sexta-feira, julho 13, 2012

Passado a limpo



Quando amanhecia antes, já era noite e tudo doía. Eu tinha um punhado de angústia no peito, eu era a personificação da melancolia. Tive que aprender a estar comigo, fiz grandes e novos amigos, desenterrei o meu sorriso e arejei meu coração. Quando amanhecia, antes nunca era dia. O meu afeto pasteurizado com prazo de validade vencido. O seu abraço cinematográfico, técnico como nos filmes. Mas a cena era perfeita para quem via. Mas a cena era só encenação, eu sabia. Quando amanhecia antes, eu estava oca, fazia sol, era verão, mas me agarrava aquele frio. Havia tesão, sem comunhão.A nossa excitação pedia socorro. E almejávamos o gozo absoluto para manter incólume aquela ofegância que chamávamos de amor. Quando amanhecia, eu tinha o sono dos sonhos perdidos. Antes, eu não sabia... A noite morava em mim, nunca era dia.

Marla de Queiroz

4 comentários:

Priscila disse...

Lindo demais, Marla. Desnecessário dizer, o quanto você me encanta, há anos! E a cada publicação, mais encantamento.

Beijossss, menina bonita!

Júlia Kabbas disse...

Lindas palavras, porém é difícil arejar-se e reconhecer a noite para receber o dia... Admiráveis são os que enxergam o oco e o floreiam de novos amigos e amores.. parabéns

Anônimo disse...

"Lindo demais, Marla. Desnecessário dizer, o quanto você me encanta"

a Pri disse tudo!

P.s.: amei a foto!

placco araujo disse...

Antes a noite morava em mim... nunca era dia...
É lindo e triste ao mesmo tempo, não é?
Mas que bom que agora vives sempre ao sol, inundando o seu plexo solar de calor que só a emanação das pessoas pode prover!!!

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A poesia acontece quando as palavras se abraçam...