segunda-feira, abril 18, 2011

(MU)danças...

Foto: Irina


Agora somos apenas eu e minha página em branco. E a minha página tem expectativas de palavras... Mas o que escrever quando se tem tanto a dizer? Posso contar das mudanças incríveis que vêm me ocorrendo, mas leitores gostam de alguma melancolia. Posso falar do que tive que descartar ou incluir na minha vida para que as mudanças ocorressem, mas mesmo que algo tenha doído, ainda assim, eu falaria do amor de uma maneira cheia de gratidão. Porque sou grata a mim mesma quando me permito viver um romance com toda a minha entrega, transparência e honestidade. Principalmente, com o que tenho de fundamental, que é a minha prosa poética ou poesia: tornar alguém meu muso e derramar meus sentimentos mais piegas, mas inéditos e particulares. E é por isso que consigo sair deles com dignidade.

O que importa é a verdade, não a metáfora. O que importa é o amor, não as promessas feitas. É tudo muito silencioso e cheio de palavras que explicam por dentro. Você jamais conseguirá concatená-las da forma como elas vêm em forma bruta, quando ainda apenas um pensamento. Mas existirá sempre um jeito de olhar ou uma delicadeza no tratamento da relação que dispensará qualquer explicação.

Agora somos eu e a minha página escrita. Não contei nenhuma história importante, embora eu ande por aí cheia de assunto. No fundo, no fundo, eu só queria saber como vocês estão, porque eu posso sentir a presença de cada um que vem aqui. Eu pude sentir todos os afagos e colos que me foram dados. Tenho a alma povoada de pessoas com seus rostinhos desconhecidos.

Tenho apenas uma curiosidade:

Quando vamos tomar um chope?

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Marla de Queiroz

sexta-feira, abril 01, 2011

Mudança de estação


Foto: Raphael


Não percebi a chegada do outono. Mas eu sentia que estava embarcando numa nova estação: todas as árvores que (não) plantei, de repente, estavam nuas. E eu caminhava num tapete de folhas e flores. Os caminhos também se estreitaram e tive uma sucessão de perdas, ou melhor, tive uma sucessão de trocas. E assim, como toda pessoa que tem um coração pulsando, fiquei assustada demais com as mudanças. Mas agora já consigo perceber beleza na nudez de cada uma das minhas árvores prediletas. Elas apenas estão trocando de roupa enquanto eu troco de pele, tamanha cumplicidade. Então, quando bate a ansiedade e meu coração taquicardíaco começa a doer, ponho a mão nele e digo a mim mesma: “Obrigada por, pelo menos, poder sentir que não estou sozinha”. Porque eu não perdi uma estação, eu perdi a mim mesma e agora me sinto como um prédio que foi demolido e está sendo reconstruído, tijolo a tijolo novamente. E esse processo é muito difícil, mas acho também a experiência mais bonita que uma pessoa possa vivenciar. Toda reforma, é para fazer melhoras e, algumas coisas, por não poderem ser recuperadas, terão de ser substituídas. E a gente se apega demais a tudo. Pois estou tão disposta às reformas, mesmo que isso inclua marretadas no meu coração logo pela manhã, bem cedo. A gente, quando enjoa da dor, começa a ressignificar os acontecimentos, e percebe que se agarrar a um momento bom, acelera o processo de cura.Tenho tido bons momentos e todos os dias Deus me dá uma alegria que ameniza qualquer desespero. Mas há tempos eu não consigo gargalhar. Eu que sempre tive isto como minha maior característica.

Paciência deve ser o meu aprendizado agora...Aceito e agradeço.

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Marla de Queiroz