terça-feira, outubro 23, 2012

(INS)PIRE




Que venham as palavras: nocivas, indecisas, despudoradas, vestidas de dores, de mágoas, de raivas. Que venham como quiserem, que se ofereçam delicadas ou urgentes, despidas de tudo, eloquentes, mas que sejam transparentes. Que venham sem falso moralismo, sem recalques, sem alegrias artificiais, sem entusiasmos opacos. Venham palavras: inocentes, indecentes, inexistentes. Componham frases, poemas, cartas, bilhetes, músicas. Venham livres, eufóricas e aladas, sem apego ao poeta-instrumento, à paisagem, ao sentimento, a nada. Venham vivas, mesmo que para falar, acidamente, dos mortos que ainda não foram enterrados.

Marla de Queiroz 

4 comentários:

placco araujo disse...

Não há que se negar...nocivas, indecisas, despudoradas, vestidas de dores, de mágoas, de raivas, elas veem sempre trazidas a nós pelas suas mãos.
Você é realmente a senhora das palavras.

Priscila Rôde disse...

Ai... que maravilha!

Marina disse...

Que assim seja
que venham as palavras, reais , como naturalmente são !

Ricardo Lamelas Frías disse...

Me gusta este post Marla, ¿me dejas que te la copie en mi blog? Espero, un beso

Postar um comentário

A poesia acontece quando as palavras se abraçam...