Licenças Poéticas, prosa incerta, poesia em linha reta, versos que dançam fora da forma do poema, mas dentro do corpo do poeta.
domingo, dezembro 31, 2006
Um brinde!
Que o poema-novo inaugure o ano
porque estarei ampliada de desapego
quando estourar a primeira estrela.
Eu só quero continuar sendo merecedora
das alegrias que tenho
e um abraço pra sempre.
Porque se há-braços, é para a abundância deles.
*
*
*
(Inspiração, criatividade pra fazer novas escolhas e um coração sossegado de tanto amor pra todos nós).
quinta-feira, dezembro 28, 2006
ANIVERSÁRIO

terça-feira, dezembro 26, 2006
Verão com vista pro Amar
Assim, toda adereçada de flores pela primavera, foi que a Cidade conheceu o Verão. Ele chegou num dia fértil, arrancando as manhãs da cama mais cedo, desabotoando o suor pra escorrer no decote das tardes, derrubando na areia estrelas maduras. A Cidade o esperava amanhecida, semi-nua, vestida apenas
de luzes, de luas, de chuvas breves, de cio latente, de saias leves contornando as curvas do calçadão. No desaguar de tanto desejo, tudo se transformou em encontro: e os que habitavam seu corpo, com o calor daquele abraço, mergulhavam a língua de sal do suor do mar.
Seguiram compondo cenários, amando-se embaixo dos Arcos, dos Circos, aplaudindo o pôr-do-sol, amanhecendo pelas praias antes que o mesmo acordasse, até vê-lo surgindo, sonolento ou inclemente, cumprindo seu ofício, brilhando como os fogos, mas já sem artifícios. E num Janeiro que nem era sobrenome do tempo, mas da Cidade, onde a música e a cultura se misturavam diversos, viram-se naquela tarde meio chuvosa desejando experimentar a matiz das possibilidades.
E a Cidade resolveu cair no samba, já era Rio com ânsia de mar. E o Verão atormentado de ciúme resolveu chover sua fúria. Mas a água que vertia dos seus olhos era doce e ampliou as conseqüências do seu desespero: os convidados da festa carnal bebiam, brindavam, comemoravam cantando a plenos pulmões, com as veias do pescoço saltadas, aquelas músicas que inundavam de saudade lúdica.
Desencontrados enfim, após a ressaca da quarta-feira cinza, na dança das fantasias, um o Frio, a outra a Serra, atraíram-se sem saber segredos que escondiam máscaras.Deram-se as mãos e brincaram na avenida. Atraídos pela sintonia de suas fantasias, rodopiaram, dançaram e foram abençoados e lavados de poesia e lirismo pelas quentes e torrenciais Águas de Março.
BY: Marla de Queiroz
Texto publicado na primeira edição da revista DROPS MAGAZINE
do Rio de Janeiro.
quinta-feira, dezembro 21, 2006
Poema que não alcança o gosto
quarta-feira, dezembro 20, 2006
Na-morada

Eu vou morar em você
e arreganhar todas as frestas
pra que o tamanho do seu abraço
seja também o da sua entrega.
E a gente vai viver de arredondar palavras,
de deixar traumas pra trás, sobre as calçadas,
de escrever poemas sobre flor
e acordar dizendo:
Bom dia, Marlarida
Bom dia, Girassol
Boa noite, meu amor!
*
*
*
(Marla de Queiroz)
segunda-feira, dezembro 18, 2006
Rotina
Quando ele me beija ao se
despedir pelas manhãs,
remoça meus desejos de chuva
e feriado.
Quando ele me beija
antes do abraço noturno,
tece faíscas de sol
nos meus sonhos.
Quando ele me beija
nas madrugadas acesas de amor
tira dos meus ais uma rima bonitinha e simples
como quem enrosca nos meus cabelos
a florzinha mais singela que se chama:
meu-amor-não-te-abandono-nunca-mais.
*
sexta-feira, dezembro 15, 2006
Completude...

