Como
as folhas outonais que se suicidam das árvores, estrelas despencam do
céu, evidenciadas, desafiando luzes artificiais. Meus olhos veem, minha
retina as acolhe, meu cansaço as abraça. O dia farto de calor imenso,
mas a brisa fresca chega feito um beijo. Tudo se norteia suave e o
coração vai desacelerando, guardando as emoções primatas para o
refinamento do desconhecido amanhã. Tudo pede para amanhecer, mas nada é
garantia. Sei que hoje estou feliz e calmamente previsível: vou dormir,
é fato. Sei destes próximos minutos. Mas ignoro o dia seguinte e isto
me instiga. Tudo é novidade e página em branco, somente as palavras
anseiam a dança dos dedos e o pensamento ativo. Por enquanto, escuto o
oceano Atlântico com suas águas “uterúnicas”, ventre materno para
mergulhos e satisfação da criança interior que ainda quer brincar.
Talvez amanhã, as ondas rebentem fortemente, talvez apenas dancem
delicadas e convidativas.
3 comentários:
"E, agora, tudo mora neste talvez."
Eu tenho um grande amigo que vive me dizendo que uma vida inteira de "talvezes" vale mais que um minuto de certeza.
fleur-du-matin.blogspot.com
Marla,
sem palavras...
Embora já tenha comentado no face, acho de uma extremeza poética esta imagem do suicídio das folhas outonais.
Só um poeta pode ter este olhar.
Diria que é da competência do poeta, enxergar poesia no mais simples acontecimento do cotidiano.
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A poesia acontece quando as palavras se abraçam...