Licenças Poéticas, prosa incerta, poesia em linha reta, versos que dançam fora da forma do poema, mas dentro do corpo do poeta.
segunda-feira, outubro 30, 2006
Deixando ir...ou carta que pretende ser um beijo.
De repente é noite e você está tão só...O meu dia foi tranquilo, mas eu sei que o seu te doeu até agora e eu não posso amenizar nada com palavras que pretendam ser abraços porque elas te falariam obviedades sobre tempo, paciência e espera_ quase uma crueldade quando o que a gente quer é uma premonição, uma certeza, alguma frase cheia de sabedoria que norteie nossa vida.
De repente a semana está começando de novo, mas só se passaram alguns dias e todos foram tão abarrotados de ausência e medo e confusão interna, de uma busca quase estéril de se sentir melhor ,de fazer coisas por si mesma...E o buraco insistindo no meio de dentro do corpo, o abismo gelado, o choro engrossado de escuridão e descrença...E eu te vejo encolhida num canto, o desespero nos olhos, o peito abafado, a vontade do grito e a falta de fôlego...E eu não sei a coisa mais bonita que eu poderia te escrever....Sei que já vi borboletas voarem faltando um pedaço da asa e rosas incríveis desabrocharem num copo com água: e é disso que me nutro pra acreditar que a meteorologia nem sempre está certa e que dias tão cinzentos podem ser prefácios de noites com sol...
Sei que se eu estivesse aí,certamente estaríamos juntas no cantinho mais confortável de qualquer lugar escolhido por você e eu te daria um abraço com tanto encaixe e amor que você, por pelo menos alguns minutos, encontraria“ um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”...E mesmo que o seu corpo todo doa numa súplica e que “ele” seja toda sua ferida, meu amor, eu espero ,sinceramente, que o pedacinho que falta na tua asa, não te impeça o vôo...
( Minha flor, o que eu tenho pra te dar é colo, não conselho...E todo amor que transborda em mim, vai ser seu até que nada mais doa tanto...)
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(Marla de Queiroz)
Abril 2006
sexta-feira, outubro 27, 2006
Com-tato
abrindo fendas e poros, tecendo caminhos,amanhecendo desejos.
Afastou meus cabelos da nuca pra roçar o seu queixo.
Eu sentia a sua respiração no meu ouvido, seu sopro de vida entrando em mim.
Desajuizada e mansa, deixei que com um movimento de braço
levasse meu corpo em posição de feto pra dentro da concha do corpo dele.
Naquele encaixe, com o nosso melhor calor, ficamos ali,
desabotoando fomes, desamarrando sentimentos.
Meu coração estava na boca...pro beijo.
Ele não me acordou.
Ele entrou no meu sonho.
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(Marla de Queiroz)
quinta-feira, outubro 26, 2006
Mar-lá...(restos de memória)
Minhas flores eu planto no papel reciclado.
As outras, eu ganho ou presenteio.
terça-feira, outubro 24, 2006
Presente do Múcio Góes
segunda-feira, outubro 23, 2006
MAR-RITMO
exalando feromônio
e ávida
por adrenalina, endorfinas e serotoninas
ou qualquer coisa
que faça vingar a nossa
rima.
E que transforme esse amor,
desencontrado do nosso mapa (astral),
química.
domingo, outubro 22, 2006
Véspera
Foto:Pedro Lima
Quando você vier haverá o encontro da sua busca com a minha espera.
E o seu abraço será a moldura do meu corpo.
E a minha boca o pretexto para o seu mais demorado beijo.
E a gente vai brincar de se desmaterializar dentro da música,
de desatar auroras,
de escrever poemas de orvalho...
E eu vou inventar uma madrugada eterna pra quando você tiver que ir embora no dia seguinte.
E você vai inventar um domingo que vai durar pra sempre porque tenho preguiça das segundas-feiras.
E a gente vai rir dessa maldade da demora do tempo pra fazer essa brincadeira de desencontro:
quase nos deixou descrentes...
A gente vai rir dessa maldade porque o nosso amor será a coisa mais bonitinha do mundo...
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(Marla de Queiroz)
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Junho 2006
sábado, outubro 21, 2006
Perfil 3
"Caboquinha corria dentro do vestidinho vermelho com flores brancas e pequenas. Estampas querendo o suicídio coletivo. Morrer no revés do tecido. Nada tem a ver com as cores que se avistam com olhos recém-nascidos. Para é sempre Caboquinha. Depois que conheci Caboquinha foi como se me colocassem viseira para burro birrento. Para não enxergar periferias e abismos e se por de ré; talvez, até soltar uns coices. Caboquinha tem cabelos de alecrim. Loura negra. Boca carnuda de chupar o polegar, beiços vermelhos de lamber garapa; pernas grossas de subir morro; pelo mocotó, uma idéia das delicias para o rumo de cima; olhos negros e mudos, timidez treinada para coronéis; língua solta quando atentam suas entidades baixava a pomba-gira. Levanta terreiro. No mais, cheiro de mato e safadeza. Hoje, a ciência descobriu que se chama feromônio esse olor de bicho no cio e caboquinha vive desvairada. Recatada era pela força dos modos. Filha de macho que não quer ver filha sua perdida na vida. Claro, o safado bem desgraçou tantas. O sangue que lhe veio nas veias já havia contaminado a prole. Caboquinha aguava desde menininha. Quando lhe dava aperreio, corria pro córrego e era visão farta pros bichos, cheios de sede. Qual eu, sedento de caboquinha. Um dia, virei homem e a arrastei pelos cabelos. Botei cabresto e montei no pelo. Várias vezes, que era para fazer vingar a doma. Mas, ao contrário, ficou cada vez mais arisca. Mais dona de si. E, agora, dona de mim, caboquinha me atiça como quer. Fico aqui no cercado, seguro da vida, arando cama para amansar caboquinha. Deita caboquinha, deita...
