terça-feira, abril 27, 2010

Tiê - Assinado Eu



Eu te desaconselho a me procurar: eu sei onde te encontro antes de me perder por aí.Só não quero deixar pegadas enquanto repenso em qual bifurcação desisti de seguir adiante.Não sei se fiz a coisa certa ao me desvencilhar daquela nossa rotina hiperbólica. Porque preciso de muita paixão, enquanto rezo pela calmaria. É que eu preciso de muitas questões, enquanto fujo para obter respostas...

Não queria escrever um texto, mas um sopro.Desses que tiram o fio de cabelo do teu olho, talvez a única coisa que falte pra deixar sua lágrima evidente.Talvez a única lágrima capaz de desatar esse seu nó na garganta, latente. Até que o choro venha espesso e a alma possa se acalmar no cansaço da dor. E com toda essa emoção sendo despejada, você consiga perceber que não precisa racionalizar nada pra se sentir melhor. Isto é clichê. E que você nem precisa se tornar uma pessoa melhor agora, neste exato momento em que tudo é culpa.Você só precisa conseguir acolher o seu ser assustado. Traze-lo pra sua respiração até que ele se tranqüilize.Você não precisa entender essa angústia. Você não precisa disfarçar tua confusão, nem negar o teu “eu inferior” que tem tanta beleza quanto a parte mais sábia de você. Você só precisa limpar da sua voz esse choro contido: pra que possa pedir ajuda ou desculpas com toda a clareza da força do teu coração.
Este texto, por exemplo, pretendia ser um sopro.
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Marla de Queiroz

P.S.: Amores, fui indicada pelo TOP BLOG 2010. Não sei se as votações já começaram, mas o selinho tá ali, no cantinho direito no alto do blog.
P.S.2: Voltei de viagem, do paraíso. pronta pra tocar a vida com harmonia e prosperidade.
Tá tudo lindo e fluido e doce, Graças! Desejo o mesmo a todos!
P.S.3: Tenho exemplares do meu livro: R$30,00 (livro+postagem). Interessados, mandar e-mail para marlegria@gmail.com (sou eu que respondo!)
OBRIGADA SEMPRE por mandarem suas histórias íntimas, elas me inspiram textos. Obrigada mesmo pela generosidade e confiança.
P.S.4: Aos navegantes de primeira viagem: este blog não é um diário, é um lugar onde recebo amigos, acolho e sou acolhida.
TODA LUZ PRA TODOS NÓS!

quinta-feira, abril 15, 2010

Sobre plágios




Quando alguém se apropria de um texto sem dar os créditos ao autor, essa pessoa se apropria de um momento, de uma história que a inspirou, da oscilação dos sentimentos, de trocas íntimas.Ela se apropria de uma transa, de um abraço, de uma vitória, de uma dor, de uma cura e de horas que foram dedicadas à elaboração daquilo. Ela se apropria de uma lembrança, de uma saudade, de uma angústia, de uma solidão, de um talento. Ela se apropria de algo que pode exemplificar exatamente o que ela queria dizer, mas que teria dito de outra forma.Ela não escreve uma história, ela escreve uma farsa.

Por mais que um texto meu pareça fluido ou que eu tenha “facilidade” em escrever, este é um ato solitário e de muita entrega. As palavras são temperamentais e, muitas vezes, arredias. Seduzi-las será sempre um desafio. Compartilhar um texto é um ato de generosidade, porque se compartilha, antes de tudo, uma nudez. E é essa honestidade que tantas vezes desanuvia o coração de alguém que descobriu que não está passando pela mesma situação sozinho. Compartilhar é uma forma de dar calor, de segurar a mão, de fazer um afago, de pedir colo. Por mais simples que seja um texto, ele sempre é fruto de muita leitura, estudo, autoconhecimento, conversa, observação e trabalho. Por isso, o autor merece respeito e consideração. Talvez algumas pessoas não saibam, mas textos são como filhos que a gente solta no mundo, mas todos eles têm uma certidão de nascimento, uma identidade, uma digital.E serão reconhecidos mesmo que desfigurados, porque têm DNA.

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Marla de Queiroz

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P.S.: Esse texto foi escrito porque uma menina, já acusada de plágio por outra blogueira, faz um mosaico dos meus textos e os assina, sem me dar crédito ou dizer que é uma adaptação, só publica comentários aprovados por ela e, os elogios que recebe, por algo que não é dela, agradece: ao menos é educada! rsrsrsrsr. Enfim, eis aqui a inspiração do texto:

http://quasetudoquasenadaa.blogspot.com/ (Ela excluiu o blog)

(Tenham muito cuidado com isso. É desanimador para um escritor ter seu trabalho roubado. Mas uma honra tê-lo divulgado em blogs e e-mails e orkuts com seus devidos créditos. É por isso que não protejo os meus textos: para que possam copiá-los na íntegra.)
P.S.: Aproveito pra dizer que vou viajar por uns dias e espero voltar com tantas novidades e textos leves e líricos. E que peguei mais exemplares do meu livro, mas não estou conseguindo responder com imediatismo a todos os e-mails. Obrigada por tanto!

sexta-feira, abril 09, 2010

Um texto (pro)lixo



Eu não tenho como não me manifestar sobre a tragédia no Rio de Janeiro.


