quarta-feira, janeiro 25, 2006

RELEITURAS...


“Ali, enfim familiar, toda revelada para ele, o homem a examinou. Ela não seria bonita, se uma pessoa não a amasse. Mas tinha a beleza que se vê quando se ama o que se vê. Toda mãe de filha feia deveria prometer-lhe que ela seria bonita quando a sabedoria do amor esclarecesse um homem, pensou ele. Ao redor das pupilas escuras de Ermelinda, por exemplo, Martim viu um círculo levemente âmbar, o que sem amor escaparia. Viu também que o nascimento dos cabelos na nuca era mais suave, e esses fios curtos demais para se prenderem na trança pairavam em luz no ar. Nos braços os pêlos claros douravam a moça como se ela não pudesse ser trocada. Uma vez amada, ela era de rara delicadeza e beleza. Ele olhou-a curioso, simpático. Ela era capaz de fazer a felicidade de um homem; mas estranhamente tivera que enganá-lo com truques até fazê-lo feliz, e só então é que lhe mostrará que não o enganara e que a felicidade que lhe dava era real”.

(Clarice Lispector_ “A Maçã no Escuro”)

Ainda me embasbaco com a capacidade que Clarice tinha de captar e escrever essas sutilezas...