domingo, junho 11, 2006

Crônica de desamor

Foto: Zé Mário Passos

Passei a manhã tentando esboçar um sentimento por você porque ainda não entendi como funcionam as coisas entre a gente. Entre o querer e a repulsa, suas mãos passeando ansiosas pelo meu corpo, minha boca rejeitando a sua e, no entanto, queremos estar ali, lado a lado, tecendo calores e dúvidas num eterno coito interrompido.E quanto mais você fica mais eu preciso estar só e tranco a porta e o corpo e fico tentando entender esses esboços que eu criei pra enfiar você nos meus dias, essa nuvem densa atravessada nos meus olhos, esse carinho que mais me deixa agoniada que nutrida....Essa saudade extraviada....

Eu sempre estive só e não queria, deixei você se enfiar por entre medos e se instalar num ninho de culpas e denso silêncio que trago por dentro.Agora te rejeito de um jeito e não consigo te abandonar e você, sem querer, vai embora temporariamente só pra me obedecer, mas sofre amarrado aos meus insultos, todo inclinado pro drama e pro desespero e eu não querendo e você estando, cada vez mais atencioso, cada vez mais inseguro, mais carente, mais agarrado à minha cintura, querendo se enfiar entre meus dedos, tão disponível, plantado na palma da minha mão. Fico triste com a capacidade de coisas que tenho coragem de fazer pra te ver chorar.
Porque te sei previsível e pressinto a importância do meu desafeto na narrativa que você criou pra sua vida. E faço questão de confirmar sua descrença e quando penso que você cansou, continua tentando roubar o melhor dos meus verbos, me conjugar num tempo certo quando nem estamos próximos, embora lado a lado...

Não deixei você me penetrar, me tocar por dentro, nem fazer parte da lista de coisas que mais gosto de fazer por mim.Fico inquieta com sua presença, mas preciso SIM da sua resignação e dessa sua falta de amor próprio quando volto pra casa assustada porque tudo deu errado naquele dia...Entenda sobre a minha falta de novidade, de perspectiva, dessa prótese que você se tornou e de como a minha autoflagelação pode ser menos dolorosa já que não consigo me livrar desse sufoco , dessa mania de auto-agressão, já não consigo aceitar a amplidão do quarto vazio, da cama espaçosa.É como um pacto com o vácuo.

(Você não passa de uma metáfora errada que usei pra rasurar o texto, pra enfeitar meu egoísmo, pra insuflar meu ego).

Mas não há desistência de ambas as partes. Você sobrevive de migalhas, viciado que está em maus tratos, convivendo bem com as minhas crueldades e, na sua doença, compactuando com a minha.

Seguiremos juntos até que alguma espécie de amor nos separe.
*
(Marla de Queiroz)
P.S.: Texto baseado em fatos (alheios) reais...Tantos, tantos.
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10 comentários:

Janaína disse...

Fiquei impressionada com a capacidade que vc teve de me descrever em tempos retrogrados...ainda bem que uma espécie de amor, aliás, um amor me fez sair dessa clausura que é a dor de sobreviver de migalhas e uma falta descomunal de amor próprio...há um anos atrás se eu lesse esse texto, pensaria que vc o escreveu pensando em mim...

Márcia Nestardo disse...

Marla.
Traduziste um estado de espírito, condição de existência que eu também achava, em outros tempos, que só poderia ser loucura ou um sério desajuste entre ego e alma.
Hoje até me tranqüilizo percebendo que há muitas almas que se abandonam da mesma forma, mas descobrem, cedo ou tarde, o caminho de volta.
Um amor também me separou um dia!

Anônimo disse...

Ler tudo isso me deu vontade de escrever o que sinto,aposto que meu suposto receptor agradece.

;) parabéns garotinha.

Su. disse...

:)
seja bem vinda á terra!
já algum tempo n vinha aqui...
continuas triste, mas por pra fora desta maneira, só tu!faz bem... e claro, com todo este teu poder nas palavras continuas uma excelente escritora!

olá gostei q tivesses voltado!

como vai o Mia?leitura cumprida?
:)
bjbj

luizgusmao disse...

oi, marla! mto obrigado pelo seu comentário tão gentil! :) esta sua crônica do desamor é amarga. como a vida...

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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dani disse...

A foto que vc usou é de um caro que fez parte da minha vida e ainda continua nas minhas entranhas. Um amor quenunca via embora apesar de eu tentar esquecer. Ele me rasgou por dentro pra sempre!.

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A poesia acontece quando as palavras se abraçam...