Desta vez eu sigo, mas não sem olhar para trás. Encaixoto minhas coisas, tantos livros, tantos sentimentos, tantas roupas, tantas sensações, tantos papéis, tanta saudade. De abstrato, cada detalhe dos movimentos letárgicos de uma gata inquieta, ardida e amorosa: Mafalda com seu coraçãozinho na boca. Não pertenço mais a esta casa.
Desta vez eu sigo, sem olhar para trás para um novo desafio profissional. Alguma coisa em mim clama por mais aprendizado, posto que o que aprendi já dominei. E ainda há tanto espaço para o que não sei. Mas guardo os amigos que fiz, os que foram e os que ficarão no burburinho cotidiano das conversas atravessadas e teclas de computador. O cheiro de café no meio da tarde.
Também sigo, com frio no estômago, para o parto do meu terceiro livro. Mentalmente eu folheio os olhos do leitor que os receberá pelo correio. Minha caligrafia nos envelopes. E um abraço guardado em cada frase. Meu suor escorrido em cada página.
Sigo pelos caminhos que a vida teceu: com todas as mudanças bruscas, algumas coisas sobreviveram, mas algo em mim morreu.
Levo o amor por tudo, sempre.
Uma esperança entusiasmada.
A gratidão que me acompanha.
E um desajeito de dizer adeus.
Marla de Queiroz
(sus)penso em passos de (mu)dança.