terça-feira, janeiro 31, 2006

Explicação


Mateus diz:
"É quando vc pensa na pessoa...vc fica com o olho cheio de água...só um pouquinho...e lá dentro, na parte interna do queixo, embaixo do lábio dentro da boca, vem um sabor de sal...como se a boca chorasse..."

Entendi...

segunda-feira, janeiro 30, 2006

CHUVA CRÔNICA


Previsão da semana é um espetáculo de chuva farta e inclemente, afogando dias inteiros e embrulhando o sol com suas nuvens cor de chumbo...
Ontem tinha imaginado inaugurar o dia na praia e beber litros de sol no gargalo: desejos desperdiçados. Porque chovia. Era mansa ou colérica, mas sempre com um ar de eternidade. E o mar aborrecido avançava escurecendo a areia da praia, cuspindo lixo: um espetáculo temeroso.

Em dias assim, tenho a impressão de acordar num mesmo e pavoroso domingo, desses em que só há abandono debruçado pelos quartos e lodo se alastrando pelo chão. A solidão vai tomando forma, se humanizando; parece Deus nos submetendo ao seu Amor Molhado, com tudo que nos rodeia cheirando a mofo e desprezo e esse ar parado aqui dentro carregado de mornidão e umidade. A chuva chega cobrindo telhados inteiros de saudades indefinidas, fazendo o vento alisar a pele de concreto das casas e embaçar a pupila acesa dos carros nesta noite antecipada.

Quanto a mim, observava a cólera da Natureza enquanto fumava com fastio do outro lado da vidraça.E no meio disso tudo, a miséria misturada à alegria líquida e estilhaçada dos mendigos. "Eu que ainda preciso de casa e cama pra dormir".

Apesar de alguma tristeza, algo neste dia trouxe uma sensação diferente.
Talvez eu esteja germinando, não sei.
O que sei é que ontem eu comecei a chover por dentro...
E dessa vez, acho que é pra sempre.

domingo, janeiro 29, 2006

MELANCOLIA


Um pouco melancólica porque é domingo
Suavizada pelo vinho seco
Pensativa e sentindo falta de alguma
coisa que ainda não tem nome...
Talvez seja de uma voz, não sei.
Reticente, reticente, reticente,
Preguiçosa pra amar
Salpicada de aspereza...
Só sorri 3 vezes durante todo o dia... e de nervoso.
Uma completa desorganização
Inapetência, inabilidade, inconstância...
Melancolia é uma palavra muito bonita.

Faz de conta que eu não publiquei isto.
( Hoje eu almocei caraminholas.)

sábado, janeiro 28, 2006

Flor...


Era uma flor tão pequenina
Tão delicada nas suas extremidades
Que quando ele arrancou com dó
Pediu que eu a colocasse no peito esquerdo
Porque ela ainda respirava...
Não sei ao certo qual coraçãozinho batia mais forte,
Mas ela dormiu entre nós
Enroscados que estivemos e
Beijados por aquele beija-flor.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

LUZ DO SOL...


“Luz do sol
Que a folha traga e traduz
Em verde novo
Em graça, em vida, em força, em luz...”


Acordei completamente amanhecida... E tinha um brilhinho de sol em cada gotinha da chuva fina na manhã de hoje. Alguma coisa me diz que coisas grandiosas estão por vir. Por isso abro meu coração pra alegria, pra vida e pro sol que acaricia e não machuca... E é nesse estado de gratidão e contentamento que qualquer pensamento negativo que eventualmente surja, morrerá de inanição!

Um final-de-semana absurdamente especial pra todos nós... Eu vejo coisas lindas acontecendo na vida de cada um de vcs.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Carta ao Zézim


"(...) você quer mesmo escrever? Isolando as cobranças, você continua querendo? Então vai, remexe fundo, como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, "apaga o cigarro no peito / diz pra ti o que não gostas de ouvir / diz tudo". Isso é escrever. Tira sangue com as unhas. E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega? Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida.
Eu conheci razoavelmente bem Clarice Lispector. Ela era infelicíssima, Zézim. A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo. Te falo nela porque Clarice, pra mim, é o que mais conheço de GRANDIOSO, literariamente falando. E morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de "meio doida”. Porque se entregou completamente ao seu trabalho de criar. Mergulhou na sua própria trip e foi inventando caminhos, na maior solidão. Como Joyce. Como Kafka, louco e só lá em Praga. Como Van Gogh. Como Artaud. Ou Rimbaud."

(Caio Fernando Abreu)

quarta-feira, janeiro 25, 2006

RELEITURAS...