É dia, mas o ar riscado por fios de noite. Parece que vai escurecer tanto.
A voz velada do meu medo te chama pra perto, disfarçando o desespero rouco.
A vontade de te ver incendeia os olhos, a paixão encorpando a saudade.
Porque eu lembro e aperta.Eu lembro tanto e sempre. Mas trocaria a sensualidade que me arde na terra do corpo por um mar de ondas amenas onde as gaivotas se alimentam...
A paciência que havia foi esquartejada, amiúde, pela indecisão. E a única palavra que sobrou já veio espessa de tristeza, camada grossa de agonia, angústia fina penetrando a carne dos olhos. Bom seria se se pudesse dizer adeus sem perder a calma.
É que mesmo os melhores finais inda doem.
*
*
*
(Mas um segredo que quero revelar é que um dia eu quis dizer que amava tanto,
terça-feira, dezembro 12, 2006
Conclusão

na hora exata da sonolência do sol
(naquele momento em que o olhar tranqüilo do ócio
desataram as mãos e desviaram rapidamente o olhar em ruínas,
num rompante de rubricar com passos velozes
um fim.
No rodapé da página virada,
um poema sangrava lentamente...
domingo, dezembro 10, 2006
...
sexta-feira, dezembro 08, 2006
Mas,... como eu ia dizendo...

Seu olhar de nuvens lacrimeja angústia querendo chover.
Recusou a brincadeira de versos, só aceitou mesmo
“ Eu cuido de você”, eu disse.
Mas ele acha que eu não dou conta:
“Ah, você só sabe falar de flores!”
quarta-feira, dezembro 06, 2006
Passado a limpo...
Enjoei das borboletas;
Vou catar poesia no lixo
e rimar amor com desperdício;
Vou deixar esta página em branco
regado por água que passarinho não bebe na Avenida Paulista:
*
*
*
POESIAÇA
Manguace-me, poeta das bandejas
entorpeça-me coa plenitude deste momento
[despretensioso e etéreo
etílico
que prova, mais a mais, de modo empírico
que o rebento em grupo é aéreo e lírico
traga o copo,
traga a realidade sua fuga
transubstancie ternura etílica,
diga!traguemos deste ar,
deste espírito delírios, ilusões, doideiras híbridas
tracemos nesse mapa o nosso vôo
incrivelmente lúcidos e lúdicos.
Vertamos as lágrimas
de alegria
que lavam a cidade da mundície
E essa dormência, poeta das bandejas
é o que em nós se almeja.
*
*
*
P.S.: Muita cachaça nessa aur[h]ora!!!rsrsrs.........
Saudade eterna de todos!
terça-feira, dezembro 05, 2006
Entre flores e fontes...

namoro que nasceu na rede
num jardim de verdanas e negritos.
Todos os dias ele me acorda
com um buquê de girassóis de Van Google.
sexta-feira, dezembro 01, 2006
A Torre...ou...Para o Guardador das Estações.
E a sensibilidade exacerbada me privando da quantidade de café que gosto tanto:
o peito aperta como num mau presságio.
Hoje pedi tanto que a chuva cessasse enquanto eu ensaiava aquela carta,
mas minhas mãos cansadas, encabularam-se. E a chuva não cessou.
E fiquei decepcionada por não conseguir encontrar raiva dentro de mim
quando vi um casal se atirando da Torre num Arcano Maior do tarô.
(A umidade estagnada neste quarto ,o bafo quente de chuva, o cheiro de incenso e
esse hálito de mofo que têm tido os dias. Nem assim encontro raiva dentro de mim.)
Temo que qualquer decisão que eu tome,machuque demais meu silêncio.
Então, diariamente, decido pequenas coisas como não sair de casa pra não ter aquela sensação de que sempre estou esquecendo alguma coisa.
Decido qualquer espécie de distração porque têm perdas que só doem
quando a gente presta muita atenção nelas.
(Um dia eu vou me permitir acordar bem frágil ao ponto de escrever aquela carta e esfacelar o envelope entre os dedos com toda a força da fartura do meu medo).
Porque o que me faz postergar tanta coisa, é que a gente se conheceu dentro do olhar um do outro--um desses encontros que vêm com eternidade junto.
Mas uma decisão se faz necessária...
Pode ser que eu a tome depois de mostrar a ele três ou quatro músicas inéditas
que não ouvimos naquele dia, ou depois de usar o tal vestido pra conhecer o bar novo que nos deixou curiosos ou quando eu terminar de ler o livro dele que peguei emprestado.
Não gosto de boas leituras interrompidas.
Não gosto de músicas desamparadas de admiração.
E ainda preciso de alguns dos seus abraços pra acordar lírica.
Eu sei que uma decisão se faz necessária,
mas só depois que.
Canto Etílico À Rayanne
*
*
Véspera de sol-risos
Num céu de rayanne
Perdoa-me colega
Por esses versos não serem meus
Do meu mel
Tá aí a minha manha
Que é de hoje e amanhã
Ou talvez é de depois
Talvez seja de rã
Essa coisa tacanha
Reinada pelo deus pã
Que nossa história seja
Líquida, mas nunca escassa
Estrela que se banha
No calor das águas
Como carne sem as banhas
Como chuva sem as mágoas
Como tudo
Como
E com.
quinta-feira, novembro 30, 2006
quarta-feira, novembro 29, 2006
Poema a 9 mãos...eu diria Poesia Etílica!

