Não dormi. B. assaltou meu corpo
por toda a noite e madrugada, teve pesadelos em que eu ia embora e chorou
copiosamente. Parece pressentir. Não posso ficar aqui, vamos nos consumir
absolutamente. Sinto falta do amor sereno de M. que me chama de “alegre menina”
enquanto afaga meus cabelos. M. não me devora, mas degusta, aprecia. B. é meu
predileto, mas se funde a mim, parece querer que o mundo se acabe em meu
ventre.
Hoje não vai chover. Sinto falta
de ver o mundo apressado, pessoas correndo: uma para cada lado. Sinto falta de deitar
na grama e respirar profundamente o céu. Mas B. acha que nossa vida pode se
resumir nesta cama. Eu o amo, mas não o quero mais agora. Vou procurar M. que
me espera calmamente. Ou seguir sozinha.
Fulano ainda me procura pela
cidade. Um pobre coitado que seduz mulheres ingênuas para me vigiar e dar-lhe
informações sobre minha vida amorosa. Não me importa, aliás, nada que venha dele
me interessa. Sinto pena de sua imensa escravidão: vive a minha vida enquanto
poderia fazer algo por si mesmo. Um pobre coitado, estabanado que jamais terá a
minha admiração.
Meu Deus, como sou volúvel!
Embora eu receba os meus homens com meu coração sempre despreparado e vivencie o
amor, de qualquer espécie, com inocência e candura, ainda assim, sinto-me
inquieta, sinto falta de mim. Mas acolho tudo que me acaricia. Agora preciso
escrever sobre o que vejo, sobre a imensidão. E entre quatro paredes há tanto
tempo, só consigo sentir o cheiro do sexo e da exaustão.
Não tenho malas para arrumar. Vou
deixar minhas peças íntimas espalhadas como estão. Vou deixar que o meu rastro
adorne este chão. Só preciso abrir a porta e sair. E é o que farei enquanto B.
dorme cansado por ter estado dentro de mim madrugada à fora.
Beijo sua testa com todo o amor
do mundo e saio. Nenhuma lágrima. Nenhuma culpa. Ele sabe que fui criada para a
liberdade mesmo que ela signifique esta gaiola de buscas e esperas. Mas minhas
mudanças sempre foram bruscas. Até logo Meu Senhor, Meu Grande Amor.
Desejo apenas que você me queira
bem.
Marla de Queiroz
4 comentários:
Nossa! Muito bom! Juro que esta foi a minha primeira reação ao terminar de ler. Você escreve de uma maneira tão intensa e ao mesmo tempo tão leve, dá p. sentir tudo o que você sente ao escrever. Não sei se você gosta, mas me lembrou muito Chico Buarque.
(:
fleur-du-matin.blogspot.com
Estou apaixonada pelos últimos posts. Marla, você tá incrivelmente à flor da pele. Magníficamente transparente! Vai... bota tudo isso em um livro!
Marla, sigo seu blog faz um tempo, e, preciso ser sincero, eu sempre pulo seus textos, que costumam ser grandes. Mas, de vez em quando estou disposto a ler seus textos, são dias incomuns, acontecem uma vez ao mês. E preciso te dizer que de todos os textos seus que li desde o primeiro, esse foi o que me deixou mai extasiado! Meio que sem respiração, por sentir tudo o que você escreveu nele! Ou melhor, que você cuspiu nele!
Gosto de coisas assim, abertas, expostas e belas! Aquela coisa vicejada que nem todos tem, por mais que seja apenas por um momento! E, foi ótimo descobrir hoje que você é uma pessoa que tem isso! Agora. prometo que sempre lerei seus textos, porque, com esse, você me conquistou! *-*
Um beijo!
"Gaiola de buscas e esperas" - tenho vivido nelas há anos.
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A poesia acontece quando as palavras se abraçam...