quarta-feira, maio 06, 2009

Das coisas que eu sei

Foto: Marcos Tavares Carlos


O peito era maior que o céu aberto.
Parávamos. E sabeis
Que o que contenta mais o peito inquieto
É olhar ao redor como quem vê
E silenciar também como quem ama.


(Hilda Hilst)

Não quero mais ser apenas a mulher fatal, aquela que desatina juízos, desarruma os lençóis e transforma a tua vida num redemoinho doce. Quero ser também a tranqüilidade das tardes sonolentas depois do almoço, a fluidez das horas ociosas. Quero ser canto, colo, aconchego, rotina e abrigo de paredes concretas. E uma ponte para o exterior quando a madrugada inquieta...Quero permanecer mais do que estar, sem me preocupar pra que direção o vento levará teus desassossegos.

Mas, deste caminho que te apresento, faço do convite esta certeza de mãos dadas só no início... Pois há algo que mesmo quem teme , ignora: é possível que a estrada seja engolida: pelas águas, pelo cansaço, pelo desperdício das horas, pelos indícios.

Não acredito mais na idéia de amor romântico, por isso, perdoa se te transformei no homem da minha vida, eu deveria ter deixado que você se tornasse por mérito próprio.

E se percebo que não há garantias é porque nunca as tive: nem nas ausências, nem durante a mais intensa companhia. E destes gritos que abrangem um mar inteiro numa breve manhã ou numa tarde sem carícias, me desvencilho. Quero saber que você existe, que já esteve em mim e comigo, mas que é tão livre para ser quanto eu sou. E que esteja e seja matéria ou substância etérea sem me machucar com tua existência sólida. Não quero que nada sobre você me pese nos dias e nem que a saudade me faça acordar com o olhar mais triste que já tive. Quero saber-te pleno e estar feliz por isto, seja lá qual for o motivo. Quero saber-me plena e casada com o amor, mesmo que você já não seja mais o foco.Há muito alvoroço de mar em mim, deixa que eu viva e escreva por esta Natureza.(Nasci explícita para que ningúem me guarde num segredo.)Sou permanência e transitoriedade. Sou reminiscência e novidade.E sei e sinto e vejo mais do que gostaria.

E, se isto me orienta, também me angustia.

Você sabe, às vezes me falta destreza.

E para que não seja sempre assim tão ácido,

Não sejamos nós,

Antes, sejamos laços:

Desses que se atam e desatam com delicadeza.

*

*

Marla de Queiroz


16 comentários:

Lubi disse...

marla,
você é um mistério.

um beijo.
saudade.

Marilia Gabriela disse...

Querida Marla!

Me encontro tantas vezes em suas palavras!!!

Sinto como se te conhecesse. Amizade branca.
Poesia.

vc tem muitos dons especiais.
Pessoa iluminada.

Tiro_Certeiro disse...

Lindo seu Blog , amei !


venho sempre agora

geo. disse...

oi marla,
bom na verdade fui trazida aqui pela lubi dizendo: "ela escreve muito bem"
estava no meio de uma entrega no trabalho e deixei sua janelinha aberta a tarde inteira pra ler com cuidado, com carinho. porque se a lubi disse, eu confio.

agora, respirando um pouco fui ler o primeiro e fui lendo, lendo, lendo e me senti tão dentro que quero ler tudo.
mas tive que parar em um deles e vir comentar pra depois continuar a minha longa caminhada de leitura aqui dentro desse blog.
na verdade é o texto do "quando o tiro sai pela culatra". estou passando por isso, e esta sendo tão estranho que eu me senti ali, naquela situação. e aí, quando a gente se identifica muito fica até feliz, né?

bom marla, tudo isso pra dizer que adorei esse cantinho, e pretendo frequentar sempre.

beijos
geo

Anônimo disse...

vc me mata do coração com esses textos...

te amo!!!

sua borboleta verde!!

Mamello disse...

Você é o doce enigma nosso de cada dia.

Sempre linda, sempre Marla.

Eduardo Tornaghi disse...

legal.
me enlaçou
ET

Cacau disse...

Doce Marla...

Estás cada vez melhor!

Beijos com carinho,
Cacau.

Juliêta Barbosa disse...

"Antes, sejamos laços:

Desses que se atam e desatam com delicadeza".

E que possam ser reatados - sempre - quando o amor for maior que todas as urgências.

Késia Maximiano disse...

Que sutil delicadez nessas linhas, Marla...
Gosto de voltar aqui, e ter sempre a sensação de que sai completa... Flutuando...

E nada como o amor próprio, não é mesmo?

Super beijo

David Lima disse...

Idealizar é sofrer.
Mas por mais que reduzamos as expectativas, ela sempre existirá. E por mais que nos conformemos, sempre vai doer saber o outro lá, fazendo sei lá o que, rindo pra sei lá quem, sendo feliz em outros braços que não os nossos e existindo (não que desejássemos que morresse) ainda. Acho que todo mundo que já viveu um grande amor já passou por isso. Encontro-me num momento assim. E a pergunta que me faço todos os dias é: nunca mais serei eu, original, sem tuas pegadas em mim? Especialmente em tempos de internet, facebook, orkut, emails, msn, gmail e tudo mais, é estranho acompanhar - sem mesmo querer - como se desenrolam as vidas, paralelamente.

Acho que todo amor findado.
É um filho que a gente deixou abandonado, mas morre de dó de ter acontecido.

Beijos!

Catalina Mazza disse...

Tem tanta coisa que a gente não sabe, não é!?

Uma gazela espavorida disse...

"Nasci explícita para que mingúem me guarde num segredo."

Gostei muito disso. Apesar de que por mais explícita que eu seja, é bom saber que caibo no segredo de alguém.

Beijos querida!
:******

Naty

Hanna vonlux disse...

O que você escreve chega a tocar a alma...

Marques disse...

Quando eu leio os seus textos eu sempre pergunto: As palavras são Marla ou a Marla são as palavras?

Findo, eu conheci primeiramente a Marla e depois as palavras, mas mesmo se fosse ao contrário diria que assim mesmo seria Marla as palavras.

Pelo que me lembro o riso e choro dividem segundos... Pra você a única constante é a inconstância - e pra mim é apaixonante.

Creio que seu grande desafio de vida seja ser um equilíbrio, assim como eu.

Te amo amiga... estou com saudades!!!

fabiola_psi@hotmail.com disse...

Lindo !!! Amo seus textos e o qto nos comunicamos através de sentimentos ! Interessante pensar que as caras metades não existem, não medida em que necessitamos estar inteiros com e no outro. O Texto me permitiu refletir ! Obrigado ! Fabi

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A poesia acontece quando as palavras se abraçam...