Foto: Fernando Figueiredo
Arrumando minha casa de dentro juntei estilhaços de um tempo em que, cansada de sóis vazios e dessas tempestades de agonia, pra esquecer um amor antigo, arremessei meu coração contra a parede. Eu descobri que algumas pessoas se juntam não por afeto, mas por tristeza encomendada. Que certas coisas que deveriam afastar, às vezes aproximam.
Quando arrumei minha casa de dentro tinham muitas declarações de amor de gente que já não me amava mais pelo caminho. E quando eu estava prestes a começar uma vida nova, tropeçava nesse passado e nos referenciais antigos e voltava para lá que era um lugar aparentemente mais seguro. E ergui tantas paredes rabiscadas pelo medo.
Descobri, quando abri as janelas, que uma chuva muito forte também tem som de aplausos. Que na pauta dos meus lábios só cabem palavras macias. Que há que se beber do outro também a fonte de idéias para que tudo não se resuma num encontro incandescente de peles porque devemos explorar todas as qualidades do desejo.
Eu descobri que tenho um jeito de gostar exagerando os fatos e que a ficção é o que mais participa da minha realidade. Mas que sempre fica um rastro na minha pele se alguém se demora nas carícias. E que não se pode ter a força de uma represa retendo seus próprios líquidos.
Quando arrumei minha casa de dentro eu descobri que essa é uma tarefa infinita. E há que se reordenar as coisas incansavelmente pra se ter espaço pruma nova cor. E que uma boa base impede um desmoronamento, mas que a implosão da estrutura inteira, às vezes, é a coisa mais sábia a se fazer em determinados momentos.
Quando arrumei minha casa de dentro tinham muitas declarações de amor de gente que já não me amava mais pelo caminho. E quando eu estava prestes a começar uma vida nova, tropeçava nesse passado e nos referenciais antigos e voltava para lá que era um lugar aparentemente mais seguro. E ergui tantas paredes rabiscadas pelo medo.
Descobri, quando abri as janelas, que uma chuva muito forte também tem som de aplausos. Que na pauta dos meus lábios só cabem palavras macias. Que há que se beber do outro também a fonte de idéias para que tudo não se resuma num encontro incandescente de peles porque devemos explorar todas as qualidades do desejo.
Eu descobri que tenho um jeito de gostar exagerando os fatos e que a ficção é o que mais participa da minha realidade. Mas que sempre fica um rastro na minha pele se alguém se demora nas carícias. E que não se pode ter a força de uma represa retendo seus próprios líquidos.
Quando arrumei minha casa de dentro eu descobri que essa é uma tarefa infinita. E há que se reordenar as coisas incansavelmente pra se ter espaço pruma nova cor. E que uma boa base impede um desmoronamento, mas que a implosão da estrutura inteira, às vezes, é a coisa mais sábia a se fazer em determinados momentos.
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Marla de Queiroz
22 comentários:
Olá, Marla!
Já acompanho seu blog há algum tempo, apesar de nunca antes ter me atrevido a deixar um recadinho aqui.
Contudo, seus dizeres de hoje operaram um milagre (rs). Gostaria de lhe falar que nas suas palavras, muitas vezes, consigo ler minh'alma, ver sentido no que me corrói e, freqüentemente, não consigo ordenar em pensamentos coerentes.
Você me parece a mistura de muito talento, muita urgência, muita docilidade, muita força e alguma insatisfação, tudo devidamente embalado em delicadeza.
Parabéns, você é grande!
Beijos sinceros de quem admira seu trabalho,
Andava com saudades da sua força, Airumã.
=**
Oi Marla,
tou passando aki primeiro pra elogiar sobre "Das descobertas", vou resumir meu sentimento da forma mais poética possível...SIMPLESMETE FODA !!! Já te disse isso...
E pra indicar esse blog: http://umpostalparaumamigo.blogspot.com/
Tenho certeza que vc vai adorar, dá uma espiada, é SENSACIONAL!! De uma amiga minha, tem a sua cara !!
Beijos...
Bruno Villas-Bôas.
Um rio brotando dos meus olhos, Marla. Porque esse é o texto que eu tento há dias, essas são as descobertas recentes que eu não sei como descrever. Soa repetitivo, eu sei. Mas sinto medo. Muito. E muita admiração também.
Porque quando eu não consigo me olhar, por não ser suficientemente forte, eu olho pra você e me vejo, no passado, no presente, no futuro. E esse reflexo acenda um raio de luz no caminho pr'eu passar.
