domingo, dezembro 31, 2006

Um brinde!

Foto:Isabel Gomes da Silva


Que o poema-novo inaugure o ano
porque estarei ampliada de desapego
quando estourar a primeira estrela.
Eu só quero continuar sendo merecedora
das alegrias que tenho
e um abraço pra sempre.
Porque se há-braços, é para a abundância deles.
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(Inspiração, criatividade pra fazer novas escolhas e um coração sossegado de tanto amor pra todos nós).

quinta-feira, dezembro 28, 2006

ANIVERSÁRIO


Foto:futiLE
Hoje eu comemoro 1.488 luas.
Pedi pro Unviverso essa previsão de tempo:
Estrelas trincando silêncios,
Chuvas lavando mágoas,
Sol-risos abrindo flores
e 28 alegrias na primeira semana de janeiro pra cada um de vocês.
(Façam seus pedidos!)
No mais, têm presentes que não cabem na palavra obrigado.
Sol-rindo:
...
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(Marla de Queiroz)

terça-feira, dezembro 26, 2006

Verão com vista pro Amar

Foto:Ricardo Zerrenner


Assim, toda adereçada de flores pela primavera, foi que a Cidade conheceu o Verão. Ele chegou num dia fértil, arrancando as manhãs da cama mais cedo, desabotoando o suor pra escorrer no decote das tardes, derrubando na areia estrelas maduras. A Cidade o esperava amanhecida, semi-nua, vestida apenas
de luzes, de luas, de chuvas breves, de cio latente, de saias leves contornando as curvas do calçadão. No desaguar de tanto desejo, tudo se transformou em encontro: e os que habitavam seu corpo, com o calor daquele abraço, mergulhavam a língua de sal do suor do mar.

Seguiram compondo cenários, amando-se embaixo dos Arcos, dos Circos, aplaudindo o pôr-do-sol, amanhecendo pelas praias antes que o mesmo acordasse, até vê-lo surgindo, sonolento ou inclemente, cumprindo seu ofício, brilhando como os fogos, mas já sem artifícios. E num Janeiro que nem era sobrenome do tempo, mas da Cidade, onde a música e a cultura se misturavam diversos, viram-se naquela tarde meio chuvosa desejando experimentar a matiz das possibilidades.

E a Cidade resolveu cair no samba, já era Rio com ânsia de mar. E o Verão atormentado de ciúme resolveu chover sua fúria. Mas a água que vertia dos seus olhos era doce e ampliou as conseqüências do seu desespero: os convidados da festa carnal bebiam, brindavam, comemoravam cantando a plenos pulmões, com as veias do pescoço saltadas, aquelas músicas que inundavam de saudade lúdica.

Desencontrados enfim, após a ressaca da quarta-feira cinza, na dança das fantasias, um o Frio, a outra a Serra, atraíram-se sem saber segredos que escondiam máscaras.Deram-se as mãos e brincaram na avenida. Atraídos pela sintonia de suas fantasias, rodopiaram, dançaram e foram abençoados e lavados de poesia e lirismo pelas quentes e torrenciais Águas de Março.

BY: Marla de Queiroz

Texto publicado na primeira edição da revista DROPS MAGAZINE
do Rio de Janeiro.



quinta-feira, dezembro 21, 2006

Poema que não alcança o gosto


Foto:sweetcharade
Seu despudor gentil
rompe a resistência
da minha carne morna.

Um calor intenso
de verão,de corpos
desata
a liquidez salgada entre-colchas,
o fluido doce entre-coxas.

Não há gelo
que tire da pele
a digital dessa mordida,
essa cor roxa.
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(Marla de Queiroz)

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Na-morada


Foto:Felipe Rodolfo Silva

Eu vou morar em você
e arreganhar todas as frestas
pra que o tamanho do seu abraço
seja também o da sua entrega.
E a gente vai viver de arredondar palavras,
de deixar traumas pra trás, sobre as calçadas,
de escrever poemas sobre flor
e acordar dizendo:
Bom dia, Marlarida
Bom dia, Girassol
Boa noite, meu amor!
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(Marla de Queiroz)

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Rotina

foto:António Lança


Quando ele me beija ao se
despedir pelas manhãs,
remoça meus desejos de chuva
e feriado.
Quando ele me beija
antes do abraço noturno,
tece faíscas de sol
nos meus sonhos.
Quando ele me beija
nas madrugadas acesas de amor
tira dos meus ais uma rima bonitinha e simples
como quem enrosca nos meus cabelos
a florzinha mais singela que se chama:
meu-amor-não-te-abandono-nunca-mais.
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(Marla de Queiroz)

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Completude...


Foto:Berenice Kauffmann Abud


É dia, mas o ar riscado por fios de noite. Parece que vai escurecer tanto.
A voz velada do meu medo te chama pra perto, disfarçando o desespero rouco.
A vontade de te ver incendeia os olhos, a paixão encorpando a saudade.
Porque eu lembro e aperta.Eu lembro tanto e sempre. Mas trocaria a sensualidade que me arde na terra do corpo por um mar de ondas amenas onde as gaivotas se alimentam...
A paciência que havia foi esquartejada, amiúde, pela indecisão. E a única palavra que sobrou já veio espessa de tristeza, camada grossa de agonia, angústia fina penetrando a carne dos olhos. Bom seria se se pudesse dizer adeus sem perder a calma.

