixonado,
assim como ele: nunca saberemos. Mas o fato de ter sido muito bom não foi o
suficiente. Talvez eu me apaixonasse mesmo que não tivesse sido. (Eu me
apaixono pela pessoa antes do sexo, eu me apaixono por um detalhe anticonvencional,
às vezes pelos defeitos ou pelo aspecto considerado mais banal).
De qualquer forma, ele não me
telefonou no dia seguinte, e eu já sabia: não dei a ele meu contato... Foi apenas
mais um romance desses que são eternos... durante um dia, durante o ato.
Marla de Queiroz
P.S.: Selinho do TOP BLOG no canto direito. Se você gosta dos meus escritos, vota lá! Obrigada!
2 comentários:
"Foi apenas mais um romance desses que são eternos... durante um dia, durante o ato".
E como esses 'romances' são importantes em nossa vida. É aquela história: levam um pouco de nós, deixam um pouco de si...
Muito bom, como diz a música: "então tá combinado é tudo somente sexo e amizade". Ponto pra eles, ponto pra nós que sabemos eternizar o efêmero, sem com isso lesar a pretensão e a desprentensão do momento!
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A poesia acontece quando as palavras se abraçam...