Este texto está sendo tecido pela tristeza. A culpa não é da chuva intensa, a culpa não é do vento violento, nem da gigantesca ressaca do mar. A Natureza cumpre o seu movimento, a sua Dança, mas muita gente ainda não sabe que somos uma extensão desta Natureza.

Morando há sete anos no Rio de Janeiro, tive a oportunidade de ver um sofá boiando na praia de Ipanema. Hoje, com a ressaca espetacular do mar, tudo que se vê é um mar engasgado cuspindo lixo, sufocado pelo que ele engole nas praias diariamente. É tanto plástico, tanta guimba de cigarro, tanto pacote de salgado, garrafas pet, sapatos,caixas de isopor. Nada mais natural que essa varredura da chuva, do vento. É como se a Natureza resolvesse fazer uma faxina há muito protelada, adiada.

Pessoas terem perdido suas casas, seus familiares, não é por culpa da chuva. A chuva é um fenômeno natural, assim como é natural que uma base sem solidez construída sem a menor infraestrutura num terreno condenado, despenque. Mas quem não tem condições de morar em um lugar melhor que o lixão, jamais terá noções suficientes de engenharia e arquitetura.

Mapeamentos sobre essas áreas de risco foram feitos há anos e já estão desatualizados. Nada foi feito com este estudo. Nada foi feito para prevenir esta e outras tragédias. E o que escuto é que nunca houve chuva tão intensa, tão violenta, que nenhum plano de emergência poderia detê-la.

Na zona sul, houve um alagamento que parou por uma noite um dia inteiro a cidade toda! Ninguém deveria sair de casa e assim foi feito. Na noite anterior, algumas pessoas demoraram até 15 horas pra fazer um percurso que faziam em 20 minutos.Bueiros transbordavam tanto lixo e esgoto, os bairros mais nobres da zona sul absolutamente submersos.O caos como nunca visto.O caos provocado pelo lixo.

Muitas pessoas que moram em bairros nobres da zona sul e têm toda a informação necessária pra ter um mínimo de consciência ecológica ainda levantam a bunda de suas cadeiras após um dia lindo de praia e deixam lá os seus porcos vestígios de toda espécie. Como se a praia fosse autolimpante ou que os garis pudessem chegar sempre a tempo antes da maré subir e engolir tudo. Como pedir pra essas pessoas (que pra não morar na rua levantam suas casas em lugares de risco sem a menor estrutura de saneamento básico) que tenham consciência ecológica? Elas moram no próprio lixo! Isso deveria ser matéria obrigatória na escola: Educação Ambiental e Ecologia Humana. Não precisaríamos chegar a este ponto. O Rio de Janeiro e vários Estados estão na UTI! E as tragédias, muitas vezes anunciadas, se cumprem sucessivamente. O mundo está à deriva e a sociedade é vítima de si mesma. Não fosse o alagamento de bairros nobres aqui do Rio, talvez não fizessem tanto estardalhaço na mídia.Na zona sul, pessoas perdem, no mínimo, seu tempo dentro de um engarrafamento e, no máximo, seus carros que serão ressarcidos pelos seus seguros, quando engolidos pela enchente.Mas logo podem voltar pra suas casas confortáveis e assistir ao desespero de pobres pela TV enquanto jantam depois de um banho quente. Entre uma notícia e outra, tanto dinheiro desviado, tanto ladrão sendo reeleito, tanto blábláblá nojento. E as pessoas da comunidade, depois de resgatar o corpo de um familiar, ainda encontram forças pra ajudar a encontrar a família do vizinho...guardando sua dor pra sofrer depois, quando tiverem tempo de viver seu desespero em suas doses cavalares.

É claro que os fenômenos naturais estão surpreendendo! É claro que o Planeta está em crise! Há uns meses em Copenhague, tantas autoridades foram discutir o Aquecimento Global e nada foi resolvido! Como se tivéssemos tempo pra pensar nisto com calma.Os fatos são óbvios, não se pode adiar mais. Não adianta investir em modernização enquanto não se trabalhar as questões mais básicas de sobrevivência das pessoas. Crianças nascem e morrem prematuramente em lixões.São criadas nestas condições e provavelmente vão repetir o padrão.Até que uma geração inteira seja soterrada. E os políticos consigam exterminar da planilha de investimentos toda essa parte “chata e complexa e difícil” de remover de suas candidaturas. O que entristece, além de tudo, é que todo o dinheiro que será investido agora para tentar recuperar alguma dignidade pra essas pessoas, poderia ter sido usado antes, num projeto de prevenção, levando essas pessoas para um lugar em que elas pudessem pelo menos sobreviver em paz.Agora, muitas serão removidas como entulhos, porque até a esperança morreu com elas. Mas para eles, a culpa ainda é da chuva.

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Marla de Queiroz


P.S.: Ainda tenho exemplares do meu livro pra vender.