Um beijo.
nós dificilmente conseguimos arrumar os dentros também porque insistimos em guarda muita tranqueira, né?
gostei especialmente de: "Eu descobri que tenho um jeito de gostar exagerando os fatos e que a ficção é o que mais participa da minha realidade." sua cara! aliás, também me vejo nestas palavras.
esta é a Marla, um exagero de mulher!
beijão!
adoro vir aqui.
suas palavras bem me fazem.
beijo
Belo texto!
muito sincero e poético.
Adorei o blogue tbém.
beijos!
Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Webcam, I hope you enjoy. The address is http://webcam-brasil.blogspot.com. A hug.
marla, aqui pra mim é tudo perfeito. a fabiana, num comentario anterior, te definiu de forma tao brilhante que me permito compartilhar as mesmas palavras. porém, pra mim vc vai ser sempre a vivien westwood da literatura porque te idealizei assim.
grande abraço com toda minha admiraçao.
marley
entendi agora aquilo de pessoas começarem o dia passando aqui.só uma palavrinha:POESIA! aplausos de pé! dudupererê www.verbologue.zip.net
Não há problema e é até bom implodir tudo, já que só o caos nos assenta e liberta, em dados momentos. Importa ter base. E quando a base é sólida, as mudanças são divertimento com distração de sofrimento, pra que a poesia tome conta e não se perca a graça de si conquistar. (;
Beijos, flor.
P.S.: Esse "webcam" É VÍRUS! NÃO CLIQUE NO NOME E NEM NO LINK! (;
a casa de dentro às vezes é a mais dificil de faxinar.
bonito demais, marla
:*
Hoje fui arrumar minha casa de dentro no meu blog e adicionei o teu.Peço-te permissão.
Oi Marla...
só ontem é que tive o prazer de descobrir seu blog - nossa, paixão a primeira lida!
Já indiquei para queridos, compartilhar algo tão bom é benção pura.
Um salve p/o seu talento - God bless you!
Bj e hasta!
Cara! Muito bom. Leio sempre seu blog.
Abs,
Iara
Olá moça bonita..
Se queria que todos tivesse saudades conseguiu!
Estamos morrendoooooooooooooooo...
Precisamos de sua poesia.Escreva logo plis...
bjs
sua admiradora
MAri
pqp!
como vc consegue escrever tanto com o coração!?
com a alma...com todos os sentidos... e a gente consegue entender exatamente aquilo que nunca consegueriamos traduzir em palavras!?
sou sua fã!!
sou mesmo...
escritora preferida!
muitos beijoss
Marla querida,
Minha casa de dentro transpôs os limites de minha pele, meus poros e me represou; caçadora me tornou presa, refém.
Porque tola, porque fraca, porque amando ainda as dores do amor que não é mais, que nunca foi, que nunca fui.
Porque é fácil, porque louvo o passado, temerosa do porvir.
Mas minha casa de dentro ainda tem cantos a decorar. Janelas a descortinar. Então me entrego entorpecida ao desperdiçar do tempo com essa tarefa estéril.
Quando as cortinas estiverem lavadas e a mesa posta, trago os explosivos, acendo na base da estrutura e saio, nua, rumo ao dia de amanhã.
Lindo, isso... amei o texto.
Bjs, Macarrão
E que uma boa base impede um desmoronamento, mas que a implosão da estrutura inteira, às vezes, é a coisa mais sábia a se fazer em determinados momentos.
Que coisa mais fantástica, esse poema me alucina e cria dentro de mim coragem de me arremessar na vida, e viver tudo que tranquei dentro de mim!
Descobertas... fabuloso, palavra por palavra me encanta, me sinto empática, é isso que eu quero e por isso devoro cada sílaba desse texto.
Parabéns, vc é capaz de inspirar vida e renovar capacidades!
um beijooo!
AMO o seu blog!
Vá no meu orkut, tem uma singela citação do seu poema...
Abraço carinhoso!
http://www.orkut.com.br/Main#AlbumZoom.aspx?uid=1957427657346605080&pid=1238278546157&aid=1200921684$pid=1238278546157
E a gente fica se descobrindo, e se ensaiando, se explorando... Algumas vezes é preciso do outro para isso, outras não. No final das contas, o importante mesmo é não deixar de tentar viver, ou de viver, de vir e ver...
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A poesia acontece quando as palavras se abraçam...