domingo, janeiro 27, 2013

FUGA



Já não consigo voltar. Tudo mudou comigo. Os seios apontam adiante, minha única direção agora. Mas algo, arraigado, não mudou: abandonar por medo de ser abandonada. Não suportando a menor ameaça, às vezes irreal, fujo desesperadamente, fujo com toda a pressa que o medo pode embutir numa pessoa, fujo com a força de alguém que tem atrás de si um leão faminto. Não suporto mais ser este prato cheio para Freud. Isto me faz viver com emergências demais, com sobressaltos angustiantes. Mas não consigo ficar, meu amor. Mesmo que eu volte, preciso ir para respirar fora do medo e me sentir a (falsa) heroína que escapou do perigo. Tudo sempre tão ameaçador o tempo todo. Alguns sentimentos puídos pelo tempo, outros recém-nascidos. O mar me abandona às vezes também e eu me abraço a esta poeira de chuva. O vento roça meu pescoço, o frio se aninha na espinha. Meus olhos estão cansados de tanto mundo. É preciso muito esforço para mirar o horizonte inteiro. É preciso muita imensidão e força no olhar para ver e enxergar holisticamente.

Mas estou cega.



Marla de Queiroz

5 comentários:

Camila disse...

Enxergar muitas vezes não é a solução.
Bela foto.

Lucia disse...

até logo então.

Ana EmíliaYamashita disse...

É preciso serenidade para seguir.

Unknown disse...

Te conheço muito pouco, mas lendo teus textos fico imaginando como é viver neste eterno redemoinho de paixões e sentimentos, que de palavras se tornam vividos e de vividos se traduzem em poemas!
Preciso me segurar para não ler os
teus textos todos de uma só vez.

Beijos guria linda...

Amanda Lemos disse...

Gostei muito do que vi !
Muito difícil encontrar espaços bacanas como este :_)

Deixo o meu aqui caso queira dar uma olhada, seguir...

http://bolgdoano.blogspot.com.br/

Agradeço desde já !

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A poesia acontece quando as palavras se abraçam...