“Ali, enfim familiar, toda revelada para ele, o homem a examinou. Ela não seria bonita, se uma pessoa não a amasse. Mas tinha a beleza que se vê quando se ama o que se vê. Toda mãe de filha feia deveria prometer-lhe que ela seria bonita quando a sabedoria do amor esclarecesse um homem, pensou ele. Ao redor das pupilas escuras de Ermelinda, por exemplo, Martim viu um círculo levemente âmbar, o que sem amor escaparia. Viu também que o nascimento dos cabelos na nuca era mais suave, e esses fios curtos demais para se prenderem na trança pairavam em luz no ar. Nos braços os pêlos claros douravam a moça como se ela não pudesse ser trocada. Uma vez amada, ela era de rara delicadeza e beleza. Ele olhou-a curioso, simpático. Ela era capaz de fazer a felicidade de um homem; mas estranhamente tivera que enganá-lo com truques até fazê-lo feliz, e só então é que lhe mostrará que não o enganara e que a felicidade que lhe dava era real”.

(Clarice Lispector_ “A Maçã no Escuro”)

Ainda me embasbaco com a capacidade que Clarice tinha de captar e escrever essas sutilezas...

sexta-feira, janeiro 20, 2006

BEBO NO TEU SÊMEN TUA SEMÂNTICA


Desobedeço a pressa e me demoro criando um verso torto pra nossa história ida.
Desembaraço meus cabelos com os dedos pontiagudos do teu desprezo.
“Desestabeleço” as regras que vc criou pra não me ver e apareço nua à tua porta numa dessas madrugadas frias.
E deixo vc tenso quando tento, argumento, deito ao lado. Diz um não cheio de sim e deixa: me abraça todo contrariado.

Fico rouca pra sussurrar no teu ouvido melodias eróticas.
Por que vc não me quer ainda?
Se eu danço dentro dos teus olhos e embaço tuas retinas de desejo... Espalho sorvete no seu corpo e sorvo inteiro o líquido já arrepiado.
Sua mágoa tola respinga em mim e eu não ligo. Se é o desejo que faz minha boca macia pra vc beijar......E é no suspiro do último prazer que eu me contorço inteira em chamas azuis....

Rabisco clavas de sol com a língua no seu sexo ereto e engulo o seu ressentimento leitoso.
Vc geme forte e nada diz.
E é nesse intervalo silencioso, que bebo no teu sêmen tua semântica.

Vou embora porque é de idas que é feito o amor frouxo, e é com voz flácida que é feito o adeus que eu nunca quero dizer, mas sempre digo......E só pra que não fiques sem resposta, deixo o adeus pregado ali: do lado de fora da tua porta.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Por que eu não gosto (mais) de você...



Porque eu não gosto (mais) de você...

Porque vc me deu o melhor abraço noturno que alguém já me deu
e depois deixou meus braços órfãos.
Vc me fez ler um escritor que eu não estava afim para que eu entendesse a sua filosofia de vida.
Fez-me tomar uma garrafa inteira de vinho sozinha com seu atraso e me encontrou de pilequinho só pra rir um pouco dos meus desvarios.
E me fez querer que fosse sábado no domingo...
Vc tentou me convencer que estava tudo bem entre nós quando meu coração estava intranqüilo.
E parou de me ouvir em algum momento em que continuei falando, perdendo a parte mais importante da minha história.
Vc me deixou sozinha...e ainda estava ao meu lado.
Vc tirou o livro que estava no meu colo pra deitar sua cabeça
E absorveu do meu cafuné o melhor calor que havia em mim.
Visitou a minha casa, preencheu o lado esquerdo da minha cama,
E foi embora em algum momento sem se despedir, enchendo com palavras tristes aquela estrofe do meu poema incompleto.
Por que eu não gosto mais de vc?
Porque vc me fez dançar o bolero de Ravel e cantar com uma voz impecável o melhor jazz que já se ouviu mentalmente.
Porque me fez acreditar que os holofotes estavam todos voltados para mim e que vc era minha platéia, e nem me visitou no camarim quando decretou que o show havia terminado...
Porque vc arrancou de mim a inspiração que eu não tinha, me fez bolinar as palavras pra eu escrever pra vc aquelas coisas doces e as esqueceu num canto qualquer do porta-luvas do seu carro...E tinha um coração palpitando ali...
Porque vc me fez escutar a mesma música sozinha trilhões de vezes porque a melodia trazia um jeito seu pra perto.
Porque vc não tirou nenhuma foto comigo, mas tocou violão olhando nos meus olhos naquele trecho da música em que a palavra amor aparece duas vezes...
Porque vc me seduziu completa e absolutamente se fazendo deslumbrante quando não estava disponível afetivamente...
Porque vc me roubou a solidão e não me fez companhia...

(Porque eu ainda gostaria de vc? Porque quando uma pessoa vai embora, nem sempre o que se sente por ela vai junto...)

Eu quase ainda gosto de vc...