A chuva cessou
No peito alegre da menina
Triste
Mas as poças ficaram
Nas moças coisas ficam
Espelhando o novo céu que se abre
Espalhadas pelo chão, nesgas e nuvens
Que refletem mais que meu rosto
Desgosto, dizem, infiéis tormentas
Lamentos pelo caos que a tempestade
Deixou
Tantas rachaduras no asfalto
Tantas poças inspiradas pela chuva
Que o mundo escorrem
E escorrem...
Por dedos descuidados
Por vidas que se correm
Nos tempos que nos morrem
Pra chovermos noutras bandas
Umidade do mundo, por onde andas?
.
^^^^^^^^^
poema criado em conjunto pelos participantes do
primeiro encontro de poeblogueiros
edição Rio-SP
terça-feira, novembro 28, 2006
Síntese

o fim do namoro, a saudade das sensações (não das pessoas).
O grito contido no olhar pela decisão tão postergada, a angústia silenciosa antes do surto, a gargalhada brotada do peito depois do susto; e esse choro por dentro, a voz que falha quando engasga na fala e não alcança o sentimento,
E o arco-íris diluído no copo,
o poema escrito no corpo,
o amor preenchendo a cena enquanto nos embriagamos de lirismo...
Eu tinha trinta e sete citações literárias pra fazer entre as risadas;
eu tentava desfazer toda a tensão do vento.
E tinha guardado dentro de cada manga um escândalo, uma piada e um plágio.
Você com suas histórias, eu com as minhas fontes e esse meu jeito
de ir olhando as coisas por dentro com cara de sono.
Um dia começaremos por onde sempre terminamos:
cantando animadamente trechos tristes de Roberto Carlos e Paulo Diniz,
fazendo as curvas da estrada de Santos nas esquinas do Rio de Janeiro ou tomando um chope pra distrair;
E sempre indo embora lúbricos, costurando com os pés
nossos caminhos de areia e asfalto.
*
*
*
(Marla de Queiroz)
Postado em Março de 2006.
P.S.: Ainda não consegui escrever sobre o mágico encontro com os blogueiros paulistas.
Aguardem!
quarta-feira, novembro 22, 2006
Lado B
Sou Marla de Queiroz, de Quereres, de Querências.
Marla de Todos os Santos.
Ando descalça em brasas,cacos, barro, nuvens.
Não sou poesia, nem prosa,eu nem caibo num verso:
sou o que estou quando toco, gozo, choro, gargalho,converso.
Tem dia, minha cigana pega a estrada e diz “ quero namorar o bom moço, o mendigo,
Incansável, nunca senta na calçada, segue sem rumo até se debruçar no mar,
Do amante, quero a fúria de um olhar que despedace qualquer máscara para
Sigo rompendo, rasgando, desconstruo,restauro, conserto.
Tem dia que acordo ocupada em me desorientar o quanto puder
(Rasguei a civilização nos dentes pra restaurar os meus instintos).
Não planto flores em cascalho e nem rego sementes invalidadas pelo tempo.
Prefiro reinventar a fertilidade cobrindo com meu pensamento-azul
(Lamento,culpa e arrependimento é sangue bordado no vento).
Faço um móbile de folhas secas e penduro na janela só pra lembrar o que a morte
Mau-humor, dor de dentro e desânimo, eu resolvo com abraços.
*
domingo, novembro 19, 2006
Tanta saudade

