Porque quando eu li no meu poema: “o mar arrebenta em fúria enquanto o horizonte, essa linha vertebral das águas, permanece imóvel, calmo...”, ele chorou. Deitou no meu colo e chorou. E eu continuei lendo, lendo pra não dizer coisas tão banais sobre nós dois. Eu estava protegida naquela leitura de um poema imparcial. Porque ele me achou tão cuidadosa com as palavras, eu cuidei pra não deixar a cabeça dele sem o amparo de um cafuné. Porque eu sabia que ele estava frágil e que a vida doía e eu era a força. Mas não entendi se eu estava me sentindo tão bem e ele foi embora renovado, porque fiquei tão oca, cansada e triste. Se antes de tudo fizemos amor com saudade. Se depois de tudo dormimos o sono dos deuses e, apesar de tanto, ainda andamos na praia, fizemos mil planos e eu fiquei contemplando embevecida, naquele momento em que eu precisava, o mergulho que ele deu no mar, no meio de um dia branco. E depois, antes de ir embora, ele me abraçou e agradeceu, e me elogiou e abraçou de novo e eu ri, e fui embora também. E depois ele ligou da estrada pra agradecer de novo. E eu estava triste, cansada, oca.Talvez porque eu nunca tenha me conformado com essas idas dele que carregam sempre a solenidade do eterno, que imprimem sempre em mim a impossibilidade de um retorno inteiro.
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Marla de Queiroz
6 comentários:
Marla, conheci sua página por indicação de uma amiga.... e agora passo direto por aqui! vc é muito boa com as palavras... gostei e estou gostando muito de conhecer suas idéias e vc tb! um beijo e boa semana!
Por mais que seja bom sentir saudades, o vazio sempre vai existir, pois felicidade só é felicidade se compartilhada.
"Depois de tudo", "apesar de tanto", "antes de tudo"... Ao invés, ao revés. Ir pra vir. Vir pra voltar.
Mistérios-inquietantes da Lida.
Beijos, flor.
O retorno eterno, inteiramente repetido, depende das pausas...ou, não haveria movimento, haveria apenas o inteiro, desde o início mais distante até os confins do infinito. beijo!
Entre idas e vindas.. Uma vida!
Como sempre, tudo é transitório demais pra chamarmos de "é terno".
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A poesia acontece quando as palavras se abraçam...