É que mesmo os melhores finais inda doem.
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(Mas um segredo que quero revelar é que um dia eu quis dizer que amava tanto,
e fiquei nervosa, a garganta seca, a frase grave porque eu não sabia se.
Então eu quis dar leveza aquilo tudo e disse apenas aquela frase...
só tive coragem de dizer que você era a razão do meu banho demorado).
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Marla de Queiroz
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Letra de Daniel Chaudon e música de Fernanda Dias
pra inspirar: TUA PAZ

terça-feira, dezembro 12, 2006

Conclusão


Foto:António Lança
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Dentro da aurora vaga,
na hora exata da sonolência do sol
(naquele momento em que o olhar tranqüilo do ócio
amolece as manhãs como se fosse sempre outono)
desataram as mãos e desviaram rapidamente o olhar em ruínas,
num rompante de rubricar com passos velozes
um fim.

No rodapé da página virada,
um poema sangrava lentamente...
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(Marla de Queiroz)

domingo, dezembro 10, 2006

...


Nossa história é antiga,
mas inda nem começou.
É semente de música,
prosa rabiscada em papel de pão
esquecida ao lado do computador.
Nossa poesia é casada
com a euforia das histórias breves;
versos catados na neblina
cansados de rima,
enterrados na neve.
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(Marla de Queiroz)

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Mas,... como eu ia dizendo...


Foto:Paulo Medeiros
Porque ele está triste.
Seu olhar de nuvens lacrimeja angústia querendo chover.
Recusou a brincadeira de versos, só aceitou mesmo
a luz azul do pensamento bom.
Falei pra tirar a poeira melancólica da voz embargada,
pois já nem canta.
“ Eu cuido de você”, eu disse.
Mas ele acha que eu não dou conta:
“Ah, você só sabe falar de flores!”
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(Marla de Queiroz)

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Passado a limpo...

Foto:Fernando Figueiredo
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O rascunho é este:
Eu não vou falar de flores;
Enjoei das borboletas;
Vou catar poesia no lixo
e rimar amor com desperdício;
Vou deixar esta página em branco
ou um poema maculado pela desistência.
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(Marla de Queiroz)
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E tem mais...Mais um dos poemas nascidos a nove mãos,
regado por água que passarinho não bebe na Avenida Paulista:
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POESIAÇA

Manguace-me, poeta das bandejas
entorpeça-me coa plenitude deste momento
[despretensioso e etéreo
etílico
que prova, mais a mais, de modo empírico
que o rebento em grupo é aéreo e lírico
traga o copo,
traga a realidade sua fuga
transubstancie ternura etílica,
diga!traguemos deste ar,
deste espírito delírios, ilusões, doideiras híbridas
tracemos nesse mapa o nosso vôo
incrivelmente lúcidos e lúdicos.
Vertamos as lágrimas
de alegria
que lavam a cidade da mundície
E essa dormência, poeta das bandejas
é o que em nós se almeja.
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P.S.: Muita cachaça nessa aur[h]ora!!!rsrsrs.........
Saudade eterna de todos!

terça-feira, dezembro 05, 2006

Entre flores e fontes...


Foto: António Lança
O nosso mundo é virtual,
namoro que nasceu na rede
num jardim de verdanas e negritos.
Todos os dias ele me acorda
com um buquê de girassóis de Van Google.
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(Marla de Queiroz)
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P.S.: Hoje sou a convidado do Múcio Góes (meu amormáximo!) pra postar no BLOG DE 7 CABEÇAS.
A apresentação dele ficou mais bonita que meu poema...;-))...........
Porque sou fã demais.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

A Torre...ou...Para o Guardador das Estações.

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Ainda esse problema de insônia e a dificuldade de entrega ao sonho enquanto o vejo dormir.
E a sensibilidade exacerbada me privando da quantidade de café que gosto tanto:
o peito aperta como num mau presságio.
Hoje pedi tanto que a chuva cessasse enquanto eu ensaiava aquela carta,
mas minhas mãos cansadas, encabularam-se. E a chuva não cessou.
E fiquei decepcionada por não conseguir encontrar raiva dentro de mim
quando vi um casal se atirando da Torre num Arcano Maior do tarô.

(A umidade estagnada neste quarto ,o bafo quente de chuva, o cheiro de incenso e
esse hálito de mofo que têm tido os dias. Nem assim encontro raiva dentro de mim.)

Temo que qualquer decisão que eu tome,machuque demais meu silêncio.
Então, diariamente, decido pequenas coisas como não sair de casa pra não ter aquela sensação de que sempre estou esquecendo alguma coisa.
Decido qualquer espécie de distração porque têm perdas que só doem
quando a gente presta muita atenção nelas.
(Um dia eu vou me permitir acordar bem frágil ao ponto de escrever aquela carta e esfacelar o envelope entre os dedos com toda a força da fartura do meu medo).

Porque o que me faz postergar tanta coisa, é que a gente se conheceu dentro do olhar um do outro--um desses encontros que vêm com eternidade junto.
Mas uma decisão se faz necessária...
Pode ser que eu a tome depois de mostrar a ele três ou quatro músicas inéditas
que não ouvimos naquele dia, ou depois de usar o tal vestido pra conhecer o bar novo que nos deixou curiosos ou quando eu terminar de ler o livro dele que peguei emprestado.
Não gosto de boas leituras interrompidas.
Não gosto de músicas desamparadas de admiração.
E ainda preciso de alguns dos seus abraços pra acordar lírica.
Eu sei que uma decisão se faz necessária,
mas só depois que.
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(Marla de Queiroz)

Canto Etílico À Rayanne

por Marla, Czarina e Leandro Jardim.
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Véspera de sol-risos
Num céu de rayanne
Perdoa-me colega
Por esses versos não serem meus
Do meu mel
Tá aí a minha manha
Que é de hoje e amanhã
Ou talvez é de depois
Talvez seja de rã
Essa coisa tacanha
Reinada pelo deus pã
Que nossa história seja
Líquida, mas nunca escassa
Estrela que se banha
No calor das águas
Como carne sem as banhas
Como chuva sem as mágoas
Como tudo
Como
E com.