Esperei que todos saíssem pra chorar no tom mais agudo que eu tinha, toda aquela emergência adiada. A casa vazia e eu me esvaindo em lágrimas enquanto compunha com música o cenário adequado pra saudade represada. E clamei pela salvação da palavra, pela organização dessa desordem de sonho.
É que brotou amor demais da flor dos olhos me aguando toda por dentro.E as minhas alegrias sempre superlativas me condenam à exaustão. As belezas que experimento têm delicadezas violentas demais,quase não as suporto.Essa coisa açucarada que adoça tardes e engole minhas noites, me deixa tão completamente fascinada e envolvida que, sem me ausentar, corro contra o tempo, ultrapasso dias e volto pra viver duas vezes a mesma coisa.Fico chuviscando por toda parte, meu corpo se liquefazendo em abraços.
Assim, como num mergulho.
O fato é que quando é muito bom explode dor e medo no peito porque parece que a gratidão, de tão imensa, não caberá em mim.
E nunca sei quem me tornarei depois de ser ampliada por tanto afeto e amor.
Tenho medo de ficar exageradamente pura enquanto cato as estrelas maduras que caíram no jardim.
E de tanta doçura, tenho medo de ficar enjoativa.
*
*
*
(Marla de Queiroz)
P.S.: Ah, essa saudade...
sexta-feira, novembro 17, 2006
Inesquecível Azul
Jardins onde estreladas margaridas
quarta-feira, novembro 15, 2006
Desconforto

Foto: Carlos Neto
A canção distorcida pelo volume alto e todo esse mal-estar, apesar do sol.
(Alguma coisa impronunciável dói em nós,bem sei).
Nossos crepúsculos internos, tantas belezas, e os caminhos se rasgando em dois como se tudo brotasse morto daquelas sementes abstratas.
Eu tinha uma frase de impacto pra usar nessa hora,
mas ela não coube na minha voz.
*
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(Marla de Queiroz)
*
*
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Nenhum verão
(Túlio Mourão)
Esse sol, porque tinha de tanto brilhar
Anunciar no meu peito o amanhã pra depois sumir
E deixar tão mais negro meu céu, minha noite
Porque foi minha boca beber, se embriagar da tua boca
Pra sobrar tão mais amargo o gosto de vazio, de solidão
Meu coração prefere acreditar nessas promessas
Mesmo essas que só fazem abrir minhas janelas
Pra nenhuma, pra nenhuma, pra nenhuma paisagem.
Ah, porque me invadir como doce canção
Pra depois me ferir, me queimar com ardor de toda paixão
Eu assim te acolhi sem nenhuma defesa
Como nova estação quando chega, um belo dia, uma certeza
Um vinho dado à minha mesa
Uma palavra, um abraço de irmão.
Meu coração prefere acreditar nessas promessas
Mesmo essas que só fazem deixar na minha pele
Calor, luz, alegria pra nenhum verão.
*
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Março 2006
terça-feira, novembro 14, 2006
Sudoeste

O que dói em você, pouco me importa.
Eu não cavei teus abismos de mim.
Fui teu abrigo, teu barco
e lua cheia iluminando caminho.
Você escureceu nosso afeto,
você minou nosso rio.
Pra eu ficar, só precisava do seu toque agasalho
você me deu esse punhado de frio.
*
*
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(Marla de Queiroz)
domingo, novembro 12, 2006
sexta-feira, novembro 10, 2006
Apelo

quinta-feira, novembro 09, 2006
Flor e ar

Se eu me Flor no Vôo
quem dirá que já não era
o Templo da ida?
Pra quem viveu intacta
bordando o rosto da espera
no travesseiro,
qualquer movimento
já guarda em si
Encontro.
É porque eu demoro a compreender,
mas quando a ousadia chegou a mim,
eu já estava de malas prontas
e a alma com os sapatos adequados
pra descalçar meus medos.
(Eu nasci com essa saudade ancorada)
*
*
*
Marla de Queiroz
quarta-feira, novembro 08, 2006
Continuação...(do post anterior)
Quando acordou
havia um bilhete
ao lado do maço de cigarros...
Vazio.
“Pode ser que um dia eu sinta a sua falta”, pensou,
“ Por agora, preciso é parar de fumar... Putz! Devia ter comprado dois maços ontem!”
*
*
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(Marla de Queiroz)
terça-feira, novembro 07, 2006
Desistência

Cansada das intermináveis conversas estéreis e da ausência de tato no ato,
desfiou as horas contemplando o protagonista da sua mais dolorosa desistência.
E, antes que o mundo acordasse, escapou do abraço inocente
deixando somente um bilhete e um abismo no lugar do afeto:
“Não fui comprar cigarros, você sabe, parei de fumar há tempos.
E eu jamais abandonaria alguém contando uma mentira dessas.”
*
*
*
(Marla de Queiroz)
sábado, novembro 04, 2006
Insônia.