Do teu caboco.
Saudade."
sexta-feira, outubro 20, 2006
Cansaço
É que eu estou tão cansada.
E subitamente sinto vontade de chorar.
Um choro sem tristeza, conformado,
vontade de esvaziar o corpo de tanto, tanto sentimento.
Já que não era pra ser eterno,
que fosse ao menos o infinito vestido de terno,
bem-sucedido nas ternuras.
Porque há muita vontade de acariciar na flor dos meus dedos.
E todo esse amor desperdiçado.
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(Marla de Queiroz)
quinta-feira, outubro 19, 2006
Sobre Danúbios e Ravel...
Te(u) en-leio
e-mail às letras
doces, atrevidas,
palavras aladas
molhadas
de tua saliva.
Te aceito sim,
eu já sabia
agora espero
que teu vôo
sobre o há-mar
cure as feridas
da espera.
*(Desígnio lançado em papiro a espera da ilha que não voltou das profundas águas de março...)*
Ampla arde essa saudade
do que não fomos ainda
que linda tenha sido a nossa história
que mora no futuro
de tudo que somos agora.
terça-feira, outubro 17, 2006
MANTRA ( Raio Ativador)
sendo doce como Barros, acendendo voga[l]umes.
Preservar antes que tudo seja ar-ido.
Lembrar que no olho do girassol, a cor do arco da sua íris
é o amar-elo.
TransforMAR o amargoso em amar-gozo.
Respirar e INSPIRAR sol-rindo milhões de vezes
para floRIR.
segunda-feira, outubro 16, 2006
E, no entanto.
(Eu tô mexendo nos papéis velhos e nas nossas incompletudes).Escrevi sobre tuas mãos no dia em que o esmalte vermelho descascado parecia gotas de sangue seco em tuas unhas.Você estava triste e, no entanto, sorria: nunca vi tanta amargura revelada num sorriso.(Achei naquelas folhas soltas do caderno abandonado a história áspera de um amor que chegara trazendo angústias; a visão de uma Primavera, toda ela, de flores mortas. Achei o cartão postal, o poema rabiscado em cima da perna num pedaço de guardanapo engordurado).Tuas mãos, tão trêmulas, tantas veias grossas, tuas palmas ásperas, bem me lembro da firmeza com que segurava as coisas, do teu apego, do medo de deixar cair.Você vivia entorpecida passeando pela casa, desarrumando os quartos, esvaziando cinzeiros. Os discos espalhados pela sala.(Uma frase de Drummond naquela foto antiga, a letra ilegível, a frase indecifrável).O sangue seco nas tuas unhas.(Tanta amargura naquela carta.A Primavera de folhas secas e flores mortas).E no entanto, você falava de amor...Tonta,trêmula e ausente segurando as coisas com força, em meio aquele abandono.
No teu sorriso.
Tudo tão frágil.
(E, no entanto).
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(Marla de Queiroz)
Março 2006
quarta-feira, outubro 11, 2006
Do desejo...
Foto: do filme DOLLS
Apertou o meu braço me encharcando de luz com os olhos dele. Mexeu nos espaços vazios menos visíveis do meu corpo, encheu meus compartimentos fechados de sentimentos que não me couberam nas mãos em concha. Esperei inutilmente que o tempo o levasse de mim. Foi tão inútil esperar quanto pensar que o veria e que não o beijaria novamente. Aquela boca vermelha sem batom. Foi tão inútil, meu deus, pensar que seria tarde demais se o que havia era um pedaço de tempo, de qualquer hora propícia pra não resistir ao beijo que ele fingiu roubar e que eu fingi que não dei. Depois saí atordoada vestida de desejos urgentes. Havia um céu negro, uma multidão ao fundo e ele lá, destacado no meio daquela gente sem brilho, ele destacado, completamente sobressalente. "Senti saudades de você. Senti muita saudade de você.", ele disse sem saber da minha falta, da ausência dolorosa, da minha procura que começava sempre às vésperas da sua chegada rápida em que não é necessário nem se desfazer as malas. Ele me desabotoando sem saber e eu fingindo, fingido que estava tudo como sempre esteve enquanto um cataclismo desarrumava os meus órgãos internos.Ele sempre tão bonito. Tão bonito, meu deus. Eu o adorando, adorando com suas pequenas mentiras, suas diversas histórias contadas em textos curtos, frases breves e um sorriso constante. No meio da madrugada, daquela gente toda e ele sempre se destacando, chamando a minha atenção pro proibido, pro contestável, refutando uma-a-uma as minhas convicções. Acordou em mim tudo que dormia ou estava sonolento. Fez emergir o que eu guardava pra sentir depois da chuva...
