quinta-feira, janeiro 24, 2013

Até logo!




Não dormi. B. assaltou meu corpo por toda a noite e madrugada, teve pesadelos em que eu ia embora e chorou copiosamente. Parece pressentir. Não posso ficar aqui, vamos nos consumir absolutamente. Sinto falta do amor sereno de M. que me chama de “alegre menina” enquanto afaga meus cabelos. M. não me devora, mas degusta, aprecia. B. é meu predileto, mas se funde a mim, parece querer que o mundo se acabe em meu ventre.

Hoje não vai chover. Sinto falta de ver o mundo apressado, pessoas correndo: uma para cada lado. Sinto falta de deitar na grama e respirar profundamente o céu. Mas B. acha que nossa vida pode se resumir nesta cama. Eu o amo, mas não o quero mais agora. Vou procurar M. que me espera calmamente. Ou seguir sozinha.

Fulano ainda me procura pela cidade. Um pobre coitado que seduz mulheres ingênuas para me vigiar e dar-lhe informações sobre minha vida amorosa. Não me importa, aliás, nada que venha dele me interessa. Sinto pena de sua imensa escravidão: vive a minha vida enquanto poderia fazer algo por si mesmo. Um pobre coitado, estabanado que jamais terá a minha admiração.

Meu Deus, como sou volúvel! Embora eu receba os meus homens com meu coração sempre despreparado e vivencie o amor, de qualquer espécie, com inocência e candura, ainda assim, sinto-me inquieta, sinto falta de mim. Mas acolho tudo que me acaricia. Agora preciso escrever sobre o que vejo, sobre a imensidão. E entre quatro paredes há tanto tempo, só consigo sentir o cheiro do sexo e da exaustão.

Não tenho malas para arrumar. Vou deixar minhas peças íntimas espalhadas como estão. Vou deixar que o meu rastro adorne este chão. Só preciso abrir a porta e sair. E é o que farei enquanto B. dorme cansado por ter estado dentro de mim madrugada à fora.

Beijo sua testa com todo o amor do mundo e saio. Nenhuma lágrima. Nenhuma culpa. Ele sabe que fui criada para a liberdade mesmo que ela signifique esta gaiola de buscas e esperas. Mas minhas mudanças sempre foram bruscas. Até logo Meu Senhor, Meu Grande Amor. 

Desejo apenas que você me queira bem.

Marla de Queiroz

4 comentários:

Jéssica Marques disse...

Nossa! Muito bom! Juro que esta foi a minha primeira reação ao terminar de ler. Você escreve de uma maneira tão intensa e ao mesmo tempo tão leve, dá p. sentir tudo o que você sente ao escrever. Não sei se você gosta, mas me lembrou muito Chico Buarque.

(:

fleur-du-matin.blogspot.com

Bubu ツ disse...

Estou apaixonada pelos últimos posts. Marla, você tá incrivelmente à flor da pele. Magníficamente transparente! Vai... bota tudo isso em um livro!

Arthur Rangel B) disse...

Marla, sigo seu blog faz um tempo, e, preciso ser sincero, eu sempre pulo seus textos, que costumam ser grandes. Mas, de vez em quando estou disposto a ler seus textos, são dias incomuns, acontecem uma vez ao mês. E preciso te dizer que de todos os textos seus que li desde o primeiro, esse foi o que me deixou mai extasiado! Meio que sem respiração, por sentir tudo o que você escreveu nele! Ou melhor, que você cuspiu nele!
Gosto de coisas assim, abertas, expostas e belas! Aquela coisa vicejada que nem todos tem, por mais que seja apenas por um momento! E, foi ótimo descobrir hoje que você é uma pessoa que tem isso! Agora. prometo que sempre lerei seus textos, porque, com esse, você me conquistou! *-*
Um beijo!

Ana EmíliaYamashita disse...

"Gaiola de buscas e esperas" - tenho vivido nelas há anos.

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A poesia acontece quando as palavras se abraçam...