Quando perco o sono fico costurando flores por dentro dos sonhos , no viés do vestido da noite.
Às vezes me dá uma vontade crua de ser triste só pra encharcar com lágrimas de sal a poesia e espantar as abelhas.Mas não aprendi amargura nem quando me amamentaram com fel.
Eu só preciso pingar duas gotinhas de lua nos meus olhos pra dilatar a pupila e resgatar minha inocência.
Estou com sede de mudanças, mas não quero arrastar os móveis, nem desentortar os quadros.
Quero desabitar meus hábitos; entrar na poeira estagnada das coisas e assoprá-la no vento como quando se liberta um passarinho depois de curar sua asa machucada.
Pra estar feliz eu só preciso deixar que meus dedos dancem a coreografia do poema novo,
Amanhecer é da competência dos dias.
Pra não dizer que não falei das cores...
pra
ou
*
*
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(Marla de Queiroz)
quinta-feira, novembro 02, 2006
quarta-feira, novembro 01, 2006
Há-Mar.
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segunda-feira, outubro 30, 2006
Deixando ir...ou carta que pretende ser um beijo.

De repente é noite e você está tão só...O meu dia foi tranquilo, mas eu sei que o seu te doeu até agora e eu não posso amenizar nada com palavras que pretendam ser abraços porque elas te falariam obviedades sobre tempo, paciência e espera_ quase uma crueldade quando o que a gente quer é uma premonição, uma certeza, alguma frase cheia de sabedoria que norteie nossa vida.
De repente a semana está começando de novo, mas só se passaram alguns dias e todos foram tão abarrotados de ausência e medo e confusão interna, de uma busca quase estéril de se sentir melhor ,de fazer coisas por si mesma...E o buraco insistindo no meio de dentro do corpo, o abismo gelado, o choro engrossado de escuridão e descrença...E eu te vejo encolhida num canto, o desespero nos olhos, o peito abafado, a vontade do grito e a falta de fôlego...E eu não sei a coisa mais bonita que eu poderia te escrever....Sei que já vi borboletas voarem faltando um pedaço da asa e rosas incríveis desabrocharem num copo com água: e é disso que me nutro pra acreditar que a meteorologia nem sempre está certa e que dias tão cinzentos podem ser prefácios de noites com sol...
Sei que se eu estivesse aí,certamente estaríamos juntas no cantinho mais confortável de qualquer lugar escolhido por você e eu te daria um abraço com tanto encaixe e amor que você, por pelo menos alguns minutos, encontraria“ um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”...E mesmo que o seu corpo todo doa numa súplica e que “ele” seja toda sua ferida, meu amor, eu espero ,sinceramente, que o pedacinho que falta na tua asa, não te impeça o vôo...
( Minha flor, o que eu tenho pra te dar é colo, não conselho...E todo amor que transborda em mim, vai ser seu até que nada mais doa tanto...)
*
*
*
(Marla de Queiroz)
Abril 2006
sexta-feira, outubro 27, 2006
Com-tato

abrindo fendas e poros, tecendo caminhos,amanhecendo desejos.
Afastou meus cabelos da nuca pra roçar o seu queixo.
Eu sentia a sua respiração no meu ouvido, seu sopro de vida entrando em mim.
Desajuizada e mansa, deixei que com um movimento de braço
levasse meu corpo em posição de feto pra dentro da concha do corpo dele.
Naquele encaixe, com o nosso melhor calor, ficamos ali,
desabotoando fomes, desamarrando sentimentos.
Meu coração estava na boca...pro beijo.
Ele não me acordou.
Ele entrou no meu sonho.
*
*
*
(Marla de Queiroz)
quinta-feira, outubro 26, 2006
Mar-lá...(restos de memória)
Minhas flores eu planto no papel reciclado.
As outras, eu ganho ou presenteio.
terça-feira, outubro 24, 2006
Presente do Múcio Góes
segunda-feira, outubro 23, 2006
MAR-RITMO

exalando feromônio
e ávida
por adrenalina, endorfinas e serotoninas
ou qualquer coisa
que faça vingar a nossa
rima.
E que transforme esse amor,
desencontrado do nosso mapa (astral),
química.
domingo, outubro 22, 2006
Véspera