Ele, insuportavelmente sedutor ...Eu, "docemente pornográfica".
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(Marla de Queiroz)
Março,2006.
terça-feira, outubro 10, 2006
O que foi dito (quase) em silêncio...
Foto: Tatas del GOSTs
Não vá embora, não. Eu nunca pedi isso, mas agora que eu não preciso de você porque estar contigo é uma escolha, posso pedir. Quero que fique pelo que tem pra amar que ainda não se permitiu. Não só amar a mim, mas a uma pessoa que entenda essa sua necessidade de descobrir a dimensão do amor que você engavetou. E que faça com que não tenha medo de ser abandonada antes que tudo se complete. Antes do tempo de estar pronta pra ser uma luz pra si mesma.
Não vá embora agora, você sempre fez isso antes que doesse. Nunca saberá se doerá sempre. Nunca. Enquanto isso, carrega uma ilusão como sua única verdade.
Não vá embora, eu peço porque seu olhar me pede isso. Então eu digo com todas as letras que estou contigo, ao seu lado. Parece pronta, mas antecipa tudo antes do susto.Não tente me despertar emoções, elas são a parte mais nítida do seu medo. Sempre que quer ficar apressa seus passos e ganha a estrada abraçada com o diálogo imaginário de tudo aquilo que nem sequer esperou que fosse dito. Eu vejo sua fuga quando dança de olhos fechados, quando se muda pruma outra dimensão, quando se entrega ao etéreo querendo sumir.... Casou com a palavra, com a poesia, inventou seus personagens e, aparentemente, isso basta porque segue mantendo o controle dos inícios e fins. (Ouse ficar aqui um pouco mais pra se surpreender consigo mesma...)
Eu só quero que você compreenda que pode fazer alguém muito feliz.
Até lá, quem sabe, eu terei tempo suficiente pra aprender a merecê-la.
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(Marla de Queiroz)
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P.S.: Não tenho respondido a alguns comentários porque meu computador de casa não quer funcionar.Quando dá, eu rabisco alguma coisa em cima da perna e publico num cyber café ou no trabalho...
Uma semana abarrotada de sol-risos a todos.
( Vocês me fazem mais bonita! ;-))
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domingo, outubro 08, 2006
"Amaduressência"
Ele nunca soube se eu voltaria: chegava sempre alvoroçada, com pressa pra consumar o amor.Quando me demorava no abraço, ele fazia eternidades daquele instante. Envolvia-me com zelo temendo qualquer movimento que o afastasse, qualquer menção de buscar a roupa espalhada. Ele o fazia cheio de delicadeza, não havia como me prender por mais que algumas horas. Buscava um brilho do meu olhar em sua direção, uma entrelinha num sorriso breve, uma malícia qualquer na piscada de olho antes da ida para o banho. Esperava meu convite, mas eu o tinha com tanta abundância que achava que não o queria. Era como se nunca fosse se ausentar porque se doava inteiro e sem pressa.
Um dia ele chegou antes da hora do meu desejo cru. E ficou contemplando a minha ausência. Não me abraçou como sempre, esperou que eu me aproximasse.Disponível que estava, mas seguro da sua parte feita, esperou que eu me assustasse, que entendesse que eu poderia não voltar se eu não quisesse, que ele saberia conjugar a minha ida no pra sempre.Com alguma dor, naturalmente.Mas estava sereno, quase se despedindo, conformado. E eu me sobressaltei.Porque nunca tinha imaginado que ele pudesse ir embora. Nunca tinha imaginado a ausência do toque dele, a falta do beijo, a serenidade que cabia no desejo. Eu esperava alguma coisa mais aflita, uma paixão que gritasse pra eu ficar, um desespero, os argumentos. Mas não, ele me contemplou sem falas, sem pedidos, deixou que todo aquele tempo fosse preenchido por grossas gotas de silêncio e calma.
Naquela hora, naquele meu sorriso sem jeito, naquele olhar cheio de frases, um brilho, um brilho tão forte abraçou todo ele com as minhas retinas.E eu o vi como nunca tinha visto antes. Eu o quis como se nunca o tivesse tido entre as minhas pernas.E abandonei o meu corpo no abraço dele, eternizada...
Ele que sempre esteve ali e era como se tivesse chegado só naquele instante.
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(Marla de Queiroz)
quinta-feira, outubro 05, 2006
Das coisas que ficam.
(Marla de Queiroz)
Março de 2006.
segunda-feira, outubro 02, 2006
Constatação
Foto: Carlos Gomes
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(Marla de Queiroz)