quinta-feira, março 29, 2012

Um bocado de pequenas coisas


Desenho: desconheço o autor


Mergulhada no silêncio dos que se observam... Um filme, um livro, uma música, um acontecimento convencional que mexeu mais do que o normal e essas coisas de achar que eu não sou deste planeta, mas que apenas estou nele: eis a minha necessidade de aceitação. Mas sei também que pessoas são Universos e que eu, o sendo, tenho que cuidar para que esteja confortável nele, ou seja, em mim. Chorei quando estava triste, senti saudades fundas, dei gargalhadas de situações absolutamente normais, tive ideias “geniais”, abracei, fui acariciada, fiquei aninhada no amor, depois me enrosquei com a solitude... Fiz tudo o que quis e pude. E percebi cada um destes sentimentos e minhas reações a eles. Mas o que percebo, é que a alegria que mora em mim clama por vida, não somente pelo sossego; clama pelo dinamismo, pelas mudanças, pela sobriedade, pela esperança. O que há de irremediável não se cura com placebos. Se eu rejeito é porque não quero. Se eu recebo é porque já participa de algo aqui dentro. Minhas ambições são apenas estar com a roupa adequada para quando eu sumir nesta estrada, nunca sentir que minha intuição e o meu coração estão desagasalhados...
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Marla de Queiroz

quarta-feira, março 21, 2012

Você sabe...


 Desenho: Kurt Halsey


Você sabe tanto quanto eu não gostaria_ sabe que eu me apaixono quando alguém me inspira poesia e que me enrosco toda pra dormir abraçada porque sinto frio o tempo inteiro. Você sabe que fico amolecida no fim da tarde, que fotografo muros grafitados e subo em árvores, que ainda escrevo cartas manuscritas porque acho letra de gente erótica e mais bonita. Você sabe quando estou acompanhada e com o pensamento ausente. Quando a imaginação já mudou o rumo da prosa, quando o farfalhar das folhas ao vento suprimiram o estampido do teu jazz em meus ouvidos. Você sabe que adoro quando beijas meu umbigo. Você sabe também que só sei cumprimentar amigo com abraço apertado, que beijo na boca quem não é namorado, que tenho algumas exuberâncias de artista, mas que não sou promíscua. Você sabe que eu tenho lá meu lado reservado e convencional, que todo ano eu consulto o trânsito do meu mapa astral e que faço orações todos os dias antes de dormir e quando acordo: minha mão entrelaçada na sua para que seu corpo receba a energia dessa doce sintonia. Você sabe mais do que eu gostaria_ que eu amanheço antes do dia para não ter sobressaltos com o despertador, que eu subo pelas escadas porque detesto esperar o elevador. Sabe que eu planto margaridas, mas presenteio com girassóis e que mergulho, munida no mar, com as bênçãos dos meus Orixás. Que tomo sol aos litros, no gargalo para alimentar o meu plexo solar. Você sabe além do que eu gostaria... Que na sinopse desse romance, você é o motivo de tanta alegria.
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Marla de Queiroz

segunda-feira, março 19, 2012

Outra Música



E muito tempo se passou durante as horas vagas... E a música que eu escutava repetidas vezes, tive que substituir por novas vozes. Pois se é novo o momento, para que lembrar o ido, o frouxo, o genérico, o amor antigo,as coisas que foram levadas pelo vento? Eu que quero coisas de verdade, que sinto as coisas de verdade e busco histórias tão mais reais e me retiro dos platonismos com toda a falta de elegância que me foi ensinada. E não sei representar nem quando subo no palco, com os pés descalços, com a alma nua, declamando poesias que dizem o quanto eu gostei de ter sido tua. Mas agora sou minha, sou de vocês, sou do mundo outra vez.
E muito tempo se passou e durante instantes eu estive mais vaga que as horas todas. E cuidei dos vazios, e busquei os vazios inteiros, mergulhei fundo nos abismos, e achei que estar lá no fundo das coisas é tão bom quanto respirar na superfície. E das pessoas eu vi as sombras para proferir a luz, que é do mesmo tamanho. E das carícias eu recebi apenas as que tinham calor, pois este penetra a pele do poema que é a palavra.
E hoje, até posso olhar para trás, pois não sei andar de costas. Mas o passado, já dizia aquela música que escutei repetidas vezes, é uma roupa que não me serve mais.
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Marla de Queiroz

quarta-feira, março 07, 2012

Tanta coisa...

Desenho: Kurt Halsey

E se, de repente, a melancolia quiser me fazer companhia? Isto faz parte da vida e nem é a parte mais importante. Eu posso lidar com todas estas emoções desde que aprendi a identificá-las e me aprofundar nelas sem que isto me doa, mas que me humanize, me torne mais humilde e me aprimore para que eu seja uma pessoa boa.
E se, de repente, eu tivesse planejado um dia de absoluta alegria?
Ótima oport
unidade para aprender que não tenho o controle de nada e que sentimentos surgem, às vezes, sem motivo, sem rosto, sem réus, sem antecipar suas pegadas.
Então, nestes instantes, me resta observar, já que me permito mergulhar nos extremos para só depois fazer minhas escolhas. Eu não temo a vida, eu a tenho em mim: vibrando, pulsante, uns dias destemperada, em outros dias picante.
O que me importa é sentir meu coração bater por todo o corpo. E poder fechar os olhos se sentir saudades, ou abri-los bem para a sempre nova rotina chamada realidade. Eu não quero nada além do que mereço: caminhar serena dentro do meu poema, respeitar todo e quaisquer momentos, saber utilizar meus aprendizados, amar e ser amada quando for meu tempo.
Sei que passam a saudade e a tristeza e o entusiasmo que vivem comigo. Por isso, faço do transitório meus amigo.
O que a vida exige de mim é constante aceitação e mudança_ para que eu continue sendo merecedora da minha Boa Sorte e valorize a cada dia mais a Esperança.
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Marla de Queiroz
 

segunda-feira, março 05, 2012

"Quem sabe isto quer dizer amor..."

Foto: Eu!
Acho que posso dizer que é amor, sim. Mesmo que a gente tenha se perdido para que eu pudesse encontrar a mim mesma. Mesmo que a gente tenha se perdido para que você pudesse buscar a si mesmo. É amor porque eu te guardo na lembrança bonita do meu crescimento, da descoberta do que era a co-dependência ou da fusão que subtrai. É amor, porque cantamos juntos, dançamos juntos, choramos juntos, fizemos amor intensamente, trocamos profundamente as angústias da alma, torcemos um pelo outro, nos ajudamos, viajamos juntos, gargalhamos desarvoradamente, dormimos juntos no melhor abraço um do outro, descobrimos novas músicas, sinônimos, livros, enlouquecemos lindamente, brigamos muito, fizemos as pazes várias vezes e fomos embora um do outro quando nada mais era poesia. Não foi triste, mas doeu profundamente.Uma dor resignada porque eu podia ver com clareza que já não nos acrescentávamos nada. E aprendi a trabalhar o desapego e o perdão. E hoje, quando vejo você sorrir, eu sinto que estamos bem e que fizemos a coisa certa. E o amor só pode ser isto: querer que o Outro encontre a felicidade a qualquer custo, mesmo que isso exclua você da plenitude dele. Mesmo que isto exclua o Outro da sua plenitude.
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Marla de Queiroz