terça-feira, fevereiro 03, 2009

Carta

É fato que fomos. Mas seria muito esquisito me despedir de você cumprindo todos os pré-requisitos dos dramas clássicos. Prefiro acreditar que você foi uma chuva precipitada que eu só tive coragem de experimentar por detrás da vidraça. Assim, como já fizemos tantas vezes com outras pessoas.Também queria te dizer que só vou me entregar à outra narrativa quando ela se tornar uma história coesa, coerente, bem elaborada. Renuncio desde agora às relações em que todos os passos levam apenas a um contato irremediavelmente externo com a palavra.Eu gosto mesmo é de misturar agudezas com tons graves. Bem se vê na escala cromática dos meus sentimentos.Meus amarelos tão vivos, primitivos.Meus vermelhos tão trêmulos. Minhas cores acesas, em brasa.Mas, no meio disso tudo, quero te contar que ando tão emendada em eventos sociais que sinto saudade da minha solidão. Ela tem o aspecto positivo de não me deixar me perder de vista. Eu preciso me olhar bem por dentro, de tempos em tempos, por um bocado de dias pra que eu continue merecendo minha poesia.É diferente da solidão que se sente quando se está acompanhado: neste caso, perdemos de vista o outro.
E tenho estado muito feliz, antes que você pergunte. Tenho mania de adiantar momentos incríveis com a força do meu pensamento, você sabe. Depois eles se materializam e eu os celebro.
Então, janeiro foi embora sem se despedir...FERVEreiro no Rio,e ontem foi dia de Iemanjá. Pensei em jogar palmas no mar como tantos, mas não tive coragem, ele estava engasgado com tanto lixo: herança de um domingo de sol.Deu até aperto no peito.Nenhuma onda e o mar calmamente imundo.
Nem era sobre isso que eu ia falar.Mas esses assuntos que mudam de rumo repentinamente se parecem muito com nós dois: desejo e poluição.
E a impossibilidade de mergulhos.



(É fato o que fomos.)


*


*


Marla de Queiroz




P.S.: Ainda o esquema do livro autografado pelo e-mail ou pelo site ( post anterior).


P.S.: Por favor, não deixem o lixo na areia, isso é um crime ambiental grave! As ondas levam embora todo aquele plástico muito antes dos garis passarem recolhendo....isso é muito sério: ver gente que aparentemente tem educação e informação suficientes, deixando suas garrafinhas de plástico e todo o lixo consumido num fim de praia como se o mar fosse autolimpante.É vergonhoso usufruir de tudo que a natureza nos proporciona gratuitamente e deixar rastros de poluição. Sejamos mais conscientes. Sejamos um exemplo fazendo a nossa parte.
P.S.2: Na foto, meu fim de praia

18 comentários:

Catalina Mazza disse...

Achei seu blog no orkut e confirmei por aqui que as boas palavras sobre sua palavra são merecidas.
É bom isso, parece companhia.

Gustavo Jaime disse...

Olá Marla... mais uma vez, impressionante a sua descrição: "Ela [a solidão] tem o aspecto positivo de não me deixar me perder de vista. Eu preciso me olhar bem por dentro, de tempos em tempos, por um bocado de dias pra que eu continue merecendo minha poesia". Também sinto e sou assim. E você soube expor algo que eu sempre "apenas" interiorizei.

Formidável. Como sempre.

Amanda Proetti disse...

Irremediavelmente tua poesia me toca, me agride, me machuca, expurga minhas feridas e depois me sara! Que bom q estás aqui hj! Hj! Q bom!
Bjk

Juliêta Barbosa disse...

Marla,
O seu texto tem o vermelho rubro da paixão e a manhã ensolarada que nos desperta saudades esquecidas.
Lindo. E como nos faz pensar! Parabéns!

Anônimo disse...

minha viviane westood da poesia, esse balé de expressamentos é só vc que sabe compor. MAR-LA-VI-LHO-SA!

Caroline Rodrigues disse...

Você é maravilhosa.
Quero o liiiiiiiivro!
Você veio a BsB, não me avisou... Humpf! Agora tenho de me contentar em ficar olhando vc pelas fotos e em receber seu livro via correio. :(


Beijo
Deus abençoe vc para sempre

marimagno disse...

tava com saudade.
fui ao leme no sabado e lembrei de vc.

como é bom te ler de novo.
sempre bom.

Comadre Paloma disse...

Demais a Carta, Marla! Demais nosso encontro de praia!
Acho que aquela explosão do sol mexeu mesmo com o mundo (pelo menos com os cariocas)...
Valeu pelo toque.
beijo grande.

Comadre Paloma disse...

Demais a Carta, Marla! Demais nosso encontro de praia!
Acho que aquela explosão do sol mexeu mesmo com o mundo (pelo menos com os cariocas)...
Valeu pelo toque.
beijo grande.

Unknown disse...

Oi Marla, atravéz da indicação de um grande amigo cheguei em seu blog, e espero encotrar hospedagem pois, depois de algumas coisas que li, desejo realmente ficar. Eu sou uma amante das palavras e da leitura. E fico feliz quando consigo encontrar almas na qual me identifico. Parabéns pelos por tudo o que eu vi em suas formas de expressão. Depois visite meu blog também, lá tem alguns pedaços de mim que só consigo demonstrar em palavras. Até breve

Su. disse...

Quanto mais te leio, mais vontade tenho de te ler... de vez em quando a vida brota um poeta, sem duvida tu nasceu poeta menina, linda, que aprendi a gostar tanto! Bora dançar?

Beijão nesse coração e abaixo a poluição!

Lubi disse...

Minha linda.
Saudade.

Abraços.

Lubi disse...

E quero meu livro teu.
Fato.

Anônimo disse...

Não existe impossibilidade de vôo , nem mergulhos qdo a palavra torna-se essencialmente "uma"..
Fascina à repetição do enredo,com samba novo..rss

Srta. das minhas vontades..Beijos na ponta do nariz....

("....Se tudo fosse, de qualquer modo....")

Anônimo disse...

Legal nega.
beijos.
Et

Clóvis Struchel disse...

Linda!

Daniely disse...

"Deu até aperto no peito" de tão lindo que é...como sempre, tudo me toca por aqui^^'

um beijo!

Jade Voigt disse...

Maravilhoso texto... E estou mesmo me vendo nele. Tanto me vejo que, ainda ontem, disse para a tal "chuvinha"... (em sussurros, em olhares e em gritos, porque EU ainda tenho o direito ao verbo):

"Palavras? Elas vão com o vento - agora quero vê-lo em atos, quero seus passos em minha direção. Me mostre, não fale."

Parabéns, Marla, pelo seu lindo BLOG.

BJKS de LUZ

Postar um comentário

A poesia acontece quando as palavras se abraçam...