segunda-feira, agosto 30, 2010

Sobre a harmonia



Foto: Victor


São delicados e sutis os fios da harmonia. Ao contrário da alegria, do entusiasmo, ela é uma das sensações mais discretas.Sua voz é quase imperceptível, feito outra qualidade de silêncio. Ela não é uma gargalhada, é aquele sorriso por dentro, uma sensação gostosa de estar no lugar certo, na hora adequada. Feito um arco-íris depois da tempestade, sua beleza é adornada pelo equilíbrio dentro do derramamento. É um adestramento dos fantasmas internos. A possibilidade de aprimorar os pensamentos. É quase como não pensar. Simplesmente, sentimos uma ligação profunda com tudo, um denso bem-estar. Como se tivéssemos uma secreta intimidade com o mundo, certa cumplicidade com o tempo. É como se observássemos descompromissados, ela é uma descontração. Como se o coração batesse pelo corpo todo, mas sem extremada euforia. Uma tranqüilidade dilatada no peito, o olhar satisfeito, a mente entendendo que já nem precisa entender o que é prosa ou poesia. E o mundo inteiro cabendo num abraço. E uma firmeza na carícia, a maturidade que perdeu o cansaço, uma confiança que preenche a existência. A harmonia é um contato profundo com a experiência. E o tempo do dia não é mais composto por esperas, ele é vivido. E já não se fala, palavras passeiam pela boca. E já não se escreve, as frases coreografam as paisagens. E já não se ama, o amor vigora em nós. A harmonia tem fios muito delicados e sua trama faz a ligação mais suave entre todas as urgências já sentidas. E o chão do sonho é macio, e tudo parece estar alinhavado, numa ligação sem sufocamentos. E a poesia não deseja mais ser nada, vira o afago de um momento. E nas letras a textura de um veludo, como se ao correr pela página, os olhos pudessem ser acariciados. E você tem todas as coisas sem precisar tomar posse delas. Você ama o amor, não o delírio de estar apaixonado. Sinto a harmonia como uma espécie de fascínio pela vida.É quase uma perda de outros apetites, porque se está tão nutrido pela própria companhia. E a gente tem aquela vontade súbita de andar pela noite: não apenas para olhar as estrelas, mas também para por elas sermos vistos.

Harmonia é como se fôssemos inundados pelo mar onde antes só havia um precipício.

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Marla de Queiroz

P.S.: Que saudade de escrever aqui, que saudade! Obrigada amigos por tanta paciência e pelo constante incentivo. Vocês são imprescindíveis neste espaço...

P.S.2: Texto inspirado em Mia Couto...

terça-feira, agosto 10, 2010

esta ausência



Há vontade de escrever nestes dias frios e intensos. E eu me ofereço a página em branco após tantos filmes e músicas, sensações e histórias. Fico agoniada, ansiosa, presente. A palavra me olha nos olhos e me diz calma, fugidia e imensa: há muita poesia guardada na paciência.
Espero.
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Marla de Queiroz

P.S.: Sigam-me no twitter, facebook, (orkut tá lotado)...vezenquando eu dou notícias por lá.
Fico ansiosa pra escrever aqui, mas às vezes não domino, fico só na querência. Eu adoraria escrever assim: por pura displicência.
Obrigada sempre!