Os meus pés estão descalços, minhas mãos estão
vazias. Trago o peito entulhado de sentimentos sem adjetivos possíveis.
Um coração desestabilizado, terrível. A tarde rasga a pele do tempo e o
sol desaba sua claridade em meus olhos. Choro. Meus
cabelos estão desgrenhados, meus lábios ressecados pela avidez daquele
beijo. Flutuo atravessando muros abstratos, fotografias abandonadas por
seus porta-retratos e cadernos sem caligrafias. Transito em transe por
ruas desabitadas, por pontes que não promovem encontros. Sou amada por
algumas pessoas insípidas que precisam me enfiar em alguma gaveta vazia.
Os abrigos me abismam. Hoje estou dura, crua, fria. Hoje estou
maldosamente agressiva. Impulsionada a causar feridas, mas não
conseguindo exercer com destreza o lado mau que há em mim. Magoei de
maneira estabanada, não ganhei absolutamente nada, me dói tudo por
dentro, me arrependo, e levo meses para me perdoar pela ferida que abri e
que deixei ardendo. Meu lirismo fugiu de mim, larguei ao relento. E eu
me sinto deslocada, pois me desabituei a ser assim, a estar assim. Mas
quero desaçucarar minha imagem, borrar o rímel da paisagem, derrubar
minhas lágrimas presas, tirar a maquiagem das certezas.
E isto é só o começo... ou o fim.
Marla de Queiroz
E isto é só o começo... ou o fim.
Marla de Queiroz
3 comentários:
*___*
Como eu me sinto as vezes- vazia, inerte.. Depois bem.
Em algum momento devemos deixar de tentar ser o que criamos, para ser o que somos.
É nestas horas que me confundes!
Sinto um coração apertado, fraturas expostas e ainda assim bailas pelas palavras e pela vida, como se nada houvesse.
Como é difícil acompanhar o seu respirar guria!!!
Beijos
Postar um comentário
A poesia acontece quando as palavras se abraçam...