Foto:Pedro Lima
Quando você vier haverá o encontro da sua busca com a minha espera.
E o seu abraço será a moldura do meu corpo.
E a minha boca o pretexto para o seu mais demorado beijo.
E a gente vai brincar de se desmaterializar dentro da música,
de desatar auroras,
de escrever poemas de orvalho...
E eu vou inventar uma madrugada eterna pra quando você tiver que ir embora no dia seguinte.
E você vai inventar um domingo que vai durar pra sempre porque tenho preguiça das segundas-feiras.
E a gente vai rir dessa maldade da demora do tempo pra fazer essa brincadeira de desencontro:
quase nos deixou descrentes...
A gente vai rir dessa maldade porque o nosso amor será a coisa mais bonitinha do mundo...
*
(Marla de Queiroz)
*
*
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Junho 2006
sábado, outubro 21, 2006
Perfil 3

"Caboquinha corria dentro do vestidinho vermelho com flores brancas e pequenas. Estampas querendo o suicídio coletivo. Morrer no revés do tecido. Nada tem a ver com as cores que se avistam com olhos recém-nascidos. Para é sempre Caboquinha. Depois que conheci Caboquinha foi como se me colocassem viseira para burro birrento. Para não enxergar periferias e abismos e se por de ré; talvez, até soltar uns coices. Caboquinha tem cabelos de alecrim. Loura negra. Boca carnuda de chupar o polegar, beiços vermelhos de lamber garapa; pernas grossas de subir morro; pelo mocotó, uma idéia das delicias para o rumo de cima; olhos negros e mudos, timidez treinada para coronéis; língua solta quando atentam suas entidades baixava a pomba-gira. Levanta terreiro. No mais, cheiro de mato e safadeza. Hoje, a ciência descobriu que se chama feromônio esse olor de bicho no cio e caboquinha vive desvairada. Recatada era pela força dos modos. Filha de macho que não quer ver filha sua perdida na vida. Claro, o safado bem desgraçou tantas. O sangue que lhe veio nas veias já havia contaminado a prole. Caboquinha aguava desde menininha. Quando lhe dava aperreio, corria pro córrego e era visão farta pros bichos, cheios de sede. Qual eu, sedento de caboquinha. Um dia, virei homem e a arrastei pelos cabelos. Botei cabresto e montei no pelo. Várias vezes, que era para fazer vingar a doma. Mas, ao contrário, ficou cada vez mais arisca. Mais dona de si. E, agora, dona de mim, caboquinha me atiça como quer. Fico aqui no cercado, seguro da vida, arando cama para amansar caboquinha. Deita caboquinha, deita...
Do teu caboco.
Saudade."
sexta-feira, outubro 20, 2006
Cansaço
É que eu estou tão cansada.
E subitamente sinto vontade de chorar.
Um choro sem tristeza, conformado,
vontade de esvaziar o corpo de tanto, tanto sentimento.
Já que não era pra ser eterno,
que fosse ao menos o infinito vestido de terno,
bem-sucedido nas ternuras.
Porque há muita vontade de acariciar na flor dos meus dedos.
E todo esse amor desperdiçado.
*
*
*
(Marla de Queiroz)
quinta-feira, outubro 19, 2006
Sobre Danúbios e Ravel...

Te(u) en-leio
e-mail às letras
doces, atrevidas,
palavras aladas
molhadas
de tua saliva.
Te aceito sim,
eu já sabia
agora espero
que teu vôo
sobre o há-mar
cure as feridas
da espera.
*(Desígnio lançado em papiro a espera da ilha que não voltou das profundas águas de março...)*
Ampla arde essa saudade
do que não fomos ainda
que linda tenha sido a nossa história
que mora no futuro
de tudo que somos agora.
terça-feira, outubro 17, 2006
MANTRA ( Raio Ativador)
sendo doce como Barros, acendendo voga[l]umes.
Preservar antes que tudo seja ar-ido.
Lembrar que no olho do girassol, a cor do arco da sua íris
é o amar-elo.
TransforMAR o amargoso em amar-gozo.
Respirar e INSPIRAR sol-rindo milhões de vezes
para floRIR.
segunda-feira, outubro 16, 2006
E, no entanto.

