
Foto:Pedro Moreira
Tudo é vislumbre de uma nova luz. Já espreito sussurros primaveris e gritos de verões ardendo a pele.Enquanto isso, contemplo as amendoeiras amarelecidas, já enfraquecidas pelos últimos suspiros do inverno.Tudo é vislumbre de uma época tão novinha: em folha, em flores, em aguardamentos.(Era assim que Guimarães chamava a espera, penso).Tudo convivendo numa melodia doce.Que nem flauta ensinando criança que pulmão é coisa musicalmente vital.Mas há de se saber soprar fraco ou forte pro som vir do jeito que se almeja.Se não, não passa de estridências sem harmonia.Melodias doces guardam o medo da gente e trazem colo.(Que nem quando mãe canta bem baixinho pra fazer sossego na noite).E vem vindo tanta confiança na entrega do sono que a gente sonha.Que é nessa horinha que o sonho acontece, quando a confiança.Eu já soube muitas coisas além dessa. Só que esqueço rápido. E fica apenas o dia de hoje sendo importante. Mesmo quando tudo é saudade. É saudade do que se teve algum dia de tão bom que se acontecesse hoje, por exemplo, imagina essa alegria: teve um dia que eu tava tão feliz que queria a repetição, não da cena, mas da felicidade inteira do tamanho que aquela tava sendo.(Porque o que fica do escuro da dor nessas horas é que ela amanhece).Eu fico pensando que a vida sabe bem conjugar os seus verbos.Só é preciso a palavra caber direitinho naquele embaraço de coração batendo confuso. Aí tudo acalma e parece aprimoramento.Que é como quando você só percebe que aprendeu o estudo tentando explicar a alguém.E a pessoa também fica estudada porque entendeu o que você entendeu quando explicou.E recebeu pronto o que a gente levou dias destrinchando.Por isso que compartilhar é palavra que vai caber sempre na dor, no amor.Eu acho tão importante fazer bom uso da palavra compartilhar. Que nem quando a gente.
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Marla de Queiroz