(Eu tô mexendo nos papéis velhos e nas nossas incompletudes).Escrevi sobre tuas mãos no dia em que o esmalte vermelho descascado parecia gotas de sangue seco em tuas unhas.Você estava triste e, no entanto, sorria: nunca vi tanta amargura revelada num sorriso.(Achei naquelas folhas soltas do caderno abandonado a história áspera de um amor que chegara trazendo angústias; a visão de uma Primavera, toda ela, de flores mortas. Achei o cartão postal, o poema rabiscado em cima da perna num pedaço de guardanapo engordurado).Tuas mãos, tão trêmulas, tantas veias grossas, tuas palmas ásperas, bem me lembro da firmeza com que segurava as coisas, do teu apego, do medo de deixar cair.Você vivia entorpecida passeando pela casa, desarrumando os quartos, esvaziando cinzeiros. Os discos espalhados pela sala.(Uma frase de Drummond naquela foto antiga, a letra ilegível, a frase indecifrável).O sangue seco nas tuas unhas.(Tanta amargura naquela carta.A Primavera de folhas secas e flores mortas).E no entanto, você falava de amor...Tonta,trêmula e ausente segurando as coisas com força, em meio aquele abandono.
No teu sorriso.
Tudo tão frágil.
(E, no entanto).
*
(Marla de Queiroz)
Março 2006
7 comentários:
"Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz.
A mão- a tua mão, nossas mãos-
rugosas, têm o antigo calor
de quando éramos vivos. Éramos?"
:Eu li atrás da foto, e Drummond dizia isto.
Ps: saudade não tem cidade. rsrs
bjo, Marla!
Puxa, muito lindo isso!
Maravilhoso, lindo por demais.
Amei como sempre.
Acho que nunca vou conseguir fazer outro comentário , pq sempre fico encantanda com tuas palavras, me tocam profundamente, as queria pra mim, rsss
linda noite
beijos
"... e eu, no entanto, tonta, tento tanto que até sangro, sorrindo...", brinco eu de brincar com as tuas próprias palavras, na impossibilidade de ameniza´-las com as minhas. 1 beijo e té +
amo vc sempre..
e desde nunca..
pq assim sem endereço..
sem tempo que nos imite..
a gente pode ir ficando..
salve poetudes..
ai, que lindo...
tenho vindo aqui menos do que gostaria, mas sempre saio leve, leve...
beijos!!!!!!
Lindo Marla, como sempre!
Esse amor-amargo exposto nas suas palavras sempre tão certas me emocionaram de verdade
Bjs querida
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A poesia acontece quando as palavras se abraçam...