(Eu tô mexendo nos papéis velhos e nas nossas incompletudes).Escrevi sobre tuas mãos no dia em que o esmalte vermelho descascado parecia gotas de sangue seco em tuas unhas.Você estava triste e, no entanto, sorria: nunca vi tanta amargura revelada num sorriso.(Achei naquelas folhas soltas do caderno abandonado a história áspera de um amor que chegara trazendo angústias; a visão de uma Primavera, toda ela, de flores mortas. Achei o cartão postal, o poema rabiscado em cima da perna num pedaço de guardanapo engordurado).Tuas mãos, tão trêmulas, tantas veias grossas, tuas palmas ásperas, bem me lembro da firmeza com que segurava as coisas, do teu apego, do medo de deixar cair.Você vivia entorpecida passeando pela casa, desarrumando os quartos, esvaziando cinzeiros. Os discos espalhados pela sala.(Uma frase de Drummond naquela foto antiga, a letra ilegível, a frase indecifrável).O sangue seco nas tuas unhas.(Tanta amargura naquela carta.A Primavera de folhas secas e flores mortas).E no entanto, você falava de amor...Tonta,trêmula e ausente segurando as coisas com força, em meio aquele abandono.
No teu sorriso.
Tudo tão frágil.
(E, no entanto).
*
(Marla de Queiroz)
Março 2006
quarta-feira, outubro 11, 2006
Do desejo...

Foto: do filme DOLLS
Apertou o meu braço me encharcando de luz com os olhos dele. Mexeu nos espaços vazios menos visíveis do meu corpo, encheu meus compartimentos fechados de sentimentos que não me couberam nas mãos em concha. Esperei inutilmente que o tempo o levasse de mim. Foi tão inútil esperar quanto pensar que o veria e que não o beijaria novamente. Aquela boca vermelha sem batom. Foi tão inútil, meu deus, pensar que seria tarde demais se o que havia era um pedaço de tempo, de qualquer hora propícia pra não resistir ao beijo que ele fingiu roubar e que eu fingi que não dei. Depois saí atordoada vestida de desejos urgentes. Havia um céu negro, uma multidão ao fundo e ele lá, destacado no meio daquela gente sem brilho, ele destacado, completamente sobressalente. "Senti saudades de você. Senti muita saudade de você.", ele disse sem saber da minha falta, da ausência dolorosa, da minha procura que começava sempre às vésperas da sua chegada rápida em que não é necessário nem se desfazer as malas. Ele me desabotoando sem saber e eu fingindo, fingido que estava tudo como sempre esteve enquanto um cataclismo desarrumava os meus órgãos internos.Ele sempre tão bonito. Tão bonito, meu deus. Eu o adorando, adorando com suas pequenas mentiras, suas diversas histórias contadas em textos curtos, frases breves e um sorriso constante. No meio da madrugada, daquela gente toda e ele sempre se destacando, chamando a minha atenção pro proibido, pro contestável, refutando uma-a-uma as minhas convicções. Acordou em mim tudo que dormia ou estava sonolento. Fez emergir o que eu guardava pra sentir depois da chuva...
Ele, insuportavelmente sedutor ...Eu, "docemente pornográfica".
*
*
*
(Marla de Queiroz)
Março,2006.
terça-feira, outubro 10, 2006
O que foi dito (quase) em silêncio...

Foto: Tatas del GOSTs
Não vá embora, não. Eu nunca pedi isso, mas agora que eu não preciso de você porque estar contigo é uma escolha, posso pedir. Quero que fique pelo que tem pra amar que ainda não se permitiu. Não só amar a mim, mas a uma pessoa que entenda essa sua necessidade de descobrir a dimensão do amor que você engavetou. E que faça com que não tenha medo de ser abandonada antes que tudo se complete. Antes do tempo de estar pronta pra ser uma luz pra si mesma.
Não vá embora agora, você sempre fez isso antes que doesse. Nunca saberá se doerá sempre. Nunca. Enquanto isso, carrega uma ilusão como sua única verdade.
Não vá embora, eu peço porque seu olhar me pede isso. Então eu digo com todas as letras que estou contigo, ao seu lado. Parece pronta, mas antecipa tudo antes do susto.Não tente me despertar emoções, elas são a parte mais nítida do seu medo. Sempre que quer ficar apressa seus passos e ganha a estrada abraçada com o diálogo imaginário de tudo aquilo que nem sequer esperou que fosse dito. Eu vejo sua fuga quando dança de olhos fechados, quando se muda pruma outra dimensão, quando se entrega ao etéreo querendo sumir.... Casou com a palavra, com a poesia, inventou seus personagens e, aparentemente, isso basta porque segue mantendo o controle dos inícios e fins. (Ouse ficar aqui um pouco mais pra se surpreender consigo mesma...)
Eu só quero que você compreenda que pode fazer alguém muito feliz.
Até lá, quem sabe, eu terei tempo suficiente pra aprender a merecê-la.
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(Marla de Queiroz)
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P.S.: Não tenho respondido a alguns comentários porque meu computador de casa não quer funcionar.Quando dá, eu rabisco alguma coisa em cima da perna e publico num cyber café ou no trabalho...
Uma semana abarrotada de sol-risos a todos.
( Vocês me fazem mais bonita! ;-))
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domingo, outubro 08, 2006
"Amaduressência"

