quarta-feira, fevereiro 26, 2014

A desocupação do teu abraço



Quanto se poderia dizer que teríamos para viver além do que tivemos? Eu te perdoei e fui embora e você questionou minha atitude. Mas eu precisava ir para perdoar também a mim. Eu não podia mais esperar que algo bom acontecesse depois de uma sucessão de breus. E talvez o medo desta escuridão fosse mais factual que o meu amor. E por te perdoar, não te levei comigo, entende? Não houve uma desistência, mas a escolha de um caminho outro: neste que, agora eu sei, seus passos não admitiriam trilhar. Por isso a desocupação do teu abraço: deixei ali o meu perdão e segui para a ocupação dos meus espaços. 


Guiada pelo amor? Não sei. Talvez pelo cansaço.

Marla de Queiroz

terça-feira, fevereiro 25, 2014

SOBRE PARADOXOS



A dor é brutal simplesmente porque a situação é delicadíssima. É um paradoxo adoecer de saudade por se desvencilhar de alguém para tentar se manter emocionalmente saudável. As histórias se compõem com projeções demais e muito do que somos fica lá com o Outro. E, geralmente, o nosso lado mais bonito. Não que faltasse Beleza naquele alguém que agora virou apenas a inicial de um nome que evitamos pronunciar, mas as condições de temperatura e pressão foram ingratas. A disposição para os ajustes necessários foi insuficiente. Poderia se dizer que havia ali um relacionamento preguiçoso, como um dia que não quer amanhecer e se estende nebuloso e indeciso, com fiapos de sol e nesgas de nuvens negras. E uma dor brutal surge com uma sensação delicadíssima de alívio que quase não queremos considerar. Esquecemos que, muitas vezes, a sensação de vazio é somente a falta daquele peso que confrangia o peito ora sim, ora mais ou menos. Mas nos mantinha ocupados. E que chamávamos de amor uma codependência intensa.
Essa dor brutal.

Marla de Queiroz