Ele nunca soube se eu voltaria: chegava sempre alvoroçada, com pressa pra consumar o amor.Quando me demorava no abraço, ele fazia eternidades daquele instante. Envolvia-me com zelo temendo qualquer movimento que o afastasse, qualquer menção de buscar a roupa espalhada. Ele o fazia cheio de delicadeza, não havia como me prender por mais que algumas horas. Buscava um brilho do meu olhar em sua direção, uma entrelinha num sorriso breve, uma malícia qualquer na piscada de olho antes da ida para o banho. Esperava meu convite, mas eu o tinha com tanta abundância que achava que não o queria. Era como se nunca fosse se ausentar porque se doava inteiro e sem pressa.
Um dia ele chegou antes da hora do meu desejo cru. E ficou contemplando a minha ausência. Não me abraçou como sempre, esperou que eu me aproximasse.Disponível que estava, mas seguro da sua parte feita, esperou que eu me assustasse, que entendesse que eu poderia não voltar se eu não quisesse, que ele saberia conjugar a minha ida no pra sempre.Com alguma dor, naturalmente.Mas estava sereno, quase se despedindo, conformado. E eu me sobressaltei.Porque nunca tinha imaginado que ele pudesse ir embora. Nunca tinha imaginado a ausência do toque dele, a falta do beijo, a serenidade que cabia no desejo. Eu esperava alguma coisa mais aflita, uma paixão que gritasse pra eu ficar, um desespero, os argumentos. Mas não, ele me contemplou sem falas, sem pedidos, deixou que todo aquele tempo fosse preenchido por grossas gotas de silêncio e calma.
Naquela hora, naquele meu sorriso sem jeito, naquele olhar cheio de frases, um brilho, um brilho tão forte abraçou todo ele com as minhas retinas.E eu o vi como nunca tinha visto antes. Eu o quis como se nunca o tivesse tido entre as minhas pernas.E abandonei o meu corpo no abraço dele, eternizada...
Ele que sempre esteve ali e era como se tivesse chegado só naquele instante.
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(Marla de Queiroz)
quinta-feira, outubro 05, 2006
Das coisas que ficam.
(Marla de Queiroz)
Março de 2006.
segunda-feira, outubro 02, 2006
Constatação

Foto: Carlos Gomes
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(Marla de Queiroz)
sábado, setembro 30, 2006
Da Dependência
Eles que já foram correnteza.
Seguiam arrancando galhos
alargando os quadris do rio.
Ela dançando líquida
contornando as pedras do caminho.
Lúdica, se harmonizava
ao que poderia ser obstáculo.
Ele querendo aprisionar a água corrente
num retrato em preto e branco.
Acorrentados à chuva já não fluíam.
Viam as gotinhas de luz passearem por seus corpos
sem as acompanhar.
Não perceberam tristeza quando se esqueceram
do que tinham proposto inicialmente.
Aprisionados um ao outro temiam apenas o abandono.
Dependendo.
Resumindo.
Abreviando.
Empobrecendo-se.
Não era pra ser uma corrente cinza, metálica.
Era pra ser a cor- rente- ao- arco-íris.
sexta-feira, setembro 29, 2006
Flor de ir embora...
quarta-feira, setembro 27, 2006
Amor-(Perfeito)-Próprio
segunda-feira, setembro 25, 2006
Da Poesia...

Não me importam os caminhos por onde me levará a poesia.
Nem se ela escorre na página em branco ou numa pele macia.
Se construção arquitetada ou estilhaços de versos,
Não me importam seus processos.
Importa é que ela nasça:
Seja flor brotada num túmulo frio_ onde havia anseios
Ou no sangue correndo quente _ no bico dos seios...
(A poesia respira no vento...)
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Marla de Queiroz
(Fevereiro de 2006)
sábado, setembro 23, 2006
Decisão
você vai morar na minha taquicardia”.